A ilha-cárcere dos irmãos Castro, com seus onze milhões de almas
mantidas na mais rasa pobreza e miséria pelo regime socialista – com exceção de
restrita minoria da burguesia capitalista estatal do politburo do partido único
– sofre de um déficit habitacional de meio milhão de moradias, mesmo dentro da
indignidade dos padrões residenciais do país. Tal situação, no entanto, piora a
cada ano pela ação corrosiva da umidade, da salinidade marinha e dos ciclones
tropicais que se abatem rotineiramente sobre a região.
Francisco Vianna
De repente, em Havana, um
grande estrondo, como um trem passado perto ou mesmo como uma explosão, acorda
de sobressalto a vizinhança da área de Oquendo 308, no populoso bairro do
Centro da cidade. Uma parte do sétimo andar de um velho edifício desmoronou
para dentro do pátio interno, danificando os apartamentos de baixo. Por sorte,
ninguém morreu, mas cerca de 120 famílias que moravam no prédio ficaram ao
relento sem local para habitar.
Apesar dos terremotos serem
ocorrências extremamente raras em Cuba, tais desmoronamentos costumam acontecer
com frequência em especial em Havana, a capital do país.
É claro que isso não ocorre
nas protegidíssimas áreas onde se situam as residências da pequena alta
burguesia que governa a ilha com mão de ferro. Os desmoronamentos acontecem
onde, por décadas, a falta de manutenção dos prédios e a escassez socialista da
construção civil estatal consistem nos principais problemas sociais da ilha,
sem que até agora seus governantes se disponham a realizar as reformas
prometidas pelo populismo demagógico do novo ‘ditador da vez’ da dinastia dos
Castros, o novo ‘comandante’ Raúl Castro.
De catástrofe em catástrofe,
os sujos refugiados se amontoam em bivaques em parques públicos da cidade como
uma forma de pressionar o governo a lhes providenciar novas moradias. Enquanto
isso, outras famílias passam a morar com parentes ou aceitam ser levadas para
‘albergues provisórios do governo’, onde vivem amontoadas já há anos numa
espera infrutífera por uma casa própria doada pelo regime.
No fim de 2011, Castro
“legalizou o mercado” de bens duráveis na ilha – pela primeira vez em cinco
décadas – sob argumentos dentre os quais se destacou o de que a nova legislação
estimularia a construção civil de novas moradias e as reformas das antigas. Os
resultados, até hoje, no entanto são pífios e “o déficit habitacional poderia
ser ainda maior caso a avaliação fosse baseada na própria definição do governo
daquilo que constitui uma ‘moradia adequada’ (tantos metros quadrados, com
banheiro e cozinha interna, e etc.) ”, nas palavras do pesquisador Sergio
Díaz-Briquets, doutor em demografia da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. De
acordo com ele, as estimativas da carência habitacional em toda a ilha estariam
entre 800.000 a um milhão de moradias. Segundo o Escritório Nacional de
Estatística e Informação (ENEI), a ilha dispõe de um total de 3,8 milhões de
“unidades de alojamento” (residências ou apartamentos).
Com um pacote de reformas que
incluiu a mencionada modificação da lei que regula a compra e a venda de bens
duráveis, as autoridades do regime insular começaram a por em ação um plano de
subsídios às famílias para ampliar, reformar ou terminar suas casas.
Paralelamente, o governo de
Havana decidiu também entregar à população antigos prédios comerciais, armazéns
e outras edificações estatais subutilizadas para serem adaptadas como moradias.
Um simples passeio pelas ruas de Havana mostra como as pessoas estão a “tirar
proveito” do momento para consertar as fachadas, e incluir um segundo andar a
essas construções – nem sempre com a supervisão adequada de engenheiros
qualificados – para agregar mais moradias, numa verdadeira “cultura do
puxadinho”. O resultado é o aumento de cortiços que crescem desordenada e
caoticamente em plena capital do país.
Os próprios analistas cubanos
dizem, com os cuidados que isso requer por lá, que “as soluções adotadas pelo
governo às vezes beneficiam uma ou outra família, mas que os esforços são pouco
sistematizados e não conseguem reduzir o déficit habitacional em seu conjunto”.
Os trabalhos possibilitados
por essa política dirigida pelo estado socialista começaram fortes em 2008,
quando a ENEI relatou a construção e reforma de 44.775 residências, mas, depois
disso, a queda dos números se tornou uma tendência crescente por parte tanto do
estado como de iniciativas particulares. Em 2011 apenas 32.540 casas e, em
2012, 32.103 novas casas foram terminadas. Quanto a 2013 ainda não existem estatísticas
disponíveis, mas os números preliminares são inferiores ao esperado.
