As esposas dos prefeitos
opositores do regime venezuelano destituídos e presos pela ditadura disfarçada
de democracia de Nicolás Maduro há mais de dois meses, sob a acusação de apoiar
os protestos de rua contra o regime, ganharam as eleições em suas cidades por
ampla margem neste domingo de ontem e irão sucedê-los nas prefeituras de San
Cristóbal, no estado de Táchira (a oeste do país) e San Diego, no estado de
Carabobo (ao norte).
Na cidade de San Cristóbal,
onde ocorreu o auge dos protestos, 121.212 eleitores se apresentaram para votar
e elegeram a esposa de Daniel Ceballos, Patricia de Ceballos, com 73,62% dos
votos, ao passo que seu rival situacionista, o advogado de 33 anos, do partido
PSVU, chavezista, conseguiu apenas 25,52% dos votos válidos.
Em San Diego foram 60.500
votantes que elegeram a esposa de Enzo Scarano, Rosa de Scarano, com uma
avalanche de 87,68% dos votos válidos, enquanto o candidato da situação Alexis
Abreu teve que se se contentar com apenas 11,63%, conforme um boletim da junta
municipal eleitoral.
Nesses centros
tradicionalmente opositores ao regime, as esposas dos prefeitos presos
conseguiram vitórias eleitorais acachapantes e mais folgadas do que as
conseguidas por seus maridos em dezembro, o que muitos consideram uma mensagem
clara de repulsa às suas prisões ordenadas pela ‘justiça venezuelana’
amplamente aparelhada pelo chavezismo.
Em San Cristóbal 41% do
eleitorado se absteve de votar, ao passo que em San Diego a abstenção foi de
36%.
Daniel Ceballos e Enzo Scarano
tinham ganado as eleições municipais de dezembro último com boa margen
(respectivamente 67% e 75,24% dos votos), mas o Conselho Nacional Eleitoral
(CNE) convocou novas eleições para este domingo depois que, em março último, os
prefeitos foram presos e condenados a um ano e a 10 meses de, respectivamente,
por sua suposta responsabilidade nos piores protestos que Maduro já enfrentou
em seu primeiro ano de um governo que muitos consideram espúrio e ilegal, sob
alegações que vão de fraude eleitoral com urnas eletrônicas até ao fato de ele
supostamente não ser venezuelano nato, mas sim, colombiano.
Os protestos
antigovernamentais deixaram 42 mortos, centenas de feridos e presos nessas e em
outras cidades do país.
As ruas próximas do comando de
campanha de Patricia de Ceballos, no Bairro Operário, no centro de San
Cristobal, ficaram congestionadas de carros e centenas de pessoas que
celebraram com fogos-de-artifício a vitória da oposição.
Pouco antes das autoridades
eleitorais informarem o resultado final da votação, Maduro veio à TV ameaçar os
vitoriosos de que, se voltarem às suas “loucuras” e insistirem na violência
como arma política, novamente “as autoridades agirão e, se for o caso, eles
serão destituídos pelo poder judiciário”.
O governador do estado de
Miranda, Henrique Capriles Radonski, se referiu às eleições de San Diego e de
San Cristóbal, e assegurou que ambos os municípios deram “uma coça” em Maduro.
“Foi uma surra eleitoral para que Caracas respeite a vontade do povo”, escreveu
ele em sua conta do Twitter @hcapriles. O país espera a liberdade de
@Daniel_Ceballos e @ENZOSCARANO”, acrescentou.
Mesmo assim, Capriles se
referiu às eleições presidenciais da Colômbia e exortou que os candidatos, que
vão para o segundo turno, “decidam de fato em função da altíssima abstenção que
houve”. Além disso, recomendou que a reitora do Conselho Nacional Eleitoral
(CNE) da Venezuela, Tibisay Lucena, “desse uma voltinha pela Colômbia para que
veja como se contam os votos e como os totais são anunciados oficialmente, em
duas horas, de 99,51% dos votos”.
Título e Texto: Francisco Vianna, 26-05-2014
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