sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O que o governo americano pode e deve fazer em relação à Venezuela

Francisco Vianna
Alguns congressistas conservadores estadunidenses estão a instar a Casa Branca e o Pentágono para que imponham sanções econômicas à Venezuela, a começar por uma redução de até 30 por cento das importações de petróleo cru desse país. Uma deputada republicana de Miami, Flórida, Ileana Ros-Lehtinen, pediu por carta a Obama uma redução imediata de 10% nas importações americanas, o que já sinalizaria aos venezuelanos e ao mundo o apoio americano aos oprimidos pelo regime comunista castro-bolivariano do país sul-americano.

Outros congressistas da Flórida engrossaram o coro em favor de um embargo econômico parcial de maior abrangência e sem se restringir apenas às compras de petróleo.

Acontece que os analistas, no entanto, consideram que tais medidas seriam contraproducentes e sugerem outras a serem adotadas pelo governo americano que parecem ser bem mais inteligentes e eficazes.

As sanções, que os políticos conservadores americanos querem que sejam impostas ao regime de Nicolás Maduro, são, segundo eles, pelos assassinatos de mais de uma dezena de estudantes e de outros manifestantes pacíficos, pela recente expulsão da Venezuela de três diplomatas estadunidenses, pela censura de Maduro contra a mídia independente, e pela recente prisão do líder oposicionista Leopoldo López.

É voz corrente entre os que lidam com assuntos latino-americanos em Washington que Obama não pode simplesmente olhar para o outro lado enquanto a Guarda Nacional Bolivariana e bandos paramilitares, protegidos pelo Palácio Miraflores, massacram manifestantes pacíficos nas ruas. Contabilizadas oficialmente, já são pelo menos 16 pessoas mortas pela violência do regime, e centenas de feridos, desde o início de fevereiro.

No entanto, os entendidos continuam dizendo que, por vários motivos, um embargo nas compras estadunidenses de petróleo, mesmo que seja parcial, seria uma má ideia. Primeiro, porque um embargo nessas compras daria ao regime de Maduro um significante argumento de propaganda antiamericana, transformando seu governo naquilo que Chávez antes e agora Maduro vivem a afirmar, ou seja, que "o seu governo é vítima de um complô desestabilizador" por parte de Washington. Maduro repete tanto isso, que ninguém acredita mais nele, uma vez que até agora não conseguiu apontar um fato sequer que prove que isso é verdade.

A estratégia de Maduro é ditada pelos Castros, de Cuba, e consiste em tentar "internacionalizar" o conflito venezuelano, para que se descaracterize por completo como o confronto real entre seu governo e o povo, mas sim que pareça um embate entre um ‘país soberano’ e um ‘império estrangeiro’. Um embargo nas compras de petróleo pelos EUA transformaria uma contenda interna num conflito externo.

Depois, uma redução das importações de petróleo pelos americanos não teria um impacto imediato no regime de Maduro, mesmo porque boa parte das exportações de óleo cru da Venezuela é vendida com meses e até anos de antecipação, pelo chamado "mercado de futuros". Além do mais, a Venezuela poderá sempre vender seu petróleo embargado a outros países, principalmente os que são desafetos dos americanos.

A ideia do embargo do petróleo pelos EUA também não é recomendável porque não seria factível, uma vez que não é a Casa Branca que compra a mercadoria, mas sim as empresas privadas e, impor tal embargo, mesmo parcial, seria um castigo para as gigantes norte-americanas do setor, em particular a Chevron, a que mais investe capital no petróleo venezuelano, e que passariam a correr o risco de serem estatizadas pelo governo de Maduro, como advertem os críticos, entre eles Jorge Piñón, da Universidade do Texas, em Austin.

Por fim, mesmo que as sanções conseguissem piorar ainda mais a arruinada economia venezuelana, elas acabariam por prejudicar bem mais a população do que ao governo. Maduro simplesmente transferiria os custos para os consumidores e acusaria o "império", tal como vem fazendo em Cuba a dinastia dos Castros há cinco décadas.

O que, então, Washington pode e deve fazer em relação à Venezuela? Das duas, uma: ou os americanos desembarcam suas tropas no país e ocupam a Venezuela militarmente, arcando com todo o risco internacional que isso pode acarretar, ou, segundo a quase totalidade dos "latino-americanistas" de Washington, os EUA devem apenas continuar a se manifestar contra a supressão das liberdades democráticas e contra as violações dos direitos humanos no país, conforme rezam as convenções interamericanas e a ONU.

Medidas paralelas devem ser consideradas muito úteis e são motivos do desejo de oposicionistas venezuelanos, tais como a revogação dos vistos de entrada nos EUA de autoridades venezuelanas, de suas famílias, e dos membros e associados da "burguesia restrita do regime", a chamada "boliburguesia", cuja maioria de membros vive como multimilionários que têm mansões em Miami e não saem da Disneyworld. Por mais inócua que tal medida pareça, seria extremamente eficaz contra o governo e os "boliburgueses" que vão para os EUA, habitualmente, a torrarem o dinheiro que pertence ao povo, enquanto as pessoas não têm o básico para viver com dignidade e decência.

Ao que parece ter sido demonstrado recentemente, os embargos petrolíferos só funcionam quando grande parte da comunidade internacional adere a eles, como ocorreu com o Irã. Um embargo de petróleo unilateral dos EUA por deixar de comprar a mercadoria da Venezuela, tem tudo para não funcionar, dá ao Maduro e sua corja motivos de acentuar o antiamericanismo junto ao povo, propagandeando a sua tese de luta contra o "império" e se, em última análise, mesmo que fizessem algum efeito a ponto da cúpula comunista de Caracas pedir arrego, o povo já teria sofrido tanto que nenhum americano em sã consciência aprovaria tal tática.

Na minha humilde opinião, acho que a via militar seria a ideal para o povo venezuelano para resolver o problema no curto prazo, mas não acredito que Washington queira se envolver em outra guerra, principalmente no seu quintal. Mas acredito também que a Casa Branca esteja vigiando de perto os movimentos internacionais na Venezuela, na América do Sul e no Caribe, principalmente depois da anunciada decisão de Moscou em se oferecer para a criação de bases militares em Cuba e na Venezuela, bem como a oferta chinesa de enviar milícias para o regime de Maduro. E, como nos casos dos mísseis soviéticos em Cuba, o governo americano, em determinada altura poderá ter que reagir de forma decisiva e fulminante.
Título e Texto: Francisco Vianna, 28-02-2014

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