A Argentina vem se transformando celeremente num importante mercado
oriundo da produção e consumo de drogas ilegais, com grupos mafiosos que se
digladiam em batalhas sangrentas pelo controle de território e que prosperam
com a conivência de policiais, de juízes e de políticos.
Francisco Vianna
Atentados são perpetrados até
contra governadores de estados, como o ocorrido contra o governador da
província de Santa Fe, Antonio Bonfatti, que teve sua casa atingida por vários
disparos de armas de fogo de grosso calibre e apenas a sorte fez com que uma
tragédia maior envolvendo sua esposa tivesse acontecido.
Em São Paulo, o governador
Geraldo Alkmin também, por pelo menos duas vezes, já foi ameaçado de morte
explicitamente pela "tropa de choque" dos "black blocs"
pagos pelo lulopetismo com dinheiro do contribuinte. Tanto aqui como nas plagas
argentinas, o avanço da criminalidade – privada e estatal – atinge graus
impensáveis ameaçando tornar os dois maiores países da América do Sul em
estados narcotraficantes por ação da esquerda no poder.
A cidadania argentina, como a
brasileira, de qualidade muito baixa em termos de educação e ensino, parece não
ter muita consciência da perigosa extensão desses fatos que são já considerados
de rotina pelos noticiários da TV sem que os governos assumam a
responsabilidade de por cobro a tal situação e, até pelo contrário, por parecer
que há um estímulo de caráter doutrinário de esquerda em desestabilizar um
regime que ainda é apelidado de democracia através da ação cada vez mais
intensa e impune de criminosos tanto na esfera governamental como no seio da
população.
Argentina e Brasil têm um
histórico comum de sempre ter servido de rota de passagem das drogas ilegais
desde as fontes produtoras, como Colômbia e Bolívia, com destinos principais para
a Europa e os Estados Unidos. Os argentinos têm muito menos fronteiras abertas
com esses centros produtores, mas ainda recebe muito material entorpecente da
Bolívia, onde o próprio presidente da república, o índio aimará Evo Morales é
um defensor desse comércio espúrio.
Como os argentinos, com seu
antiamericanismo neoperonista e fascista da dinastia Kirchner, eliminaram
qualquer colaboração antinarcótica estadunidense, a dinâmica das transações com
drogas, do seu pagamento até a uma espécie de liberalização que existe na
prática, se tornou mais intensa e facilitada pela falta de políticas efetivas
governamentais da Casa Rosada contra essa "indústria só aparentemente
ilegal".
Sua ampliação crescente conta
com a cumplicidade passiva e venalidade de autoridades governamentais, tais
como funcionários, juízes, policiais e comunicadores. Tudo isso tem
transformado a Argentina num importante centro narcotraficante com o consumo de
drogas aumentando exponencialmente, e assim deixando de ser apenas uma rota de
passagem.
Para que isso ocorra,
obviamente, foi preciso aumentar sobre o país portenho uma crescente ingerência
externa regional dos países que tornaram o negócio ilegal, na prática, em
políticas de governo, como é o caso da Venezuela, por exemplo.
Pelos números da ONU, na
última década, a Argentina duplicou o consumo interno de maconha e de cocaína,
a níveis de uso parecidos com os de mercados antigos como os EUA e a Europa.
Com os cartéis de produtores
da Bolívia, Peru e Colômbia tendo que pagar aos intermediários em
"espécie" para sair pelo Pacífico, a lógica desses mercadores do
inferno foi a de buscar a exportação negra desse material maldito pelo
Atlântico e para isso precisavam criar mecanismos competitivos no Brasil e na
Argentina.
Hoje se sabe que o dinheiro
envolvido do narcotráfico para comprar a colaboração dos governos dos dois
maiores países da América do Sul envolve cifras astronômicas e que financiam de
modo decisivo campanhas eleitorais nesses países.
Com isso, a luta pelo controle
territorial de distribuição e venda se tornou particularmente agressivo e é
responsável pelo grosso da quantidade recorde de homicídios em ambos os países.
O processo é relativamente
novo na Argentina, tendo se iniciado há cerca de uma década, com a implantação
de tal "know-how" sinistro proveniente do "grande vizinho do
norte"... Isso tem solapado, pela corrupção, as forças policiais, a
Justiça e a política argentina, como há três décadas sói acontecer no Brasil.
As províncias (estados) de Santa Fé e Córdoba são, por enquanto, as mais
afetadas, com a de Rosário em franca deterioração, todas com índices de
homicídio superiores ao de Medelim, na Colômbia, ou de São Paulo, no Brasil.
