O deserto que atravessei /
Ninguém me viu passar / Estranha e só / Nem pude ver que o céu é maior / Tentei
dizer / Mas vi você / Tão longe de chegar / Mais perto de algum lugar / É
deserto onde eu te encontrei / Você me viu passar / Correndo só / Nem pude ver
que o tempo é maior / Olhei pra mim / Me vi assim / Tão perto de chegar / Onde
você não está / No silêncio uma catedral / Um templo em mim / Onde eu possa ser
imortal / Mas vai existir / Eu sei, vai ter que existir / Vai resistir nosso
lugar / Solidão, quem pode evitar? / Te encontro enfim / Meu coração é secular
/ Sonha e desagua dentro de mim / Amanhã, devagar / Me diz como voltar / Se eu
disser que foi por amor / Não vou mentir pra mim / Se eu disser deixa pra
depois / Não foi sempre assim.
A letra acima, da música
Catedral, uma composição de Tanita Tikaran com versão e interpretação de Zélia
Duncan, é uma das que, apesar de juntamente com a cantora tê-la cantado
centenas de vezes quando era tocada em uma rádio, CD ou em MP3, me fez perceber
que só agora, na maturidade, consigo ouvir músicas que antes só havia escutado.
Quantas vezes me senti só, em
um deserto, mesmo que entre milhares ou estranho mesmo que entre conhecidos,
como diz a música. É um sentimento que atualmente afeta milhões de pessoas que
apesar de tecnologicamente próximas de qualquer pessoa do planeta, ao mesmo
tempo estão sós, diante de uma máquina que naquele momento as conecta ao mundo
através da internet.
Quando conhecemos uma pessoa
no mundo virtual, é fácil perceber que aquele alguém está muito longe dali e
mais perto de outro lugar. Que há uma distância enorme entre nós e o que vemos
perto, mas lá não está.
Essa poderia ser uma das
interpretações dadas ao que o autor pretendia dizer, mas claro, cada um
interpreta a letra de uma música ou de um texto de acordo com sua ótica, sua
realidade, sua história de vida.
Porém, independentemente das
possibilidades de interpretações, o importante não é escutarmos as músicas ou
lermos os textos, mas ouvi-los e entende-los, para podermos tirar o maior
proveito possível do ensinamento ali disponibilizado.
Os detalhes dos arranjos e
principalmente as mensagens das letras, nunca foram por mim ouvidos e
entendidos como atualmente. Gostava do ritmo de músicas que escutava, e logo
imaginava se eram boas para dançar, refletir, namorar, trocar carinhos ou
tantas outras ocasiões, mas não as ouvia verdadeiramente. Repetia
exaustivamente o refrão de uma música sem nunca pensar no que dizia.
Entretanto, durante a vida
aprendemos a interpretar melhor não só as letras das músicas e dos textos. Os
livros lidos no passado passam a ter outro significado quando agora revistos.
As poesias emocionam mais e as letras das músicas tocam mais profundamente.
Passamos a perceber com maior
clareza o que nos é dito ou transmitido através das palavras, atitudes ou mesmo
de expressões corporais, e como pequenos detalhes nas comunicações aproxima ou
afasta pessoas. Tudo isso nos mostra coisas que antes víamos, mas não
enxergávamos.
Aprendemos que, analisando
variáveis como condições, local e contexto em que atitudes foram tomadas ou
palavras ditas, seria possível entender de forma mais abrangente o que uma
pessoa realmente fez ou pretendeu dizer.
A interpretação de hoje certamente não será a mesma de amanhã e o que
ontem não podia ser feito, no futuro certamente poderá.
Título, Imagem e Texto: João Bosco Leal, 08-11-2013
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