quarta-feira, 21 de maio de 2014

Os velhos de Copacabana

“Todos desejam chegar à velhice; e quando chegam a ela, acusam-na”.
Cícero

Carlos Lira
Copacabana é considerado o bairro que possui o maior número de idosos em todo o Brasil. A beleza do bairro, as facilidades, clubes exclusivos para idosos, o mar, os restaurantes, enfim, atrações dedicadas exclusivamente a idosos. Muito se escreve sobre a fase hibernal da vida. Cronus, a figura mitológica que representa o idoso. Senhor do tempo, a luz própria que alumia somente os seus passos, a ampulheta e a bengala – símbolo do conhecimento adquirido ao longo do tempo. Cronus não quer tempo de ninguém, ele rege o seu próprio tempo. O caminho do self, a leveza de ser e existir...

Contam que Santo Antão criou o seu exílio voluntário durante a sua velhice, refugiou-se no alto de uma montanha para meditar e orar. Certo dia desceu a montanha e se dirigiu a uma pequena cidade próxima a seu ermitério. Depois de três dias, ao retornar à sua morada, ele exclama em oração: “Meu Deus, voltei para os homens, vivi entre os homens e volto agora menos homem”.

Claro que existem velhos teimosos, intolerantes, resmungões e auto-indulgentes. Neste bairro, velhos com esta característica está crescendo e muito.

Copacabana dos velhos, os velhos de Copacabana. Hoje em dia nem todos os jovens desejam chegar à velhice e, próximos aos 40 ou 50 anos e até antes, procuram pôr fim à vida. Temem este estágio de vida porque deixam de ser senhores absolutos de suas funções. Aos que envelhecem, descobrem-se velhos realmente quando são tratados com respeito pelas jovens moças e sofrem total desprezo dos rapazes.

O fenômeno da velhice aqui em Copacabana está assumindo uma característica alarmante de intolerância e desrespeito por parte dos velhos em supermercados, lojas ou restaurantes. Feito fera raivosa a velhice se arma, se reveste de uma animalesca postura, sai de casa já sabendo a quem atacar e ataca com gritos e xingamentos. O que está acontecendo com esta velhice bronzeada pelo sol de verão? Existem velhos educados, com certeza, mas a maioria está precisando que o seu comportamento fora de casa seja estudado por sociólogos e psiquiatras. Ninguém tem culpa da velhice, a velhice que se abate na velhice dos que chegam lá. Como seria bom que a juventude fosse eterna, que a morte ocorresse somente pelo tempo e não pelo físico.

Conheci um rapaz que trabalhava em uma padaria no bairro do Leme. Os velhos disputavam o lugar para serem atendidos por este rapaz. Qual o motivo de tamanho sucesso? Simples: ele xingava o velho antes de ser atacado. Depois do xingamento por parte do rapaz, a velharada soltava o verbo. Ameaçava chamar a polícia, reclamar junto à gerência da padaria para demitir o rapaz. Depois da gritaria, os velhos retornavam a seus lares para, no dia seguinte, voltarem ao mesmo rapaz. Quando este jovem entrava de férias os idosos reclamavam a sua falta. Passou a ser o preferidinho da velhice desvairada.

Conheço uma moça que trabalha em um supermercado que, em estado de gravidez, sofre muito por causa destes velhos endiabrados.

Devemos sentirmo-nos vivos enquanto estivermos vivos, esta deve ser a realidade de todos nós mas a velhice de Copacabana vai mais adiante, sempre mais. Quem quiser constatar a ferocidade destes idosos inconformados, basta ir à delegacia do bairro e verá idosos com o Estatuto do Idoso em punho denunciando o pobre incauto que cruzou o seu caminho!

A velharia de Copacabana está convertendo o bairro em um asilo exclusivo para eles.

Enquanto isso, as lojas, farmácias, supermercados, restaurantes e delegacia de polícia precisam formar funcionários aptos a ATURAR velhos mal-educados e desbocados.
Título e Texto: Carlos Lira, 21-05-2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-