Mario Peixoto é sócio do
presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo, e do presidente do PMDB
fluminense, Jorge Picciani. Os dois políticos foram seus padrinhos em casamento
de luxo na Itália
Leslie Leitão, do Rio de
Janeiro
Sede da Atrio Rio Service, do
empresário Mario Peixoto, no Centro do Rio. Foto: VEJA
|
O castelo Orsini-Odescalchi [foto] é
uma imponente construção medieval do século XV que se destaca na paisagem da
pequena Bracciano, cidade a 30 quilômetros de Roma. É um cenário cinematográfico,
onde se casaram, em 2006, Tom Cruise e Katie Holmes. Noivas de todo o mundo
sonham trocar alianças ali. No último dia 24 de maio, o empresário Mario
Peixoto, de 56 anos, ao mesmo tempo um dos mais poderosos e obscuros homens de
negócios do Rio de Janeiro, concretizou nos jardins do castelo o desejo de sua
bela noiva, Carla Verônica de Medeiros, de 44, numa festa para 50 convidados
seletos. No altar, abençoando a união, dois caciques do governo estadual: o
presidente da Assembléia Legislativa, deputado Paulo Melo (PMDB), e o
presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani.
O castelo, durante o casamento de Tom e Katie, foto: AP |
As cenas dos dois políticos no
altar e depois, divertindo-se na festa, aparecem num vídeo produzido por um dos
convidados e obtido por VEJA. O filme mostra ainda Picciani e Melo na véspera,
saindo do luxuoso Hotel Saint Regis, no coração de Roma, para um passeio
turístico com as respectivas mulheres em uma van fornecida pelo anfitrião.
Motivos para comemoração havia de sobra. Amigo e sócio dos dois próceres
peemedebistas em empresas de incorporação imobiliária, Peixoto se tornou, nas
gestões de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, do mesmo partido, um dos
maiores prestadores de serviços do Rio. Com o governo do Estado, os contratos
somam 480 milhões de reais, dos quais muitos são "de emergência", ou
seja, sem licitação. A maior parte (70%) vem de aditivos. Mais de 281 milhões
foram contratados junto às prefeituras do Rio e de Duque de Caxias, comandadas
por aliados.
Para os padrões de Peixoto, o
casamento no castelo italiano foi uma extravagância – e não pelas cifras
envolvidas, porque, como se vê, dinheiro não tem sido um problema. A questão é
que, ao longo dos últimos sete anos, ele conseguiu ganhar espaço no governo e
tocar seus negócios sem chamar atenção. Tanto que até hoje é desconhecido de
boa parte dos membros da base governista. Procurado por VEJA, Peixoto não fez
nenhuma questão de dissipar a nuvem de mistério que paira sobre ele. Deixou
escapar, porém, ter disputado uma eleição para deputado estadual na década de
90, ocasião em que conheceu Melo e Picciani.
Quando se analisa as contas do
Estado, contudo, é impossível ignorar Mario Peixoto. Várias empresas em seu
nome ou de prepostos, como irmãos e funcionários, aparecem nas listas de
pagamentos, em contratos de prestação de serviços de auxílio administrativo e
operacional, limpeza, vigilância e até de auditoria contábil. Nessas planilhas,
destaca-se também uma entidade com que ele tem conexões: o Instituto Data Rio
(IDR), organização social (OS) administrada por um sócio e onde trabalha sua
ex-mulher. Entre 2012 e 2013, o IDR recebeu 197 milhões de reais para
administrar dez Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) no Estado. O próprio
empresário admite que algumas de suas firmas, como a HBS Vigilância, a Local
Rio e a Atrio Rio Service, receberam parte dessa bolada. Mas, como os contratos
das OSs não são públicos, não é possível dizer
quanto, coisa que Peixoto também não esclarece. “Não sei o valor de
cabeça."
O empresário também ganhou
contratos em alguns dos maiores municípios, como Duque de Caxias, Queimados,
Maricá e a própria capital. Nesses locais, o contratado é o Consórcio Mais
Saúde, em que Peixoto é sócio do presidente do IDR. Pela participação no
consórcio, a Atrio recebeu 281 milhões de reais só do Rio e de Caxias.
Considerando a importância das
empresas e organizações sob a influência do amigo de Picciani e Melo – e ainda
o pendor pelo luxo demonstrado por ele em seu casamento – seria de se imaginar
que as firmas seguissem o mesmo estilo. Não é o caso, como VEJA constatou in
loco. Três delas se espremem em dois andares de um prédio de escritórios da
praça Mauá, no centro da cidade. Já a sede do IDR fica em Saquarema, na Região
dos Lagos. Mas, no endereço onde deveria estar funcionando, há apenas um
cubículo e uma mulher de plantão, que informa: “Não trabalho para o IDR. Só
estou aqui para receber correspondências”. Ela, então, indica outro endereço,
desta vez no Rio, onde não há ninguém nem para atender a porta.
O mesmo acontece nas empresas
em sociedade com Melo e Picciani. Peixoto e o presidente do PMDB fluminense são
sócios em uma incorporadora imobiliária em Búzios, região dos Lagos. Batizada
de Vila Toscana, é uma sociedade entre uma das firmas ligadas a Peixoto e a
Agrobilara, holding de criação de gado da família Picciani. Enquanto o cacique
peemedebista negou a VEJA a sociedade, Peixoto a admitiu, mas disse que a
empresa só existe no papel. “Compramos 25% de um terreno, mas o empreendimento
não vingou.” Já a incorporadora que Melo, o presidente da Assembleia
Legislativa, formou com dois irmãos do empresário, funciona, sim, e está
inclusive construindo prédios na Zona Oeste do Rio. Tem capital social de 10
milhões de reais. A sede fica no endereço da própria obra. Embora os documentos
da junta comercial atestem que Melo tem 25%, o deputado garante que não tem
nada a ver com ela.
Título, Imagem e Texto: Leslie Leitão, VEJA online, 25-9-2014
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