Também a Argentina passou a
ser o país onde se produz a última etapa da produção de cocaína. Onde antes se
exportava as substâncias químicas para essa etapa, há cerca de uma década, a
pasta base passou a entrar no país e a ser processada para o consumo de
usuários locais e no exterior. O país passou a ser o que mais desativa
laboratórios e cozinhas clandestinas fora dos territórios dos três grandes
produtores de coca citados, inclusive mais do que a Venezuela, de acordo com os
números da UNDOC (sigla em inglês do Escritório da ONU para o Controle das
Drogas).
Recentemente, a polícia
portenha desbaratou uma quadrilha que fazia funcionar uma rede de quatro
grandes laboratórios de refino de cocaína e crack que funcionava a poucas
quadras da Casa Rosada no centro de Buenos Aires. Evidente que tal "indústria"
só funcionava com a cumplicidade dos agentes governamentais.
Nesses locais, a produção do
forte e destrutivo "paco", o nosso conhecido "crack",
abastece a juventude consumidora e a mantém como escrava da
"indústria" para matar competidores e distribuir a droga, o que é
feito a custa da prostituição e da defesa dos seus chefes e senhores. A
altíssima dependência química transforma esses "soldadinhos do
tráfico" no mais baixo escalão da cadeia de produção da indústria
subterrânea do narcotráfico e amplamente descartáveis e substituíveis.
A visita frequente de
conhecidos chefões do narcotráfico me Buenos Aires, especialmente em Puerto
Madero, é mais do que um indício do crescimento na Argentina dessa desgraça. Os
mexicanos também começam a frequentar a área. Não seria difícil o regime de
Cristina prendê-los a todos ou mesmo eliminá-los, mas o trânsito livre que
desfrutam por lá é a prova mais do que eloquente e cabal da cumplicidade
governamental com a atividade criminosa.
Sim, nada disso seria possível
sem a conivência política das autoridades e dos políticos que fazem olhos
fechados e ouvidos moucos à ação dos traficantes.
Os chefões dos cartéis
internacionais estão a operar suas transações sujas locais e internacionais a
partir da Argentina por pura debilidade e pusilanimidade intrínseca e paga do
estado, que permitiu – e talvez até tenha estimulado – que se instalassem no
país.
Assim como o Brasil, a
Argentina continua sendo um país onde é muito fácil se penetrar pelo espaço
aéreo, onde, em mais de 90% de sua extensão não existe radar ou qualquer outro
meio de identificação e interceptação de aeronaves, com fronteiras totalmente
permeáveis em rios e portos sem controle e aeroportos de onde entram e saem
rotineiramente importantes quantidades de drogas.
Neste contexto, a Argentina
tem seus efetivos policiais empregados no conforto das grandes cidades ao invés
das fronteiras, exercendo funções de polícia comunitária para as quais não
estão treinados e com toda uma série de inconvenientes logísticos e
operacionais.
Tal descaso com o sistema de
segurança interna faz com que hoje as Forças Armadas do país estejam a
patrulhar e a cumprir funções de segurança de fronteira, em flagrante violação
à lei de segurança interna e de defesa nacional.
Com isso, os narcotraficantes
podem agir impunemente e garantir o crescente nível de consumo local a custa do
aumento contínuo da violência decorrente da luta entre as gangues por uma
hegemonia de área que surge em função da circulação facilitada das drogas.
E o que fazem as autoridades
diante dessas evidências nuas e cruas? Nada, além de negar a realidade dos
fatos, seja por ocultar os números estatísticos do crime (as estatísticas mais
atualizadas são de 2009), ou falando em "sensação de insegurança"
como forma de relativizá-la, ou, mais recentemente, com atos populistas e
midiáticos que não seguem qualquer lógica estratégica nem uma sequência de
medidas inteligentes por parte das políticas do estado argentino.
Muitas pessoas estão dizendo
que está na hora de dar um basta a todo esse absurdo, de reagir decisiva e
inteligentemente à impunidade e à conivência do governo com essas máfias dentro
do país. No Brasil, também, não faltam vozes a gritar pelo mesmo anseio.
Mas, ao que parecem, os
argentinos vão ter que esperar mais dois anos para tentar, pela via das urnas,
mudar essa triste realidade. E Isso no caso de sua pobre cidadania,
despolitizada e mal escolarizada, perceber a importância de fazê-lo, pois, como
dizem, as fraldas e os políticos devem sempre ser trocados e sempre pelos
mesmos motivos...
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 06-11-2013
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