A presidente Dilma Rousseff
continua realizando mágicas em sua conta do Twitter. Em suas mensagens a
economia brasileira vai muito bem, a inflação está na meta e as contas públicas
estão em ordem. Nenhum problema é reconhecido, apesar da evidente piora das
finanças federais, do baixo ritmo de crescimento, das avaliações negativas do
mercado, do risco de rebaixamento na classificação de risco e da recente
advertência de um de seus conselheiros informais, o ex-ministro Antonio Delfim
Netto: sem uma clara promessa de melhora fiscal em 2014, o governo poderá ser
forçado a enfrentar uma tempestade perfeita - um desastre causado pela rara
confluência de vários fatores negativos. Um desses fatores, é fácil de
imaginar, poderá ser um aperto no mercado financeiro ocasionado pela esperada
mudança da política monetária americana.
Mas a presidente continua a
mostrar-se muito mais preocupada com a campanha para a reeleição do que com a
saúde econômica e financeira do Brasil. Suas mensagens tuitadas ontem são mais
uma prova disso. Não são dirigidas a pessoas informadas sobre economia,
tomadoras de decisões nos negócios e capazes de influenciar a formação de
opiniões. Nenhuma dessas pessoas seria convencida pela retórica presidencial.
A mensagem só pode ter sido
destinada, portanto, a um público potencialmente influenciável ou o esforço
seria inútil. O objetivo desse tipo de comunicação é, obviamente, eleitoral,
pouco importando a opinião de quem pode, por exemplo, recomendar a redução da
nota brasileira por uma agência de análise de risco soberano.
"Somos um dos poucos
grandes países a apresentar superávit primário", escreveu a presidente.
Faltou acrescentar alguns detalhes. Nenhum outro governo, de país grande, médio
ou pequeno, tem sido acusado - e com razão - de usar truques contábeis e
recorrer a receitas extraordinárias para conseguir um resultado próximo da meta
fiscal. A contabilidade criativa do governo brasileiro é hoje conhecida e
citada internacionalmente. Segundo ponto: em outros países, mesmo aqueles mais
atingidos pela crise financeira de 2008, as contas públicas estão melhorando.
No Brasil, a deterioração é indisfarçável, apesar dos esforços da equipe
governamental. Terceiro detalhe: a maior parte dos demais emergentes tem
posição fiscal mais sólida que a brasileira.
Também segundo a presidente,
pelo décimo ano consecutivo a inflação será mantida abaixo da meta de 6,5%
anuais. Essa é mais uma fantasia recorrente nas manifestações presidenciais. A
meta em vigor a partir de 2005 é de 4,5%, como está indicado nos documentos do
Banco Central (BC). Qualquer número acima desse ponto está fora do objetivo. A
taxa de 6,5% é o limite da margem de tolerância, destinada a acomodar desvios
dificilmente evitáveis. Pequenos desvios são em geral atribuíveis a acidentes
sem muita importância.
Grandes diferenças, no
entanto, são justificáveis somente em condições extraordinárias. Em alguns
casos, a tentativa de neutralizar os efeitos de eventos excepcionais pode
resultar em custos econômicos desproporcionais.
Nenhuma situação desse tipo
ocorreu nos últimos quatro anos. Se tivesse ocorrido, outros emergentes teriam
sido incapazes de combinar crescimento bem maior que o do Brasil com inflação
bem menor, como sabem as pessoas razoavelmente informadas, mas a presidente
insiste no discurso fantasioso. Os desinformados talvez se deixem enganar.
"O Brasil tem uma
economia sólida e por isso tem recebido investimentos externos vultuosos (sic),
como comprova o leilão de Libra", acrescentou a presidente. Detalhe
esquecido: faltou concorrência. Só duas grandes empresas ocidentais, ao lado de
duas estatais chinesas, se apresentaram para participar do consórcio vencedor.
De modo geral, as demais licitações do setor de infraestrutura tiveram pouco
sucesso, até agora, e o governo tem sido forçado a reformular e reprogramar as
ofertas.
De fato, as oportunidades no
Brasil são muitas - e seriam mais atrativas com uma política econômica mais
competente e mais digna de confiança.
Título e Texto: Editorial, O Estado de S. Paulo, 19-11-2013
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