A inacreditável baixaria e a
apelação na qual o desespero de Dilma Rousseff e a empáfia de Marina Silva
transformaram a campanha eleitoral em sua fase decisiva tiveram um contraponto
na atuação de Aécio Neves, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto,
em sua participação, no último dia 10, na rodada de entrevistas com os
presidenciáveis realizada pelo jornal O Globo. No momento em que o PT apela
para o que sabe fazer melhor - atacar e iludir - e Marina recorre ao
bom-mocismo e à manipulação de obviedades para seduzir um eleitorado ávido por
mudanças, o candidato do PSDB introduziu um sopro de racionalidade no debate
eleitoral.
O que se pode esperar daqui
para a frente da campanha petista é a desfaçatez crescente de Dilma Rousseff
diante do mar de lama que envolve seu governo, como ela demonstrou sem o menor
constrangimento na entrevista ao Estado publicada no dia 9, ao responder sobre
o mais recente escândalo na Petrobrás: "Se houve alguma coisa, e tudo
indica que houve, eu posso garantir que todas, vamos dizer assim, as sangrias
que eventualmente pudessem existir estão estancadas".
"Sangrias", aliás, sobre as quais a ex-ministra de Minas e Energia e
chefe do governo "não tinha a menor ideia".
Marina Silva, por sua vez, tem
falado muito sobre a "nova política" que se propõe a levar ao
Planalto e pouco sobre como e o que fará para transportá-la do plano das boas
intenções para a realidade dura de um ambiente político que a prática dos
últimos 12 anos levou a limites extremos de degradação. E fala pouco sobre os
24 anos em que, sob as asas do guru Lula, militou nas falanges petistas que,
com denodo e método, se dedicaram a desmoralizar as instituições democráticas
do País.
Surpreendido, como todo o
Brasil, pela reviravolta provocada na campanha eleitoral com a morte trágica de
Eduardo Campos, Aécio Neves, cuja candidatura até então parecia presença certa
contra Dilma Rousseff no segundo turno, defronta-se agora com a necessidade de,
em circunstâncias mais desfavoráveis do que até então, demonstrar que é a
melhor opção para um eleitorado claramente ávido por mudanças.
Sem considerar a questão
estritamente política, que é essencial, mas pouco compreendida em toda sua
complexidade - ou simplesmente rejeitada pela maior parte do eleitorado -, o
fator decisivo numa eleição presidencial é certamente a economia, traduzida em
seus efeitos sobre o cotidiano dos cidadãos. Para reduzir a questão a sua
expressão mais simples, quando a economia vai mal a produção cai, os empregos
mínguam, a carestia aumenta e a insatisfação geral se instala. É exatamente o
que acontece hoje no País, depois de quatro anos de incompetente e desastrado
governo.
Diante desse desastre que nem
a indispensável existência de programas sociais como o Bolsa Família consegue
mais dissimular, está claro que o Brasil precisa, mais uma vez, de uma
competente ação governamental de estabilização e desenvolvimento econômico, a
exemplo do que ocorreu 20 anos atrás, quando a inflação anual atingia incríveis
quatro dígitos e o então ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, Fernando
Henrique Cardoso, comandou uma equipe de economistas que criou e implantou o
Plano Real, a partir de três fundamentos básicos: metas de inflação, câmbio
flutuante e superávit primário.
Esse é, claramente, um desafio
para o qual Dilma Rousseff, até por formação ideológica, não tem a menor
disposição - nem o PT dispõe de quadros habilitados - para enfrentar. Marina
Silva, por sua vez, tampouco conseguiu demonstrar até agora genuína disposição,
e disponibilidade do necessário apoio de quadros técnicos, para a difícil
tarefa de recuperar a economia brasileira.
Além do comprometimento
histórico dos tucanos com a estabilidade e o desenvolvimento econômico do País,
Aécio Neves pode contar com a credibilidade de quadros técnicos comprovadamente
competentes. E essa foi a ênfase de sua participação na entrevista ao jornal
carioca, ao repudiar a baixaria e a apelação emocional na campanha: "Tenho feito um esforço maior e vou fazê-lo
até o último dia desta eleição. Acredito que, no momento da decisão, vai
prevalecer a onda da razão".
Título e Texto: Editorial,
Estado de S. Paulo, 14-09-2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-