segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Nótulas sobre a degenerescência

João Pinto Bastos

1) Sócrates recebe, após dois anos de internato luxurioso em Paris, a atenção da mendicância mediática, disposta, mais uma vez, a entregar o poder e as luzes da ribalta a quem mais ludibria e descarrila a sanidade mental dos portugueses.

2) O Professor Marcelo, num assomo de bem-aventurança televisiva, anuncia que necessita urgentemente da nossa atenção. Ao Professor Karamba do comentário televisivo já não basta regurgitar as platitudes do costume. O que importa, agora e de futuro, é situar os dichotes semanais numa espécie de preparação da candidatura presidencial que ainda não se sabe bem se será ou não será. Como sempre, o que move este maître à penser da mesquinhice "lesboeta" é o eterno "pensem em mim".

3) A selvajaria social vê-se, por exemplo, no modo como certos indivíduos acoimam a vida alheia. Respeito pela intimidade privada? bahhh, isso não interessa para nada. Que graça teriam as redes sociais, os tweets instantâneos, e os motejos feicebuquianos sem uma pitada de boato e comentário sobre os amores e desamores dos Carrilhos deste mundo e do outro? Bem vêem que a piada seria nula. O que realmente interessa aos viandantes da infâmia é falar de tudo e de todos, de preferência manchando e classificando, de imediato e sem direito a contraditório, os acusados na praça pública. Há quem se reveja nesta barbaridade nojenta, que alguns, leviana e parvamente, qualificam de sociedade da informação, ou, num acesso mais demótico, de opinião pública. Eu, que sempre suspeitei das boutades das massas ignaras e violentas, traduzo estas ondas da opinião infamante como o exemplo mais acabado da grosseria impante que domina as sociedades contemporâneas. O preço a pagar pelo instintualismo do boato tenderá, inelutavelmente, a ser cada vez mais elevado.
 
4) Freitas do Amaral é uma personalidade engraçada. Palavra de honra que é. Olhemos para as doutas palavras do ex-ministro dos governos AD e do governo Sócrates ditas, ontem, em declarações à agência Lusa: "é altura de dizer basta e de fazer este governo recuar, porque a continuar por este caminho, qualquer dia temos aí uma ditadura". Reparem na última palavrinha destas declarações: ditadura. Estamos a falar de um indivíduo que serviu, incólume e denodadamente, um regime autoritário, sem que, ao que se sabe, tenha, durante o transcurso desses anos, expresso o menor ressentimento para com o carácter do sistema político que apoiou de um modo tão diligente. Não vem ao caso a opinião que cada um de nós possa ter sobre o Estado Novo, mas o certo é que este senhor, uma eminência parda de todos os regimes e de todas as horas, fala, fala e fala, esquecendo o que fez, o que disse e o que bradou num passado não muito longínquo. A coluna vertebral é, de feito, um adereço muito moldável, sobretudo quando toca no nervo das ambições desmesuradas. Quanto a isto não há nada a fazer.
Título e Texto: João Pinto Bastos, Estado Sentido, 28-10-2013

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