segunda-feira, 31 de março de 2014

O Galo de Aeropolis

Francisco Barros
 
No planeta Aeropolis, nome originário do grego, que significa "Cidade Aérea", local habitado por ex-funcionários Varig, aposentados e pensionistas do AERUS, havia um galo de canto maravilhoso chamado “Gogó de ouro".

Esse nome tinha uma razão de ser: o seu canto era belo e majestoso e anunciava, quase sempre, o nascer de um lindo dia, com o sol penetrando naquela singela planície, tornando-a ainda mais atraente e singular. Digno de elogios!

Por isso mesmo, ele se tornou sempre o primeiro a acordar e pronto a entoar o seu canto, quase sempre,  em detrimento dos demais de sua espécie. Muito considerado, admirado e respeitado por todos do local, pelo menos era isso o que ele pensava. Se achava a Vossa Majestade "o Galo".

Não se podia negar o seu bonito canto, mas os elogios foram afagando o seu  ego e ofuscando a razão,  e seu "cucurico" se tornou um cantar mágico e poderoso.

Inebriado pelo orgulho, o “Gogó de ouro” se tornou supremo, o dono sol. Acreditava ser o único capaz de, através de seu canto, fazer o sol nascer e, finalmente, concluiu que seria impossível amanhecer sem o seu canto divino.

Assim o  galo de Aeropolis adormeceu,  acalentado por sonhos traiçoeiros no doce poleiro da ilusão e caiu num sono profundo, não percebendo que rapidamente amanhecia. Quando tardiamente acordou, o sol já estava "a pino", tinha amanhecido há bastante tempo.

Por falta de aceitação,"Gogó de ouro" não suportou  esse impacto desagradável, permitindo que esse sentimento virasse raiva e a raiva em ressentimento, e a revolta tomou conta de sua alma e se tornou presente em todas as suas atividades.

Até os dias de hoje o galo está revoltado. Até hoje o galo encontra-se frustrado e deprimido.

Por falar em sentimento desagradável, eu me obrigo a fazer uma confissão, antes que o orgulho me faça perder o pouco da coragem que me resta e  desista:

Há muito descobri que um galo dessa natureza vive dentro de mim!

A princípio eu não quis admitir, mas quando percebi que somente acreditava que as coisas  funcionavam quando eu estava participando; os assuntos só lograriam êxito se eu estivesse assessorando ou atuando; as ideias só iriam  avante se pedissem a minha opinião… então eu fiquei desconfiado.

Por oportuno, torna-se desalentador várias vezes perceber que as coisas funcionam bem sem o meu “dedo”. Muitas vezes bem melhor, sem minhas opiniões, mesmo com a minha “torcida” contra.

Assim obtive a certeza que esse "velho galo" estava me usando e queria se tornar dono de minha vontade. Mister se fez a aceitação e a honestidade de propósitos. Procurar mantê-lo sob gerenciamento se tornou fundamental. Assim, enquanto ele estiver  sob controle, pouco serei incomodado.

A propósito, eu soube que um velho sábio morador naquela planície,  continua com o firme propósito de alertar a todos da localidade com a seguinte declaração:

CUIDADO COM O GALO QUE VIVE EM CADA UM DE NÓS! Ele é sutil e traiçoeiro!

Título, Imagem e Texto: Francisco Barros, Aeroviário, aposentado VARIG/AERUS, 31-03-2014

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2 comentários:

  1. Muito bom o texto, bem colocado e bem escrito. Uma realidade que vive dentro de cada um de nós. Ja a algum tempo gerenciando o meu. De vez em quando ele tenta colocar o biquinho pra fora. Acho que esse galo mudou de nome, na velocidade das mudanças ele se chama: Eu me acho. Tenho muita pena dos que hospedam esse galo, Alguns a vida inteira. Grande abraço.

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  2. Parabéns meu amigo Francisco pela qualidade dos textos que você tem postado
    aqui no site, excelente.
    Um grande abraço

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