Em meados dos anos 50 (1954)
dois brasileiros, Piratini (Antônio Amábile) e Caco Velho (Matheus Nunes)
criaram uma notável canção: "Mãe preta".
O texto foi proibido em
Portugal.
David Mourão-Ferreira escreveu
outro texto, também bom, que nada tinha que ver com o brasileiro – "Barco
negro".
Amália Rodrigues tornou a música mundialmente famosa. No texto
português a tragédia do pescador tinha substituído a tragédia da exploração e
do racismo.
Mãe preta
(Piratini e Caco Velho)
velha encarquilhada
carapinha branca
gandola de renda
caindo na anca
embalando o berço
do filho do sinhô
que há pouco tempo
a sinhá ganhou
era assim que mãe preta fazia
criava todo branco
com muita alegria
enquanto na senzala
seu bem apanhava
mãe preta mais uma lágrima
enxugava
mãe preta, mãe preta,
mãe preta, mãe preta
enquanto a chibata
batia em seu amor
mãe preta embalava
o filho branco do sinhô
Barco Negro
(David Mourão-Ferreira)
De manhã, que medo, que me
achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada
n'areia
Mas logo os teus olhos
disseram que não,
E o sol penetrou no meu
coração.[Bis]
Vi depois, numa rocha, uma
cruz,
E o teu barco negro dançava na
luz
Vi teu braço acenando, entre
as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que
não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre
comigo.[Bis]
No vento que lança areia nos
vidros;
Na água que canta, no fogo
mortiço;
No calor do leito, nos bancos
vazios;
Dentro do meu peito, estás
sempre comigo.
Fonte: O Castendo
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