quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência

A Argentina vem se transformando celeremente num importante mercado oriundo da produção e consumo de drogas ilegais, com grupos mafiosos que se digladiam em batalhas sangrentas pelo controle de território e que prosperam com a conivência de policiais, de juízes e de políticos.
Francisco Vianna

Cenário parecido com esse da “Cracolândia” de São Paulo começa a se multiplicar nas principais cidades argentinas. Os usuários em toda a Argentina já são calculados em mais de 150 mil. Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Atentados são perpetrados até contra governadores de estados, como o ocorrido contra o governador da província de Santa Fe, Antonio Bonfatti, que teve sua casa atingida por vários disparos de armas de fogo de grosso calibre e apenas a sorte fez com que uma tragédia maior envolvendo sua esposa tivesse acontecido.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alkmin também, por pelo menos duas vezes, já foi ameaçado de morte explicitamente pela "tropa de choque" dos "black blocs" pagos pelo lulopetismo com dinheiro do contribuinte. Tanto aqui como nas plagas argentinas, o avanço da criminalidade – privada e estatal – atinge graus impensáveis ameaçando tornar os dois maiores países da América do Sul em estados narcotraficantes por ação da esquerda no poder.

A cidadania argentina, como a brasileira, de qualidade muito baixa em termos de educação e ensino, parece não ter muita consciência da perigosa extensão desses fatos que são já considerados de rotina pelos noticiários da TV sem que os governos assumam a responsabilidade de por cobro a tal situação e, até pelo contrário, por parecer que há um estímulo de caráter doutrinário de esquerda em desestabilizar um regime que ainda é apelidado de democracia através da ação cada vez mais intensa e impune de criminosos tanto na esfera governamental como no seio da população.

Argentina e Brasil têm um histórico comum de sempre ter servido de rota de passagem das drogas ilegais desde as fontes produtoras, como Colômbia e Bolívia, com destinos principais para a Europa e os Estados Unidos. Os argentinos têm muito menos fronteiras abertas com esses centros produtores, mas ainda recebe muito material entorpecente da Bolívia, onde o próprio presidente da república, o índio aimará Evo Morales é um defensor desse comércio espúrio.

Como os argentinos, com seu antiamericanismo neoperonista e fascista da dinastia Kirchner, eliminaram qualquer colaboração antinarcótica estadunidense, a dinâmica das transações com drogas, do seu pagamento até a uma espécie de liberalização que existe na prática, se tornou mais intensa e facilitada pela falta de políticas efetivas governamentais da Casa Rosada contra essa "indústria só aparentemente ilegal".

Sua ampliação crescente conta com a cumplicidade passiva e venalidade de autoridades governamentais, tais como funcionários, juízes, policiais e comunicadores. Tudo isso tem transformado a Argentina num importante centro narcotraficante com o consumo de drogas aumentando exponencialmente, e assim deixando de ser apenas uma rota de passagem.

Para que isso ocorra, obviamente, foi preciso aumentar sobre o país portenho uma crescente ingerência externa regional dos países que tornaram o negócio ilegal, na prática, em políticas de governo, como é o caso da Venezuela, por exemplo.

Pelos números da ONU, na última década, a Argentina duplicou o consumo interno de maconha e de cocaína, a níveis de uso parecidos com os de mercados antigos como os EUA e a Europa.

Com os cartéis de produtores da Bolívia, Peru e Colômbia tendo que pagar aos intermediários em "espécie" para sair pelo Pacífico, a lógica desses mercadores do inferno foi a de buscar a exportação negra desse material maldito pelo Atlântico e para isso precisavam criar mecanismos competitivos no Brasil e na Argentina.

Hoje se sabe que o dinheiro envolvido do narcotráfico para comprar a colaboração dos governos dos dois maiores países da América do Sul envolve cifras astronômicas e que financiam de modo decisivo campanhas eleitorais nesses países.

Com isso, a luta pelo controle territorial de distribuição e venda se tornou particularmente agressivo e é responsável pelo grosso da quantidade recorde de homicídios em ambos os países.

O processo é relativamente novo na Argentina, tendo se iniciado há cerca de uma década, com a implantação de tal "know-how" sinistro proveniente do "grande vizinho do norte"... Isso tem solapado, pela corrupção, as forças policiais, a Justiça e a política argentina, como há três décadas sói acontecer no Brasil. As províncias (estados) de Santa Fé e Córdoba são, por enquanto, as mais afetadas, com a de Rosário em franca deterioração, todas com índices de homicídio superiores ao de Medelim, na Colômbia, ou de São Paulo, no Brasil.

