Um acordo em desacordo...

 Valdemar Habitzreuter
 

Pois é, ontem (22-04) foi mais uma data, dentre tantas, em que os aposentados do Aerus sentiram-se novamente frustrados por um anúncio, que não veio, sobre um possível acordo do governo para a solução do pagamento de seus proventos ao qual têm direito e que lhes é tolhido desde 2006.  

Não há como descrever o estado de alma de alguém quando um sentimento de desesperança de dimensões ruinosas e destrutivas lhe sobrevém. Ainda mais quando este alguém é vítima de um status quo sombrio e angustiante que o faz amargurar um destino maldito por conta de pessoas irresponsáveis do governo sem um resquício de compreensão e intuito de reparação e justiça.

É isso que milhares de velhinhos e velhinhas aposentados do Aerus vivenciam ao sentirem suas vidas esvair-se lentamente, levando junto a esperança da felicidade e bem-estar do aqui e agora. Mais de mil velhinhos já se foram sem que tivessem podido usufruir de suas economias pecuniárias que lhes foram surrupiadas.

Há um enigma perturbador que mina a estrutura da alma desses velhinhos e velhinhas, depois do julgamento pelo STF da ação tarifária da extinta Varig. Não se nota nenhuma mobilização séria do governo em cumprir o veredicto da justiça – da Suprema Corte.

Por que o tal acordo engendrado entre governo e Aerus, que beneficiaria os aposentados – com direito prioritário à indenização bilionária à Varig –, não avança? Qual a dificuldade de se por em prática a resolução da Justiça – no caso do julgamento da defasagem tarifária, ganho pela extinta Varig – que aliviaria os sofrimentos desses aposentados? São os bilhões de indenização a que ela tem direito que farão falta aos cofres do governo? Mas, e os bilhões superfaturados com refinarias no exterior, com a construção de portos no exterior em detrimento de melhoria dos nossos, com a copa do mundo, com obras faraônicas em estado de abandono, com desvios de verbas do PAC, com os bilhões de prejuízos da Petrobras pela desgovernança petista?

Tantos bilhões pelo ralo e, agora, este impasse de socorrer pessoas que não podem mais esperar por outros longos anos para que lhes seja restituído seu complemento salarial. Será que o veredicto a favor da Varig não representa uma obrigação de execução por parte do governo? Até quando reinará este imbróglio que é tão nocivo quanto eram as delongas e incertezas do próprio julgamento? Mais oito anos? Ou para sempre?

Estipula-se e empurra-se datas para discussões e não se chega a solução alguma, ou não se quer chegar a algo concreto, e, assim, os velhinhos e velhinhas, com direito aos seus proventos do Aerus, são manipulados ao bel-prazer por consciências e mentes mentecaptas. 

Não se sabe qual é a real intenção do governo quando ele se propõe a negociar, tem-se a impressão de que vai nutrindo uma espécie de promessa futurística esquecendo-se que o que interessa aos velhinhos é o presente – o agora – pois já não têm mais um grande futuro pela frente, futuro este que lhes foi e está sendo negado.

Diz-se que a presidente Dilma quer que se faça o acordo, mas não se tem um registro sequer de algum documento ou pronunciamento saindo da boca dela neste sentido, apenas da boca de terceiros. Será que estes velhinhos e velhinhas, que clamam por um acordo, são tão insignificantes assim? Se ela diz que quer o acordo e manda seus assessores cumprirem a ordem, então há algo de errado na condução das negociações para seu desfecho. Ou há desobediência à autoridade máxima do governo, ou a presidente faz um jogo de aparências com seus assessores, prometendo um acordo de desacordo, isto é, finge-se...

Dia 22 foi a data estabelecida em que se anunciaria de fato uma posição do que seria acordado, e o que se viu? Mais uma data que passou em branco. Qual será a próxima data? De data em data ‘si va lontano’...

Será que o governo não quer ceder pelo que lhe pode advir com o precedente que está sendo aberto? (Já há o precedente Transbrasil). Se este for o receio, nada mais saudável a uma nação do que começar a levar a sério os compromissos democráticos e reparar as injustiças. Se após este caso Varig/Aerus houver avalanches de processos judiciários semelhantes, é sinal que estamos vivendo numa República podre e enfraquecida por governantes ineptos, sem vocação para a coisa pública.

Que se corrija, pois, o todo malfeito, custe o que custar, para podermos viver doravante numa República verdadeiramente democrática e voltada para os ideais de justiça, fraternidade e igualdade.

Pobre país, o nosso, onde os direitos dos cidadãos ainda têm de convergir com os interesses espúrios de governantes inescrupulosos que se dizem democratas e representar a voz do povo. Vemos a nação afundar no lodaçal da corrupção e incompetência do atual governo travestido de ditadura bolivariana. Por todos os lados vemos inconformismos por conta de falcatruas e incompetência desse governo.

Embora sejam palavras ao vento sem maiores conseqüências, eis aí meu registro e protesto com o que está acontecendo a uma classe de ex-trabalhadores lesados em seus direitos.

Mas, lembrem-se, haverá eleições...

Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 23-04-2014

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