domingo, 20 de abril de 2014

A Verdade

Quid est veritas?
Pôncio Pilatos a Cristo

Antônio Xavier Teles

Que é a Verdade?
Essa pergunta foi formuldad, há quase 2 000 anos, por Pilatos a Jesus Cristo e sua resposta mais convincente foi dada por Aristóteles, desde que Pilatos, ao fazer a pergunta ausentou-se, desinteressando-se, ao que parece, da resposta, conforme o relato bíblico.

Vamos tratar a verdade aqui, tanto do ponto de vista filosófico, como lógico. Poderíamos partir da pergunta: quando uma afirmação ou um enunciado é verdadeiro?

Poderíamos dizer que conhecimento verdadeiro é aquele que reflete corretamente a realidade ou que a verdade consiste na correspondência, na adequação do pensamento com a coisa, conforme nos ensina Aristóteles. Outro significado para verdade poderia ser encontrado no pensamento dos filósofos pré-socráticos. Sabemos que, fora de nós, existem objetos, coisas e acontecimentos. Estas realidades existentes, fora e independente de nós, podem ser consideradas como sendo verdades (a verdade do ser ou verdade ontológica). Para os pré-socráticos, verdade (alétheia) era o próprio desabrochar ou manifestar-se da coisa. Para Aristóteles e a imensa maioria dos filósofos posteriores, o significado de verdadeiro ou falso se restringe, apenas, às nossas afirmações da realidade.

É interessante o ponto de vista da filosofia marxista com respeito à verdade. Como diz Jacob Bazarian *: “Verdadeiro ou falso pode ser apenas o reflexo subjetivo, na consciência, da realidade objetiva. Nossa consciência, em relação às coisas, funciona, até certo ponto, como um espelho, refletindo-as.
(*) Bazarian, Jacob. O Problema da Verdade. São Paulo, Edições Símbolo, 1980.

Verdade em Lógica
Em Lógica, a verdade é uma propriedade das nossas afirmações ou proposições. Toda sentença ou proposição tem um valor lógico: verdadeiro ou falso.

A verdade está na relação existente entre o que dizemos ou cremos e a coisa como ela é ou o fato como se passou realmente. Desta maneira, Aristóteles definiu a verdade como “uma adequação ou coerência entre o que se diz e a coisa ou entre o que se diz e o ocorrido” (adequatio intellectus et rei).

Se eu afirmo que, em Marte, há criaturas humanas, esta frase terá o valor lógico verdade, se lá houver criaturas humanas. Se este planeta não for habitado, a afirmação será falsa, pois não houve a devida adequação entre o meu enunciado e o fato existente. Ocorre, assim, uma inadequação ou falsidade entre o enunciado e a coisa. A falsidade é, pois uma inadequação.

A Lógica formal moderna considera a verdade de modo mais amplo, como a não-contradição de um sistema como um todo. A coerência do sistema é a sua verdade.

Temos, em Matemática e em Lógica formal moderna, sistemas fechados. Por exemplo, o que é verdadeiro na Geometria do espaço curvo de Lobatschevski, não o é na Geometria euclidiana. Então, nas ciências exatas, a verdade é assim contraditória? Uma proposição é verdadeira numa parte e falsa em outra? Isso ocorre apenas nos sistemas formais, por serem desligados do mundo real. Não podemos, então, comparar o afirmado com o real.

Seja, por exemplo, o sistema formal simples, um silogismo:
Premissa maior: Todos os homens são mortais. Todos os “A” são “B”.
Premissa menor: Gulherme é homem. “C” é “A”.
Conclusão: Logo, Guilherme é mortal. Logo, “C” é “B”.

A conclusão, “Guilherme é mortal”, é logicamente verdadeira. Ela é, efetivamente, não-contraditória em relação às premissas ou postulados. A verdade lógica ou formal é apenas a não-contradição de um sistema.

A verdade experimental
Uma proposição tal como: “chove neste momento”, pretende alcançar não só a verdade formal como também a verdade material, experimental. É uma afirmação concernente ao real. Mas é fácil mostrar que, ainda aqui, o critério da verdade é a não-contradição de nossos juízos, a concordância e a identificação de nossos enunciados com um dado material. Dizemos, “chove”, porque, inclinados sobre nosso trabalho, ouvimos gotas baterem na vidraça. Esse juízo isolado só poderá ser considerado verdadeiro se for verificado, em outras palavras, se não contradisser os diversos juízos que podemos exprimir, em diferentes condições experimentais, sobre a realidade naquele momento. Por exemplo: vamos à janela, vemos a chuva cair, a rua está molhada, são não-contraditórios; está, portanto, verificado que chove.

A verdade em Filosofia
A verdade se identifica com o número, a essência última e íntima de cada coisa, de todas as coisas em conjunto, do Universo, enfim. É o que Kant chama de Ding-na-sich, a coisa em si, e outros, de Absoluto, porque tudo o mais fora disso é relativo, é aparente.

A verdade, em Filosofia, se confunde com o ponto de vista dos pré-socráticos: é o manifestar-se das coisas, do mundo e das pessoas.
Título e Texto: Antônio Xavier Teles, in “Introdução ao Estudo de Filosofia”, páginas 192 a 194.
Digitação: JP

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