Também a Argentina passou a ser o país onde se produz a última etapa da produção de cocaína. Onde antes se exportava as substâncias químicas para essa etapa, há cerca de uma década, a pasta base passou a entrar no país e a ser processada para o consumo de usuários locais e no exterior. O país passou a ser o que mais desativa laboratórios e cozinhas clandestinas fora dos territórios dos três grandes produtores de coca citados, inclusive mais do que a Venezuela, de acordo com os números da UNDOC (sigla em inglês do Escritório da ONU para o Controle das Drogas).

Recentemente, a polícia portenha desbaratou uma quadrilha que fazia funcionar uma rede de quatro grandes laboratórios de refino de cocaína e crack que funcionava a poucas quadras da Casa Rosada no centro de Buenos Aires. Evidente que tal "indústria" só funcionava com a cumplicidade dos agentes governamentais.

Nesses locais, a produção do forte e destrutivo "paco", o nosso conhecido "crack", abastece a juventude consumidora e a mantém como escrava da "indústria" para matar competidores e distribuir a droga, o que é feito a custa da prostituição e da defesa dos seus chefes e senhores. A altíssima dependência química transforma esses "soldadinhos do tráfico" no mais baixo escalão da cadeia de produção da indústria subterrânea do narcotráfico e amplamente descartáveis e substituíveis.

A visita frequente de conhecidos chefões do narcotráfico me Buenos Aires, especialmente em Puerto Madero, é mais do que um indício do crescimento na Argentina dessa desgraça. Os mexicanos também começam a frequentar a área. Não seria difícil o regime de Cristina prendê-los a todos ou mesmo eliminá-los, mas o trânsito livre que desfrutam por lá é a prova mais do que eloquente e cabal da cumplicidade governamental com a atividade criminosa.

Sim, nada disso seria possível sem a conivência política das autoridades e dos políticos que fazem olhos fechados e ouvidos moucos à ação dos traficantes. 

Os chefões dos cartéis internacionais estão a operar suas transações sujas locais e internacionais a partir da Argentina por pura debilidade e pusilanimidade intrínseca e paga do estado, que permitiu – e talvez até tenha estimulado – que se instalassem no país.

Assim como o Brasil, a Argentina continua sendo um país onde é muito fácil se penetrar pelo espaço aéreo, onde, em mais de 90% de sua extensão não existe radar ou qualquer outro meio de identificação e interceptação de aeronaves, com fronteiras totalmente permeáveis em rios e portos sem controle e aeroportos de onde entram e saem rotineiramente importantes quantidades de drogas.

Neste contexto, a Argentina tem seus efetivos policiais empregados no conforto das grandes cidades ao invés das fronteiras, exercendo funções de polícia comunitária para as quais não estão treinados e com toda uma série de inconvenientes logísticos e operacionais.

Tal descaso com o sistema de segurança interna faz com que hoje as Forças Armadas do país estejam a patrulhar e a cumprir funções de segurança de fronteira, em flagrante violação à lei de segurança interna e de defesa nacional.

Com isso, os narcotraficantes podem agir impunemente e garantir o crescente nível de consumo local a custa do aumento contínuo da violência decorrente da luta entre as gangues por uma hegemonia de área que surge em função da circulação facilitada das drogas.

E o que fazem as autoridades diante dessas evidências nuas e cruas? Nada, além de negar a realidade dos fatos, seja por ocultar os números estatísticos do crime (as estatísticas mais atualizadas são de 2009), ou falando em "sensação de insegurança" como forma de relativizá-la, ou, mais recentemente, com atos populistas e midiáticos que não seguem qualquer lógica estratégica nem uma sequência de medidas inteligentes por parte das políticas do estado argentino.

Muitas pessoas estão dizendo que está na hora de dar um basta a todo esse absurdo, de reagir decisiva e inteligentemente à impunidade e à conivência do governo com essas máfias dentro do país. No Brasil, também, não faltam vozes a gritar pelo mesmo anseio.

Mas, ao que parecem, os argentinos vão ter que esperar mais dois anos para tentar, pela via das urnas, mudar essa triste realidade. E Isso no caso de sua pobre cidadania, despolitizada e mal escolarizada, perceber a importância de fazê-lo, pois, como dizem, as fraldas e os políticos devem sempre ser trocados e sempre pelos mesmos motivos...
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 06-11-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-