sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Congratulations, Irlanda...


Tavares Moreira
1. Tudo parece indicar que a Irlanda passou o último teste (avaliação) do Programa de Assistência Financeira negociado com o FMI e a UE, recebendo luz verde para uma conclusão bem-sucedida desse Programa, a 15 de Dezembro próximo.

2. Há muito que os mercados vinham antecipando este desfecho, que se percebia através da evolução da taxa de juro implícita na cotação das obrigações da dívida pública irlandesa ao prazo de 10 anos (yield), que nos últimos tempos tem andado em torno de 3,5%, claramente abaixo (mais de 50 bps) das yields da dívida espanhola e italiana para o mesmo prazo...e muitíssimo abaixo da yield da dívida portuguesa, agora nos 5,80%...

3. Resta saber se a Irlanda irá solicitar ao FMI e à UE (como parece) uma linha de financiamento cautelar (back-up) a fim de assegurar transição pacífica para uma situação em que contará apenas com o mercado para se financiar. Mas isso será quase um detalhe, um tipo de tranquilizante para os mercados, uma vez que uma yield de 3,5% nos 10 anos é por si suficiente, em princípio, para garantir condições de financiamento normais.

4. Este muito provável sucesso do Programa de Assistência da Irlanda constitui um sério contratempo para os adversários das políticas ditas “neo-liberais”: para estes incansáveis apóstolos de um Estado tão extenso, tão gordo e tão social quanto possível, como condição para a felicidade perfeita, o sucesso deste Programa constitui uma heresia insuportável...

5. ... devendo como tal ser rapidamente apagado dos títulos noticiosos – ou tampouco ser mencionado – não vá existir o risco de a heresia vir a espalhar-se para outras geografias mais para ocidente ou para sudeste... mas nesse capítulo os nossos “media” não deixarão por certo de cumprir o seu papel, o silêncio estará assegurado...

6. Já imaginaram a desgraça que seria o Programa de Assistência (PAEF) de Portugal ter sucesso como o da Irlanda? Isso seria um suplício para estes abnegados lutadores pela gordura do Estado, uma cedência ignominiosa às políticas “neo-liberais”... antes a morte que tal sorte, diria o sempre bem-humorado Prof. Miguel Beleza...

7. Assim sendo, está na hora de todos os lutadores do bom combate anti-“neo-liberal” – Crescimentistas “soft” e “hard”, radicais bloquistas e de outras famílias, “que se lixe a Troika” e outros valorosos combatentes – cerrarem fileiras para impedir por todos os meios que tal infausto evento possa concretizar-se...

8. Neste momento todas as esperanças se concentram no TC, que deverá vir a ter nas mãos a possibilidade de salvar o essencial desta nobre cruzada sócio-política. Esperemos pois que o TC se mostre à altura dos acontecimentos e não frustre as expectativas de tão cintilantes combates...

9. Entretanto, permitam-me que diga, sem com isto significar qualquer cedência ao credo “neo-liberal”: congratulations, Irlanda.
Título e Texto: Tavares Moreira, “4R – Quarta República”, 08-11-2013

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