Há dois dias, segundo a CNN, o
presidente russo, Vladimir Putin, teria dito que “o Ocidente não se meta com
uma Rússia armada com armas nucleares”... Mas tal “recado” seria muito mais
válido se fosse dado pelo Presidente Petro Poroshenko ao Kremlin, uma vez que a
Ucrânia, diferentemente da Geórgia, tem também um poderoso arsenal nuclear.
Todavia, apesar de mais de
cinco mil soldados russos e armamentos pesados de guerra convencional já
estarem em franca invasão do território ucraniano, Putin continua com suas
evasivas vazias de que nada disso está a ocorrer, como os americanos têm
provado aos seus aliados ocidentais através de extensa documentação de imagens
feitas por satélites.
Como se trata de uma guerra
assimétrica (não declarada), as forças locais, ucranianas, são obrigadas a
defender seu território da mesma forma que as milícias agem em outros locais do
planeta. No entanto, com o agravamento da luta, é natural que as armas a serem
empregadas sejam cada vez mais letais e, como mecanismos de destruição em
massa, não se possa descartar o usos de artefatos nucleares, caso não se
consiga uma solução diplomática para o conflito.
Do lado ucraniano prossegue um
intenso trabalho de sapa com escavação de trincheiras fortificadas e instalação
de minas antitanques, enquanto uma longa procissão humana de protestos tenta
defender a cidade estratégica de Mariupol,
no leste ucraniano. O medo de que a Rússia expanda sua invasão ao país vizinho
vai tomando conta da população que começa a fugir em direção ao oeste.
Os analistas militares, não só da Ucrânia, mas de todo o mundo, que acompanham essa agressão russa ao seu vizinho, acreditam qua a cidade de Mariupol seja o próximo foco e alvo da invasão russa e dos traidores pró-Rússia em função do seu acesso geográfico ao mar de Azov, no Golfo de Taganrog e a rota também provê acesso terrestre e marítimo à anexada Península da Crimeia pelos russos em março último.
Rebeldes traidores da Ucrânia,
apoiados por Moscou – com tanques e blindados armados russos, além de, agora,
um contingente que, segundo a CNN, já passa de quatro mil militares russos –,
assumiram o controle da cidade próxima de Novoazovsk, a 45 km a leste de Mariupol,
na quinta-feira, segundo as informações oficiais do governo ucraniano.
No último domingo, residentes
de Mariupol disseram que a cidade estava calma, embora sobre controle dos
insurgentes pró-russos. O Ocidente está cada vez mais alarmado e preocupado com
o que considera um ainvasão de guerra não declarada da Rússia na Ucrânia.
No sábado passado, o
Presidente da Comissão Europeia, o português Manuel Barroso, disse que a crise
no leste da Ucrânia poderá em breve ultrapassar “o ponto em que não poderá
haver volta” e que a Europa poderá aumentar em muito as sanções econômicas e
políticas já impostas à Rússia de Putin.
Enquanto isso, o Presidente
ucraniano Petro Poroshenko advertiu Moscou de que o conflito poderá se estender
até a Europa ocidental, caso Putin leve adiante a invasão que iniciou e que
continua a negar a participação militar de seu país. O presidente ucraniano diz
que seu país tem pela Rússia um grande ressentimento e que muitos odeiam e
temem seu vizinho pelo holocausto imposto por Stalin causando a grande fome de
1932 e a morte de cerca de dez milhões de ucranianos, conhecido como “Holodomor”.
No Capitólio, os senadores
republicanos John McCain (AZ) e Lindsey O. Graham (SC) urgiram que a Casa
Branca imediatamente suprisse a Ucrânia com armamentos e tecnologia e
aumentasse o rigor de novas sanções econômicas a Moscou.
A captura de Novoazovsk praticamente sem resistência abriu uma nova frente nessa
guerra não declarada na Ucrânia que já dura cinco meses, nas regiões de Donetsk
e Luhansk mais ao nordeste. A pequena cidade fronteiriça parece estar agora
firmemente nas mãos dos separatistas pró-Rússia, que hastearam a bandeira da
Federação Russa no novo território a que estão chamando de Neorrússia, como
disseram alguns desses traidores ucranianos a repórteres da Associated Press na
sexta-feira de anteontem e que afirmaram que seus planos agora se concentram na
tomada de Mariupol.
Há focos de luta continua,
neste domingo, em outras partes do leste da Ucrânia. Em Ilovaysk, uma cidade do
sudeste que tinha sido cercada pelos separatistas pró-Rússia, apenas 28 dos mais de 200 soldados ucranianos que defendiam a cidade conseguiram escapar.
Os ucranianos, por sua vez,
capturaram dez paraquedistas russos e os mandaram de volta para Moscou,
enquanto a Rússia libertou 63 soldados ucranianos que tinham cruzado a
fronteira, segundo relato de um militar russo encarregado de fazer o transporte
aéreo de tropas russas à mídia ocidental.
Os ucranianos apresentaram os
paraquedistas russos como prova de que a Rússia executa uma “operação de
guerra” em seu território, enquanto Moscou alega que os paraquedistas “saltaram
em território ucraniano por acidente”.
