João Bosco Leal
Tornou-se comum entre os
brasileiros utilizar muitos dos recursos atualmente disponibilizados pela
medicina para retardar seu envelhecimento. Vitaminas orais ou injetáveis,
suplementos minerais e os mais diversos tipos de cirurgias são utilizadas com
essa finalidade.
Em busca da beleza física, os
salões de beleza estão repletos de homens fazendo as unhas, limpeza de pele,
depilação, tratamentos capilares e outros soluções antes só utilizadas pelas
mulheres.
Caminhadas, corridas e
academias de musculação acompanhada por um Personal trainer já fazem parte do
quotidiano da população que tem tempo e pode pagar por isso.
Nas clínicas de cirurgia
plásticas são encontradas pessoas em busca da correção de detalhes mínimos em
seus físicos, como rugas nos cantos dos olhos e testa, as “papadas” abaixo do
queixo, narizes ou orelhas que não as agradam, preenchimentos labiais e de
outras partes do rosto, “esticadas” na pele facial já flácida, implantes
capilares e de silicones nas mamas, nádegas e muitas outras possibilidades
oferecidas para a “escultura” dos corpos.
Normalmente elas sofrem por
não aceitar as leis da natureza e terminam por espalhar esse sofrimento para
todos que os circundam. Entretanto, mesmo com todas essas possibilidades,
querer reconquistar a memória ágil, a forma e a agilidade física ou a
barriguinha que possuía na plenitude da juventude, seria algo de preço
extremamente elevado e muitas vezes, além dos riscos, expõe a pessoa a
resultados inversos ao desejado, transformando-a em uma caricatura de si mesma.
A natureza jamais permitirá
que verdadeiramente retrocedamos vinte ou trinta anos em uma mesa cirúrgica e
essa é a graça da vida. Passamos por diversas fases e em cada uma crescemos,
aprendemos, acertamos, erramos, amadurecemos e, maduros, sabemos o que nunca
conseguiríamos saber décadas antes.
Ocorre uma troca, a juventude
passa, mas o conhecimento se avoluma, permitindo uma vida com mais sabedoria,
harmonia com o próximo, menos desgastes desnecessários, aprendemos a admirar e
aproveitar mais cada detalhe de um novo raiar ou pôr do sol, que a natureza nos
disponibiliza diariamente e que décadas atrás não eram sequer notados.
Muitas coisas do passado são
hoje impraticáveis e é bom que assim seja, pois com a maturidade percebemos que
no passado falamos ou fizemos coisas que hoje não repetiríamos, corremos riscos
desnecessários, andamos depressa demais e que, muitas vezes, poderíamos ter nos
machucado e até mesmo morrido.
A lei da gravidade, a menor
agilidade, as diferenças nos prazeres físicos são, psicologicamente,
transformadas em sofrimentos, mágoas, tristezas, quando poderiam ser encaradas
de forma mais sutil, se entendidas simplesmente como alterações e não como fim,
pois nada terminou, só mudaram os padrões de beleza, o modo e o tempo que se
leva em busca do prazer, o que inclusive pode ser encarado como uma grande
vantagem.
Todos possuem um arquivo
mental, onde guardam suas histórias, os erros e acertos, as perdas e ganhos, os
fracassos e sucessos que agora os ensinam a buscar uma vida melhor, com mais
qualidade, sem angústias desnecessárias, que nada resolverão.
As rugas são os sinais de como
aprendemos a esquecer o inatingível e a só buscar o possível.
Título, Imagem e Texto: João Bosco Leal, jornalista, escritor e
empresário, 3-10-2014
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