domingo, 22 de dezembro de 2013

O Natal na Terra do Nunca (antesnessepaís)


José Carlos Bolognese
Foi uma façanha e tanto, e o “foi” aqui é mera especulação, esperança, pois na verdade só se diz de uma coisa que ela “foi”, quando não é mais. Conforme eles planejaram, chegamos – os que ainda vivem – ao oitavo Natal de penúria, sofrimento e exclusão da classe de cidadãos que podem chegar ao fim do ano – e ao fim da vida – e dizer que ao menos podem viver decentemente daquilo que produziram através do trabalho – trabalho de verdade e não a vagabundagem remunerada de muitos portadores de crachás do serviço público, especialmente aqueles que lidaram e ainda lidam com os interesses de trabalhadores e aposentados. Só esperam que passe esse oitavo Natal para nos impor o nono, o décimo e os subsequentes na certeza de que seremos cada vez menos a espernear e reclamar dos abusos praticados contra os nossos direitos.

Mais do que nos últimos sete anos, fartei-me em 2013 de ouvir falar em julgamentos da defasagem tarifária no STF, antecipação de tutela no STJ e um tal “acordo” que estaria sendo costurado para satisfazer as partes e pôr fim à contenda. Não me importo em ser preciso com relação às ações nos tribunais porque, antes de tudo, sei o que o judiciário brasileiro reserva às pessoas sem poder como nós, ex-trabalhadores da Varig: a legitimação dos crimes contra nós e o ônus de provarmos que a culpa não é nossa. Isto se faz pela vergonhosa procrastinação agora praticada pela suprema corte por mais uma vez adiar um julgamento que sequer sabemos se nos traria um desfecho favorável.

Ficar alimentando a ideia de um acordo ao longo de todos esses anos, mas especialmente em 2013 quando tudo parecia se encaminhar, sempre foi para mim uma ideia muito desconfortável na medida em que sempre lembro que não foi para fazer acordo na velhice que eu assinei um contrato de aposentadoria privada quando ainda era jovem e, mais que isto, porque paguei religiosamente a parte que me cabia no contrato – contrato sim e não opção para acordo futuro onde, naturalmente, pela definição de acordo, se conceda ceder a quem lhe roube descaradamente.

Ainda assim, premido pelas circunstâncias eu, não diferente dos demais, espero sim por um acordo, não porque aprendi a viver com menos, mas porque descobri que não posso viver sem nada. Porém, nem mesmo um injusto acordo parece ser o que se pode esperar, consideradas as crônicas mentiras que nos habituamos a ouvir, sejam de elementos da “justiça” ou do executivo. No judiciário, a colocação em pauta do nosso interesse no mesmo dia em que se gastava o nosso imposto com a estúpida discussão do financiamento público de campanhas eleitorais – como se ele já não existisse via horário político na mídia e fosse capaz de erradicar o caixa 2 – fomos mais uma vez “premiados” com o modo claramente desdenhoso que tem sido o padrão quando o assunto é Varig, Aerus, ex-trabalhadores e aposentados sendo exterminados. No executivo, que só se move em função de reeleição e que mostra quem manda quando é para sair falando bobagens…


… como diz Voltaire “A necessidade de dizer algo, a perplexidade de não ter nada a dizer e o desejo de ser engenhoso são as três circunstâncias que até mesmo isoladas são capazes de produzir o orador mais ridículo”…

… e prometendo o que não vai cumprir, quem diz que manda fala, faça!... e quem manda menos diz, não faço!, nós, continuando na mesma, piorando, eles continuando a mentir – no que até são coerentes, pois mentir faz parte de seu modus operandi - e mais um Natal que passa premeditando para o futuro, a dureza de sempre.

Se isto um dia vai mudar, não sei. O pouco que sei, ou melhor, aprendi com toda a imensurável maldade desse desgoverno, é que nós mesmos, sofrendo como sofremos nos últimos anos, não aprendemos a usar as poucas facilidades ainda à disposição. Nunca fomos capazes de criar uma rede verdadeira de manifestações pelo único meio democrático possível nos dias atuais – a Internet e as redes sociais. Alguns dirão… mas... e os repasses e comentários sobre os textos escritos na WEB, Facebook etc.? Se observarem, verão que é um processo muito verticalizado, onde uns poucos dão o tom e os demais seguem repetindo, o que não é ruim em si, mas não basta. Uma rede pressupõe que muito mais gente com um interesse comum, no caso, dolorosamente comum, também reclamem, escrevam, mandem cartas e tirem o conforto auto concedido dos operadores do estado, visto que ninguém os obrigou a ser governo e muito menos os autorizou por causa disto, a causar danos aos cidadãos trabalhadores como nós.

Uma rede entre nós, dez mil e tantos sem contar familiares e amigos, poderia, ao menos, não deixar que o caminho até às eleições de outubro se faça nesse trem de mentiras, entre as quais aquela de que pagar aos ex-trabalhadores da Varig possa ser um risco para a União.

Meu Feliz Natal aos colegas e amigos é mais pelo sentimento sublime evocado em seu espírito e menos função desse estado de coisas que… mesmo assim haverá de passar!
Abraços a todos,
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 22-12-2013

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2 comentários:

  1. Jonathas Filho
    A Justiça não se faz pelo Juiz e sim pelo cumprimento irrestrito da Lei que ele tem de impor. Se ele se desvia ou procrastina tal atitude, se torna cúmplice do erro.

    Jonathas Filho

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  2. Parabéns por mais esse texto coerente e claríssimo.

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