segunda-feira, 31 de março de 2014

Problemas hollandeses


Luís Naves
Os socialistas franceses sofreram uma pesada derrota na segunda volta das eleições municipais, isto a dois meses de eleições europeias onde se anuncia nova humilhação para o presidente François Hollande. Os números são esmagadores e nem a vitória em Paris, que se previa à larga e foi apenas à justa, conseguiu minimizar o cenário negro. A UMP (gaulistas, centro-direita) venceu claramente, controlando 23 das 42 maiores cidades; a estratégia da Frente Nacional de moderar o seu discurso também compensou, pois a extrema-direita conquistou 11 câmaras de pequena dimensão (a contagem não está completa), avanço simbólico que sugere uma boa votação nas europeias, da ordem de um em cada cinco votos.

À frente de coligações ou sozinhos, os socialistas estão no poder em poucos países na Europa (Itália, Áustria, Bélgica, Dinamarca) e a França devia ser o laboratório das políticas anti-crise da esquerda. Afinal, a governação de François Hollande está a revelar-se um fracasso. O presidente não consegue controlar o défice ou fazer a mínima reforma estrutural, a dívida está a aproximar-se da barreira dos 2 biliões de euros (milhões de milhões), tendo subido para 93,5% do PIB, o que ameaça o financiamento da economia francesa. A estratégia de taxar os ricos falhou clamorosamente e o desemprego continua sem a mínima solução à vista.

Esta incapacidade revela um padrão europeu. O centro-esquerda parece não ter soluções para combater a crise e satisfazer as classes médias, que querem segurança e estabilidade; pelo contrário, as suas políticas de reforço do investimento público só aumentam o buraco financeiro. O Estado Providência europeu terá de mudar de outra maneira, mas Hollande não pode fazer as reformas necessárias (mercado de trabalho, fisco, segurança social) sem atraiçoar o seu eleitorado. O país está a mergulhar numa paralisia institucional.

Muitos analistas dizem que a extrema-direita regista grandes êxitos, mas julgo que isso não é bem assim. Nos Estados Unidos, por exemplo, o movimento Tea Party, sendo parte do Partido Republicano, alterou de forma significativa a política de Washington, pelo menos conseguindo bloquear as iniciativas dos republicanos moderados e todas as tentativas de criar entendimentos ao centro.

Na Europa, a extrema-direita é apenas mais um grupo minoritário, não impedindo qualquer entendimento. O centro-direita continuará a governar tranquilamente sem a extrema-direita, não necessitando para isso de adoptar visões agressivas ou anti-capitalistas, discursos populistas ou xenófobos. A extrema-direita subiu de patamar, mas sem afectar o sistema.
Título, Imagem e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 31-03-2014

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