Após um balanço do setor de
dezembro último na Assembleia Nacional, o ‘parlamento’ unicameral de partido
único – uma caricatura de mau gosto de democracia – o deputado Santiago Lage
revelou que no fim de outubro de 2013, o setor estatal veria ter terminado
10.450 casas populares, mas apenas 80 por cento da meta foi atingida, ao passo
que o esforço privado de uma população extremamente empobrecida conseguiu
terminar 9.604 novas moradias, o que demonstra a fragilidade da política
governamental para o setor. Com tal projeção, 2013 deverá se inclusive muito
pior que o ano anterior.
O economista cubano Pavel
Vidal, atualmente professor da Universidade Xavieriana da Colômbia argumenta
que “pode ser que essa mudança no ‘mecanismo estatal’ leve algum tempo ou que o
novo sistema não esteja compensando. Caso a responsabilidade da construção
civil de casas populares esteja sendo atribuída aos “contapropristas” (a nova
categoria de pessoas autorizadas a trabalhar por conta própria), às
microempresas e as recém-criadas cooperativas, esse novo setor privado, na
escala que tem, com o capital do qual não dispõe, evidentemente não irá
compensar o que o estado cubano vem fazendo, por mais insuficiente que seja”. E
isso sem contar com as dificuldades que os cubanos têm para comprar uma casa
popular já pronta, conforme a nova lei.
Distante umas poucas quadras
do edifício parcialmente desmoronado, mora Lázaro Márquez, de 44 anos, que
compartilha com sua esposa Mileivis e sua filha adolescente e incapaz apena um
quarto numa “cabeça de porco” (um cortiço) no Centro de Havana, descreve que o
lugar tem infiltrações de água de esgoto e rachaduras pelas paredes. O local é
lúgubre e fétido. Márquez ganha em média 50 pesos (2 dólares) por dia dirigindo
um “bicitaxi”, e há seis anos seu nome está numa lista – que parece não avançar
nunca – de casos que requerem apoio urgente do estado para que possa sair dali
e ir para uma casa popular melhor, uma vez que sua filha na fala nem anda e tem
que ser carregada numa cadeira de rodas pelas intrincadas escadarias com grande
perigo de cair.
Caso não consigam solucionar
por si próprios onde morar, ou seja, construir ou comprar, os três acabarão
tendo que ir para algum albergue estatal, isso se antes o prédio em que vivem
não desabar sobre suas cabeças. Mas, um apartamento de um quarto pequeno no
Centro de Havana custa cerca de sete mil dólares... “Na verdade, não existe um
mercado de bens duráveis liberalizado, mas apenas uma flexibilização da compra
e da venda de casas, todavia com muitas restrições”, explicou Vidal.
Ou seja, o regime cubano não
pratica nem um capitalismo estatal direcionado a beneficiar o povo nem tampouco
permite que o capitalismo privado se desenvolva para criar prosperidade e
riqueza para as pessoas. No mundo inteiro a procura pela casa própria suscita
um mecanismo financeiro, tanto privado como estatal, que gera um crédito
hipotecário que – em condições normais e sem abusos populistas – estimula a
expansão da indústria da construção civil de novas unidades habitacionais, que
beneficia todas as camadas da população, principalmente as menos “favorecidas”.
Qualquer economista sabe disso.
Mas em Cuba, um feudo político
dos Castros, a coisa não é vista como no resto do mundo e para o regime, a
maior ameaça é o aumento da prosperidade e da riqueza que as pessoas do povo
possam conseguir com seu trabalho diário.
Enquanto isso não muda, os
prédios em Havana continuarão desmoronando, até que um dia desmorone de vez o
malfadado regime socialista que vitimiza a população da maior ilha caribenha.
Título e Texto: Francisco Vianna (da mídia
internacional), 22-04-2014
Réplica que recei de um tal Romeu Kerber: "Que coincidência. Me parece Salvador na Bahia, ou será que está tudo novinho em folha na capital baiana? Me contaram que a diferença é o número de miseráveis e pedintes que existem em Salvador".
ResponderExcluirMinha tréplica:
"De fato, Kerber, ali pelo centro e cidade baixa, em Salvador, a arquitetura ibérica envelhecida lembra em muitos aspectos Havana. Quando estive na ilha, confesso que me lembrei bem de algumas áreas de Salvador.
A diferença é que essas áreas soteropolitanas são eminentemente comerciais e não residenciais. Quanto às residências, em Salvador, elas estão divididas em dois setores, à direita e à esquerda das Avenidas Paralelas.
À direita (como não poderia deixar de ser) estão os ricos - na orla - e a classe média. À esquerda (como também não poderia deixar de ser) estão os pobres e miseráveis morando em aglomerados humanos caóticos, conhecidos vulgarmente como FAVELAS.
No meio disso tudo dois absurdos: o metrô de superfície que nunca funcionou e é um poço sem fundo dos governos para desvio de dinheiro público e a Nova Arena da Fonte Nova, que, associada ao Bolsa Família, se encarregam de dar pão e cinco para um populacho que não se envergonha de vender o seu voto por tão pouco.
VIANNA"