Pôncio Pilatos a Cristo
Antônio Xavier Teles
Que é a Verdade?
Essa pergunta foi formuldad,
há quase 2 000 anos, por Pilatos a Jesus Cristo e sua resposta mais convincente
foi dada por Aristóteles, desde que Pilatos, ao fazer a pergunta ausentou-se,
desinteressando-se, ao que parece, da resposta, conforme o relato bíblico.
Vamos tratar a verdade aqui, tanto do ponto de vista
filosófico, como lógico. Poderíamos partir da pergunta: quando uma afirmação ou
um enunciado é verdadeiro?
Poderíamos dizer que
conhecimento verdadeiro é aquele que reflete corretamente a realidade ou que a
verdade consiste na correspondência, na adequação do pensamento com a coisa,
conforme nos ensina Aristóteles. Outro significado para verdade poderia ser
encontrado no pensamento dos filósofos pré-socráticos. Sabemos que, fora de
nós, existem objetos, coisas e acontecimentos. Estas realidades existentes,
fora e independente de nós, podem ser consideradas como sendo verdades (a
verdade do ser ou verdade ontológica). Para os pré-socráticos, verdade
(alétheia) era o próprio desabrochar ou manifestar-se da coisa. Para
Aristóteles e a imensa maioria dos filósofos posteriores, o significado de
verdadeiro ou falso se restringe, apenas, às nossas afirmações da realidade.
É interessante o ponto de
vista da filosofia marxista com respeito à verdade. Como diz Jacob Bazarian *: “Verdadeiro ou falso pode ser apenas o reflexo subjetivo, na
consciência, da realidade objetiva. Nossa consciência, em relação às coisas,
funciona, até certo ponto, como um espelho, refletindo-as.
(*) Bazarian, Jacob. O
Problema da Verdade. São Paulo, Edições Símbolo, 1980.
Verdade em Lógica
Em Lógica, a verdade é uma
propriedade das nossas afirmações ou proposições. Toda sentença ou proposição
tem um valor lógico: verdadeiro ou falso.
A verdade está na relação existente entre o que dizemos ou cremos e a
coisa como ela é ou o fato como se passou realmente. Desta maneira, Aristóteles
definiu a verdade como “uma adequação ou coerência entre o que se diz e a coisa
ou entre o que se diz e o ocorrido” (adequatio
intellectus et rei).
Se eu afirmo que, em Marte, há
criaturas humanas, esta frase terá o valor lógico verdade, se lá houver
criaturas humanas. Se este planeta não for habitado, a afirmação será falsa,
pois não houve a devida adequação entre o meu enunciado e o fato existente.
Ocorre, assim, uma inadequação ou falsidade entre o enunciado e a coisa. A
falsidade é, pois uma inadequação.
A Lógica formal moderna
considera a verdade de modo mais amplo, como a não-contradição de um sistema como um todo. A coerência do
sistema é a sua verdade.
Temos, em Matemática e em
Lógica formal moderna, sistemas fechados. Por exemplo, o que é verdadeiro na
Geometria do espaço curvo de Lobatschevski, não o é na Geometria euclidiana.
Então, nas ciências exatas, a verdade é assim contraditória? Uma proposição é
verdadeira numa parte e falsa em outra? Isso ocorre apenas nos sistemas
formais, por serem desligados do mundo real. Não podemos, então, comparar o afirmado com o real.
Seja, por exemplo, o sistema
formal simples, um silogismo:
Premissa maior: Todos os
homens são mortais. Todos os “A” são “B”.
Premissa menor: Gulherme é
homem. “C” é “A”.
Conclusão: Logo, Guilherme é
mortal. Logo, “C” é “B”.
A conclusão, “Guilherme é
mortal”, é logicamente verdadeira. Ela é, efetivamente, não-contraditória em
relação às premissas ou postulados. A verdade lógica ou formal é apenas a
não-contradição de um sistema.
A verdade experimental
Uma proposição tal como:
“chove neste momento”, pretende alcançar não só a verdade formal como também a
verdade material, experimental. É uma afirmação concernente ao real. Mas é
fácil mostrar que, ainda aqui, o critério da verdade é a não-contradição de
nossos juízos, a concordância e a identificação de nossos enunciados com um
dado material. Dizemos, “chove”, porque, inclinados sobre nosso trabalho,
ouvimos gotas baterem na vidraça. Esse juízo isolado só poderá ser considerado
verdadeiro se for verificado, em outras palavras, se não contradisser os
diversos juízos que podemos exprimir, em diferentes condições experimentais,
sobre a realidade naquele momento. Por exemplo: vamos à janela, vemos a chuva
cair, a rua está molhada, são não-contraditórios; está, portanto, verificado
que chove.
A verdade em Filosofia
A verdade se identifica com o número,
a essência última e íntima de cada coisa, de todas as coisas em conjunto, do
Universo, enfim. É o que Kant chama de Ding-na-sich,
a coisa em si, e outros, de Absoluto,
porque tudo o mais fora disso é relativo, é aparente.
A verdade, em Filosofia, se
confunde com o ponto de vista dos pré-socráticos: é o manifestar-se das coisas,
do mundo e das pessoas.
Título e Texto: Antônio Xavier Teles, in “Introdução ao
Estudo de Filosofia”, páginas 192 a 194.
Digitação: JP
Digitação: JP
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