segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Na poeira da Perimetral, "síndico" Paes sepultou escolas e hospitais


Paulo Ricardo Paúl
Eu moro há quase trinta anos no mesmo prédio situado na Zona Norte do Rio de Janeiro. São cento e vinte e dois apartamentos. Cerca de quinhentos moradores.
Ao longo dos anos cumpri os meus deveres de condômino, entre eles o dever de exercer funções na administração, sendo síndico e membro do Conselho Consultivo e Fiscal (CCF), por mais de uma vez. Sim, considero um dever de todo condômino dar a sua cota de sacrifício e exercer tais funções, sair da zona de conforto de estar sempre na posição de quem só cobra dos síndicos e conselheiros. Funções que quando exercidas com dignidade, causam extremo desgaste físico e emocional.
As experiências foram gratificantes, apesar dos problemas.

A vida em um condomínio, uma cidade em miniatura, nos permite entender as dificuldades que muitos brasileiros possuem para internalizar que no condomínio, excluídas as áreas privadas, as unidades (apartamentos ou casas), o restante, o que recebe a denominação de "área comum" é de todos, o que não pode ser confundido como sendo do condômino, um lugar onde pode fazer o que quiser.

É comum o condômino reclamar que pode fazer uso da área comum (salão de festas, play, piscina, quadra, corredores, elevadores, etc) ao seu bel-prazer, pois ele é dono de tudo.
Não. Ele não é o único dono.
A área comum é de todos, portanto, seu uso deve ser regido conforme ditames da convenção e do regimento interno, pois ninguém é dono desses espaços isoladamente, todos são donos. São bens comuns.
Pode parecer confuso, mas é simples.

Você pinta as paredes internas do seu apartamento com a cor que quiser, mas não pode pintar a parede do corredor contígua ao seu apartamento com a cor que escolher, ela não é sua, ela é de todos, deve ser pintada com a cor escolhida na assembleia que tratou do tema.

Qual a relação que existe entre a Perimetral, as escolas, os hospitais e a vida em condomínio?
No condomínio aprendemos que existe o dinheiro de todos, dinheiro que embora seja fruto da contribuição de cada condômino, não pertence a qualquer condomínio, ao síndico, ao subsíndico ou ao CCF.

O seu uso deve obedecer regras, ser usado obedecendo prioridades e ser feito em conformidade com o interesse e com a decisão dos condôminos. O síndico tem alguma liberdade em casos emergenciais, cabe registrar, mas mesmo assim com limitações de valores, como determinam as convenções, via de regra.
O dinheiro de todos os condôminos é o similar ao dinheiro público, o dinheiro de todos nós, cidadãos que contribuímos para formação do caixa, por assim dizer.

No Brasil, assim como em muitos condomínios, parcela significativa acredita que o dinheiro de todos não tem dono, assim pode ser gasto à vontade do seu detentor ou gestor.
Isso é um completo absurdo, o dinheiro público tem dono, ele é de todos nós, não pode ser usado em desacordo com as regras (legislação) e sem atender às nossas prioridades.

Neste contexto, uma excelente qualidade, a que caracteriza o bom gestor, é saber escolher as prioridades, para que o uso do dinheiro de todos seja feito da melhor forma possível.
O bom síndico ele não tem dúvidas sobre priorizar entre reparar as tubulações de água e esgoto ou embelezar o salão de festas.

Saindo do condomínio e entrando no município.
O Rio de Janeiro pode obter muito mais receita do que consegue através do turismo? Sim.
Nesta direção revitalizar a região do Porto do Rio de Janeiro é uma boa ideia? Sim.
Os velhos, abandonados e maltratados armazéns precisam ser transformados em algo útil? Sim.
A Perimetral era feia? Sim.
Ela escondia a visão do mar? Sim.
O trânsito na região era caótico? Sim.
Portanto, eliminar a Perimetral e modernizar a região era uma decisão política correta? Sim.
Apesar de todos esses aspectos, a decisão não era oportuna.

Revitalizar a Região Portuária não era e continua não sendo a prioridade do município do Rio de Janeiro, onde escolas e hospitais públicos são deficitários, citando dois exemplos que deveriam estar no topo das prioridades do Prefeito Eduardo Paes, assim como, a valorização dos servidores públicos.
No atual momento, gastar um centavo de dinheiro público, o dinheiro de todos nós, na modernização pretendida é um descalabro administrativo. Algo inimaginável em um país onde os órgãos de controle dos gastos do dinheiro público funcionassem com um mínimo de seriedade.

Ao implodir a Perimetral, Eduardo Paes ocultou na poeira os problemas das escolas e dos hospitais públicos. E, quando a poeira assentou, ele sepultou essas prioridades.
O síndico deve obedecer prioridades, como explicamos.
Eduardo Paes está embelezando o salão de festas do condomínio, enquanto a água é o esgoto vazam por todos os lados.
Quem entrar no condomínio de Eduardo Paes pelo Salão de Festas vai achar tudo maravilhoso, uma beleza só, quem entrar pela garagem se afoga em água e fezes.
Os moradores de Niterói também estão muito satisfeitos com o "Síndico do Rio".
Eis a verdade.
Juntos Somos Fortes!
Título e Texto: Paulo Ricardo Paúl, no seu blogue, 25-11-2013

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