sábado, 30 de novembro de 2013

Jefferson, ao menos, não usa a doença para fazer baixa política. Ou: De bandidos e heróis

Reinaldo Azevedo

É evidente que o estado de saúde de Roberto Jefferson inspira cuidados. Não se trata de fazer uma competição com José Genoino para saber quem está mais doente. São males distintos. Essas questões demandam respostas de natureza técnica — são as únicas aceitáveis na esfera da Justiça. Juízes precisam ter parâmetros. Se estamos falando da saúde dos presos, então a voz abalizada é a dos médicos. Por mim, já escrevi aqui, os dois cumpririam prisão domiciliar. Mas eu não sou o juiz de execuções penais; eu posso fazer escolhas — no caso, meramente hipotéticas — sem repercussão nenhuma.

Cumpre destacar, e não tenho simpatia nenhuma por suas escolhas ao longo de sua trajetória política, que Jefferson, no que concerne à saúde, tem um comportamento muito mais digno do que Genoino. Até agora, que eu tenha percebido ao menos, não espetaculariza a própria doença; não a transforma em causa política ou fator de mobilização de simpatizantes. Basta olhar para ele para saber que o tratamento impõe sofrimento e desconforto. As coisas falam por si.

Sem entrar no mérito das motivações — penso apenas nas consequências —, acho que ele deveria ter sido merecedor de alguma compensação da Justiça. Prestou, à sua maneira, um serviço para o Brasil. E não teve, como se nota, nenhum benefício por isso; tampouco continuou a lucrar com as práticas que o levaram à condenação. Por que escrevo isso?

Não acho que o Brasil deva abrir mão do estatuto da delação premiada, mas acho que é preciso pensar essa questão com calma. Como merece reflexão o tal “acordo de leniência” que a Siemens, por exemplo, assinou com o Cade. Se a empresa admite ter participado de cartel, sabendo que transgredia a lei — e nem entro aqui no mérito do alcance da contaminação da prática criminosa na estrutura de governo (que se apure) —, parece-me um excesso de facilidade que o principal beneficiário de um crime passe à condição de denunciante, mas preservando o status que lhe propiciou praticar o delito. É preciso que acordos de leniência e delações premiadas não se transformem num refúgio de canalhas que têm tal disposição para a delinquência que, quando criminosos, traem o povo; quando supostamente virtuosos, traem até seus próprios parceiros.

Jefferson sabia que também estava confessando um crime quando botou a boca no trombone. É advogado e nunca foi idiota. Mas volto ao ponto. Na saúde, ele e Genoino fizeram o que fizeram. Na doença, ele se comporta, com dignidade. Sabe que nem o STF nem Joaquim Barbosa são culpados pelo mal que o aflige. Não é o caso de Genoino e de seus amigos.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 30-11-2013

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