terça-feira, 1 de abril de 2014

A 25ª Hora

Li-o, pela primeira vez, na minha juventude. Acabei de relê-lo. O livro, de Constantin Virgil Cheorghiu, relata a vida de Iohann Moritz.

A triste história começa na Romênia, em 1939, dias antes da invasão da Polônia pelo exército de Hitler.

Moritz é falsamente rotulado como judeu e enviado para um campo de concentração nazista. O homem responsável pela deportação é Nicolai Dobresco, um policial do distrito, que cobiça Suzanna, a mulher de Iohann.

A partir daí uma série de mal-entendidos faz com que ele passe por diversos campos de concentração, em países diferentes, aos quais consegue sobreviver graças à sua ingenuidade e a companhia de seu amigo intelectual, Traian Koruga – o escritor que deu o título ao livro. 

Leitura (e reflexão) absolutamente recomendável às gerações de 40 e 20 anos.

“Por que você chora, Moritz? – perguntou Traian Koruga ao acabar de ler a petição.
– Eu não estou chorando.
– Vejo-lhe as lágrimas nos olhos. Por que é que você chora?
– É que já não sou bem eu mesmo.
– Você tem medo de mandar a petição? – perguntou Traian Koruga. – O que eu escrevi não é verdade?
– Não tenho medo – respondeu Moritz. – Tudo o que o senhor escreveu é verdade.
– Então por que chora você?
– É por isso que eu choro – disse Moritz. – Porque é toda a verdade.”

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“Nora West sorriu. Pensava nos milhares de cidadãos estrangeiros que se encontravam no Ocidente. Tinham todos fugido ao terror russo. Todos haviam encontrado refúgio junto dos americanos, dos ingleses ou dos franceses. Nem sequer tinham pensado no lugar para onde se dirigiam. Fugiam simplesmente dos russos. Fugiam da barbárie. Do terror. Da morte. Da tortura. Dirigiam-se para lugar onde não houvesse mais russos. Tinham corrido para lá de olhos fechados. Sabiam apenas que não deviam voltar para trás. Atrás deles, havia a noite e o sangue. Atrás deles, só o terror e o crime.

Tinham beijado a terra onde não havia russos. Haviam-na beijado de joelhos e chamado: a terra de todas as promessas e de todas as esperanças. Tinham-na beijado sem para ela olharem. Sem mesmo perguntarem o que ela podia ser. Era uma terra sem russos; tanto bastava. Era-lhes indiferente que fosse ocupada por esta ou por aquela nação. Não queriam ver mais russos. Os americanos haviam prendido os fugitivos. Mas estes não se tinham zangado. Estavam em terra prometida. Não tinham pedido à vida senão para escapar aos russos. E tinham-lhes escapado. Tudo o que pudesse acontecer-lhes depois era indiferente. Assim, não se zangaram por os americanos os prenderem. Mesmo se os houvessem matado, não teriam protestado. E, agora, a guerra acabava de ser declarada. A terceira guerra. Os refugiados estavam fatigados, esfomeados, encurralados. Queriam comida, repouso, trabalho e liberdade. Não se haviam revoltado por não terem essas coisas. Conseguiam fugir dos russos, e isso era o essencial. Os americanos haviam prometido mandar em liberdade os que se alistassem como voluntários nas brigadas ocidentais. Todos os homens tinham pedido para ser voluntários. Não para lutarem, mas para não ficarem mais tempo fechados. Para não rebentarem de fome.”

C. Virgil Gheorghiu

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