O português bate recordes no totoloto e euromilhões, joga nas apostas on-line, adere aos sorteios dos bombeiros, dos cegos, da cruz-vermelha, das comissões fabriqueiras, compra rifas de que nunca saberá o resultado, entusiasma-se na lotaria instantânea. O português gosta de jogar em tudo, mas, ao que se ouve, só não gosta das rifas dos carros promovidas pelo Fisco. Melhor dito, os media dizem que não gosta, o que é coisa radicalmente diferente.
Por exemplo, na RTP, dito
serviço público, os jornalistas de serviço e ao serviço, certamente da verdade,
nunca conseguiram encontrar um só cidadão que concorde com a rifa. Pelo
contrário, pivôs, entrevistadores e entrevistados rivalizam nos argumentos mais
boçalmente inteligentes contra a medida, como o custo do combustível ou da manutenção
do carro, como se não fosse possível ao infeliz contemplado vender o objecto
tão odiado que teve o azar de lhe calhar em sorte e assim arrecadar um bom
pecúlio. E, ao que também vou ouvindo, a rifa de um carro de gama alta é
considerada abominável afronta, coisa natural num país de pequenos e médios,
agora até mais pequenos que médios.
Também os senhores deputados e
comentadores da esquerda muito esquerda e da esquerda menos esquerda, como da
direita da esquerda não gostam da rifa fiscal. E dizem que o governo deveria
era preocupar-se em acabar com a economia paralela.
Ora eu também não gosto da
economia paralela. Mas é precisamente por isso que não engalinho com o sorteio.
É que ele pode mesmo contribuir para mitigar tal economia.
Pois o que eu estou é contra
os impostos que deixaram de o ser para ser confisco. E contra o estado
excessivo que tal permite, pior ainda, que a tal obriga. E, neste caso, contra
o governo, que não fez o que devia fazer. Mas estou também contra aqueles que
querem ainda mais estado, que obriga a mais impostos que, automaticamente,
geram mais economia paralela.
Ao fim e ao cabo é do que
gostam. Por isso, odeiam a rifa. Como sempre nestas coisas com o inegável apoio
da comunicação social. Alguma dessa, sim, a necessitar de uma enorme rifa!...
Título e Texto: Pinho Cardão, “4R – Quarta República”, 13-04-2014
Muito obrigado pela transcrição
ResponderExcluirO agradecimento é nosso!
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