Muito embora Mariupol tenha
tido um sábado calmo, um porta-voz militar em Kiev exibiu à imprensa panfletos
que disse ter sido distribuído em Novoazovsk ofertando dinheiro para quem
tivesse informação sobre os movimentos de tropa ucranianos e instruindo os
locais como se prepararem para a chegada das “tropas de manutenção da paz da
Federação Russa”. Não houve confirmação da autoria ou de onde esses panfletos
foram impressos.
Andriy Lysenko, um porta-voz
militar ucraniano, disse que o exército do país estava pronto para defender
Mariupol, tendo organizado patrulhas que se revezam 24 horas por dia e
fortalecido as entradas da cidade. Centenas de soldados do exército ucraniano
se posicionaram em postos em torno da cidade, conforme descreveu o prefeito de
Mariupol, Yuriy Khotlubey.
Cada residente desta cidade se
prepara do seu próprio jeito para uma batalha que pode ser encarniçada. Muitos
têm estocado pão e outros alimentos não perecíveis e outras provisões em seus
porões, transformados em bunkers de resistência, sob orientação dos militares
do exército ucraniano. Havia longas filas de carros saindo da cidade aguardando
checagem nos pontos de inspeção. Estoques de alguns medicamentos já estão a se
extinguir. Mais de 800 porões e abrigos já foram designados para uso militar em
caso de barragem de artilharia, disse o prefeito.
A prefeitura distribuiu
passagens de trem grátis para refugiados de outras partes afetadas pela guerra
no país para que possam continuar em sua fuga em direção a áreas seguras no
oeste. Ontem, manifestantes deram-se as mãos e cantaram “Queremos a cabeça de
Putin!”, num ponto de inspeção na periferia a leste de Mariupol.
Outros cidadaos optaram por
manter suas rotinas. Residentes passeavam pelos parques com seus cães e
crianças num fim típico de dia de verão. Concertos ao ar livre, piqueniques e
dois casamentos – disse o prefeito – aconteceram como tinham sido agendados.
Comboios de carros ocasionais percorreram as ruas, com seus ocupantes buzinando
e agitando bandeiras azuis claras e amarelas, a bandeira da Ucrânia.
Mas a ameaça parecia que ia
surgir a qualquer momento ao longe nas estradas. “Vivemos nesta cidade como
cidadãos pacíficos, mas sabemos que os tanques estão vindo para cá”, disse
Vladimir Marchenko, um marinheiro. “Não queremos fazer parte de outra nação”.
Os residentes (uma mistura de
etnias – russa, ucraniana e grega), têm suportado considerável caos social
neste ano. Depois que o país foi afetado por um conflito civil em que ocorreram
protestos maciços contra o presidente do país no início do ano, os separatistas
pró-Rússia estabeleceram uma forte presença na cidade desde 13 de abril a 9 de
maio deste ano. O mandato deles foi marcado por um tiroteio que matou nove
pessoas numa chefatura de polícia.
Autoridades da OTAN e do
governo ucraniano em Kiev têm afirmado que a Rússia tem enviado centenas de
soldados e material bélico para dentro da Ucrânia para ajudar os separatistas,
o que configura uma invasão a um país soberano. As autoridades russas têm
negado essa acusação, alegando que “alguns russos têm se apresentado como
voluntários para dar assistência aos rebeldes separatistas e alguns entraram na
Ucrânia por engano”.
Alguns residentes de Mariupol
dizem que saudarão os soldados russos caso eles e seus tanques entrem na cidade.
“Caso os russos venham até aqui, não haverá guerra alguma e ninguém será morto.
Será como ocorreu na Crimeia e eu me sentiria melhor com o exército russo do
que com o ucraniano”, disse a enfermeira Natália Obolonskaya.
Outros que têm lembrança de como
era a vida antes da Ucrânia se tornar independente, em 1991, no apagar das
luzes da extinta União Soviética, têm um sentimento oposto.
Ludmila Elagina, uma
engenheira aposentada que ajuda a cavar trincheiras como voluntária na cidade,
pelo medo da volta de um regime repressivo. “Quando vivíamos sob o tacão soviético tínhamos nossas vidas controladas
pelo regime e não tínhamos liberdade para nada. Diziam-nos até qual roupa tínhamos
que usar e só podíamos dizer o que eles queriam que disséssemos. A nossa
independência foi como uma segunda vida, o nascimento de algo novo. Nosso vigor
para o trabalho se multiplicou ante a perspectiva de prosperidade e até
tínhamos ânimo para recitar poesias e contar estórias para as crianças que
nossas mães costumavam contar para nós. Agora, o terror volta a criar um
ambiente de tragédia e de submissão”.
A maior incógnita é a de como
ficará essas cidades ucranianas se forem incorporadas à chamada “Novarrussia”,
se sua gente terá que abandonar tudo e buscar novas cidades da Ucrânia onde não
haja tais divisões políticas e, para isso, a Europa e o Ocidente, de uma forma
geral, parecem dispostos a fazer com que a Rússia de Putin pague um preço o
mais alto possível por sua truculência na região.
Título, Imagens e Texto: Francisco Vianna, (da mídia
internacional), 31-08-2014
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