terça-feira, 8 de abril de 2014

O Joaquim Barbosa autoritário, amado pelas esquerdas, volta a dar as caras

Reinaldo Azevedo

Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal — que, consta, pode deixar o tribunal ainda neste ano — perdeu, nesta segunda, uma excelente chance de ficar calado, refletir melhor e, depois, então, se fosse o caso, emitir a sua opinião. Mas este sempre foi um defeito seu, não é mesmo?, estivesse certo ou errado: falar primeiro e, eventualmente, pensar depois. Nesta segunda, o ministro participou do seminário “Liberdade de expressão e o Poder Judiciário”, no Tribunal de Justiça do Rio. E eis que surgiu aquele Joaquim que foi indicado por Lula para o Supremo; eis que se mostrou o Joaquim que ainda não havia sido transformado na Geni do petismo por causa de seus votos contra os mensaleiros.

Vamos lá. O leitor poderia dizer: “Você, que sempre elogiou o ministro, vai criticá-lo agora?” Pois é. Basta acessar o arquivo deste blog para saber que, ao longo dos anos, mais critiquei do que elogiei Barbosa. O fato de ele ter feito a coisa certa no mensalão não implica que eu endosse seu estilo e apoie sempre as suas opiniões. Ainda há dias, ele votou contra a possibilidade de empresas privadas doarem dinheiro para campanhas eleitorais, por exemplo. Acho que ele está errado.

Nesta segunda, o ainda ministro resolveu fazer digressões sobre a chamada regulação dos meios de comunicação. Afirmou, segundo informa Ítalo Nogueira na Folha: “Normatização, regulação, seja ela do Estado ou autorregulação, é importante. O que não deve haver é falta de qualquer regulação. Não defendo censura, nada disso. A vida social é feita de constantes choques e embates entre direitos, pessoas e grupos. Sem um balizamento normativo, seja ele do Estado ou mesmo dos próprios integrantes de um determinado sistema produtivo, aquele que tem a incumbência de resolver os conflitos entre esses grupos e essas pessoas tem dificuldade de fazê-lo”. Ufa!

Até aí, parece ok. Vale para qualquer assunto. Mas ele decidiu ser mais preciso, e aí meteu os pés pelas mãos. Para ele, “falta diversidade” aos meios de comunicação do país. Sei… Avançou: “Há organizações que fizeram esforços nos últimos 15, 20 anos, para ter mais a cara do Brasil, na chamada paisagem audiovisual brasileira. Outras simplesmente não despertaram para essa necessidade. Precisamos de visões mais plurais e ver isso com mais naturalidade. Vocês não acham que a informação no Brasil é repetitiva, obsessiva, cansativa às vezes? Todo mundo diz a mesma coisa”.

Barbosa está misturando alhos com bugalhos. Quando um sujeito afinado com os valores democráticos fala em regulamentação, pensa em eventuais questões técnicas e legais — não mais do que isso. Há políticos, por exemplo, que recebem concessões de rádio e TV por intermédio de terceiros. Isso precisa parar, mudar. Barbosa, no entanto, está falando de outra coisa: de conteúdo! Quem é que vai fazer isso que ele prega? O Estado? Uma comissão de autocensura, que, em nome da tal diversidade, iria policiar a informação? Quem disse a Barbosa que os meios pensam a mesma coisa, defendem a mesma coisa, noticiam a mesma coisa? Trata-se de uma visão vesga, distorcida e, ela sim, preconceituosa. Joaquim deveria é dedicar o seu tempo a ações do Poder Judiciário que têm servido para censurar o jornalismo. De resto, na era da Internet, essa conversa perdeu sentido.

Vamos nos lembrar: o ministro já foi o herói daquele subjornalismo do nariz marrom, que existe só para aplaudir as ações do petismo e das esquerdas. Depois se transformou no grande vilão, quando condenou os criminosos do mensalão. Agora que defende algo que tem cara de censura, cheiro de censura e jeito de censura — e que, pois, deve ser censura —, já pode voltar a ser tratado como um vingador.

Consta que Barbosa vai deixar o tribunal ainda neste ano. Não sei o que vai fazer. De qualquer modo, ele tem o direito de defender o que quiser, mas certas posturas ficam melhor no Palácio do Congresso do que no da Justiça. Ele que se candidate, então, a algum cargo eletivo, atravesse a Praça dos Três Poderes e participe do debate político.

Este comentarista é assim esquisito: quando gosta de alguma coisa diz: “gosto”; quando não, então “não gosto”. Não elogio nem critico pessoas, mas ideias. E as de Joaquim Barbosa sobre meios de comunicação são tão primitivas como as da esquerda mais rombuda.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 08-04-2014

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