Rodrigo Constantino
Nenhum político deve bater
diretamente no povo brasileiro. Não pega bem, não rende votos e é politicamente
incorreto. Felizmente não tenho pretensões ou ambições políticas. Estou aqui
para dizer o que realmente penso. E eis o que penso: o Brasil desanima,
cansa, ao menos aquelas pessoas conscientes do que está em jogo, mas incapazes
de reagir à altura do desafio.
Como não acordar macambúzio
após a nova pesquisa do Datafolha? A campanha mais sórdida,
mais pesada, mais mentirosa já feita na história deste país surtiu efeito.
Dilma subiu, Marina caiu. No Brasil, a baixaria compensa, a mentira rende
frutos doces.
Já voltaram a falar na
possibilidade – remota, em minha opinião – de vitória no primeiro turno. Lula
convocou a “onda vermelha”, segundo coluna de Ilimar Franco, com a ideia de
colocar nas ruas 1,8 milhão de militantes para fazer “boca de urna”. Do outro
lado, não temos capacidade de mobilização, não conseguimos colocar gente nas
ruas.
E pensar que tantos
acreditaram que o gigante havia acordado em junho de 2013. Que piada! Mas que
piada de mau gosto, gente! Lembro que escrevia textos céticos ou pessimistas à
época, e era massacrado. Eu não tinha entendido nada. O povo brasileiro
finalmente havia despertado e tudo seria diferente, enquanto eu não fazia nada,
só sentado e escrevendo. Pois é…
Tive a companhia, nesse
período de ilusões infantis da turma “esclarecida”, dos jornalistas Reinaldo
Azevedo e Guilherme Fiuza. Este último escreveu em sua coluna de hoje no GLOBO mais um excelente
texto, justamente mostrando como o “gigante” ainda dorme profundamente,
“vendo” o circo pegar fogo bem diante de seus olhos fechados. Diz Fiuza:
Ora, não resta outra
conclusão possível: o eleitor quer entrar na farra do petrolão. Está vendo quantos
aliados de Dilma encheram os bolsos com o duto aberto na Petrobras, e deve
estar achando que alguma hora vai sobrar um qualquer para ele. É compreensível.
Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine quando a
prospecção chegar ao pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar (a não ser os
reacionários que não cultivarem as relações certas).
É o show da brasilidade. O
operador do petrolão é colocado no cargo no segundo ano do governo Lula,
indicado por um amigo do rei já lambuzado pelo mensalão. No tal cargo — a
Diretoria de Abastecimento da Petrobras —, ele centraliza um esquema bilionário
de corrupção, que floresce viçoso à sombra de três mandatos petistas. A exemplo
do mensalão, já se sabe que o petrolão contemplava a base aliada do governo
popular. E quase 40% dos brasileiros estão dizendo que votarão exatamente na
candidata desse governo lambuzado de petróleo roubado.
Mas os progressistas
continuam sentenciando, triunfais: o Brasil jamais será o mesmo depois das
manifestações de junho de 2013. Nesse Brasil revolucionário, cheio de cidadãos
incendiados de bravura cívica, a CPI da Petrobras, coitada, agoniza em praça pública.
Sobrevive a cada semana, a duras penas, com mais um par de manchetes da
imprensa burguesa e golpista, que insiste em sabotar o programa do PT (Petrolão
para Todos). Tudo em vão. Com uma opinião pública dessas, talvez os
companheiros possam até desistir do seu plano chavista de controle da imprensa:
o assalto à Petrobras não faz nem cócegas no cenário eleitoral. Contando,
ninguém acredita.
E não dá para acreditar mesmo!
Como resume Fiuza, o Brasil está louco para virar a Argentina. São infindáveis
escândalos e nada. O que dizer de um povo desses? Extremamente ignorante ou
cúmplice do butim? Fiuza ironiza, pois é o que nos resta: “O eleitor está
certo: vamos reeleger Dilma. Assim chegará o dia em que não apenas a elite
vermelha, mas todo brasileiro terá direito à propina própria. Chega de
desigualdade”.
É muito complicado ter algum
tipo de esperança em um país como o nosso. Gostaria de passar uma mensagem de
luta, de esperança, de fé em nosso povo, em nossa capacidade de reverter tudo
isso, de mudar para melhor, de colocar o Brasil na rota do desenvolvimento
sustentável e da ética. Mas não tenho, no momento, forças ou argumentos para
combater aqueles que, cínicos, céticos ou realistas, repetem que isso aqui não
tem mais jeito e mandam que o último a sair apague as luzes. A coisa está feia…
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, 27-9-2014
Colaboração: José Manuel
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