Luís Naves
Os socialistas franceses
sofreram uma pesada derrota na segunda volta das eleições municipais, isto a
dois meses de eleições europeias onde se anuncia nova humilhação para o
presidente François Hollande. Os números são esmagadores e nem a vitória em Paris, que se
previa à larga e foi apenas à justa, conseguiu minimizar o cenário negro. A UMP
(gaulistas, centro-direita) venceu claramente, controlando 23 das 42 maiores
cidades; a estratégia da Frente Nacional de moderar o seu discurso também
compensou, pois a extrema-direita conquistou 11 câmaras de pequena dimensão (a
contagem não está completa), avanço simbólico que sugere uma boa votação nas
europeias, da ordem de um em cada cinco votos.
À frente de coligações ou
sozinhos, os socialistas estão no poder em poucos países na Europa (Itália,
Áustria, Bélgica, Dinamarca) e a França devia ser o laboratório das políticas
anti-crise da esquerda. Afinal, a governação de François Hollande está a revelar-se
um fracasso. O presidente não consegue controlar o défice ou fazer a mínima
reforma estrutural, a dívida está a aproximar-se da barreira dos 2 biliões de
euros (milhões de milhões), tendo subido para 93,5% do PIB, o que ameaça o
financiamento da economia francesa. A estratégia de taxar os ricos falhou
clamorosamente e o desemprego continua sem a mínima solução à vista.
Esta incapacidade revela um
padrão europeu. O centro-esquerda parece não ter soluções para combater a crise
e satisfazer as classes médias, que querem segurança e estabilidade; pelo
contrário, as suas políticas de reforço do investimento público só aumentam o
buraco financeiro. O Estado Providência europeu terá de mudar de outra maneira,
mas Hollande não pode fazer as reformas necessárias (mercado de trabalho,
fisco, segurança social) sem atraiçoar o seu eleitorado. O país está a
mergulhar numa paralisia institucional.
Muitos analistas dizem que a
extrema-direita regista grandes êxitos, mas julgo que isso não é bem assim. Nos
Estados Unidos, por exemplo, o movimento Tea
Party, sendo parte do Partido Republicano, alterou de forma significativa a
política de Washington, pelo menos conseguindo bloquear as iniciativas dos
republicanos moderados e todas as tentativas de criar entendimentos ao centro.
Na Europa, a extrema-direita é
apenas mais um grupo minoritário, não impedindo qualquer entendimento. O
centro-direita continuará a governar tranquilamente sem a extrema-direita, não
necessitando para isso de adoptar visões agressivas ou anti-capitalistas,
discursos populistas ou xenófobos. A extrema-direita subiu de patamar, mas sem
afectar o sistema.
Título, Imagem e Texto: Luís Naves, Fragmentário,
31-03-2014
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