Rodrigo Constantino
A sessão de carta dos leitores do GLOBO de hoje publicou quatro comentários bastantes negativos contra minha coluna de ontem, e nenhum favorável. Estranho, pois choveram elogios pelas redes sociais e aqui no blog.
Os comentários falam que é um
desrespeito eu chamar a outra metade do país de desonesta ou alienada, que sou
agressivo, raivoso, dissemino o ódio, escrevi algo abominável, e deveria haver
limites para a liberdade de expressão. Lá vamos nós…
Constatei apenas o que para
mim é um fato: só pode ter votado em Dilma após tantos escândalos de corrupção
bem no centro de seu governo quem é conivente, indiferente ou cúmplice dessa
podridão toda. Ou alguém muito alienado mesmo. Não vejo outra alternativa.
Como dizia o embaixador Meira
Penna, um doce de pessoa e nada raivoso, mas sincero, ou o marxista é um
patife, ou burro. Marxista honesto e inteligente eu desconheço. E o pior é que ainda
citaram, como prova de meu equívoco, gente como Chico Buarque, Caetano,
Francisco Bosco e Xico Sá. Sério?
O PT rachou o país ao meio.
Fomentou o ódio, a luta de classes, apelou para o “nós contra eles”, criou
inimigos fantasmas, segregou a nação toda. Agora, após uma vitória questionável
do ponto de vista legal e inquestionavelmente podre do ponto de vista ético,
quer “conciliação”, quer “paz”, quer “diálogo”. Não!
O lado de cá não quer dialogar
com quem joga tão sujo, dissemina o ódio, abusa da máquina estatal, compra
votos de miseráveis, faz terrorismo eleitoral, difama os adversários, vistos
como inimigos mortais. Não quer diálogo com quem quer dialogar com terroristas
islâmicos que degolam inocentes, ou com quem se alinha aos piores ditadores do mundo.
Eis o que não aceito: a
equivalência moral dos dois lados. É o que a máquina ideológica deles tentará
fazer agora. Já tentam colar em gente como eu a imagem de ser o que dissemina o
ódio, a raiva, enquanto estou apenas indignado, como 51 milhões de brasileiros,
e defendendo a ética e a democracia.
Será que quem se mostrou
indignado e agiu com firmeza, sem contemporizar, com figuras como Chávez ou
Kirchner, eram “intolerantes” ou “raivosos”? Não! Eram democratas lutando
contra regimes opressores, aquilo que o PT pretende ser. E quem não enxerga
isso é alienado. Quem enxerga e não liga, é desonesto ou patife.
Um artigo publicado pelo jornalista Felipe Benjamin no mesmo
jornal tenta levantar uma bandeira de paz também, aparando as arestas. Diz que
os dois lados têm seus extremos, mas que desejam as mesmas coisas: “serviços
públicos da melhor qualidade para nós e para os filhos que temos ou (não) teremos;
uma economia que não esmague os trabalhadores, nem arruíne os empreendedores;
uma sociedade mais justa e inclusiva”. Falso!
O PT deseja o modelo
venezuelano. Quem não enxerga isso é alienado. Quem enxerga e não liga, é
patife. Mas o jornalista continua, como se houvesse equivalência moral de ambos
os lados:
Vocês
sabem que não devoramos criancinhas ao som de rumba cubana e — embora certos
discursos ainda assustem de vez em quando — nós também sabemos que vocês não
querem essas criancinhas trabalhando 18 horas por dia nas minas de carvão.
Aí é que está: comunistas de
fato devoraram crianças, como mostram os livros sérios de história, enquanto o
capitalismo não foi o responsável pela desgraça das crianças trabalhadoras, e
sim sua salvação: antes da revolução industrial elas morriam de fome!
Continuaram morrendo nos países que não abraçaram o capitalismo. O PT é
companheiro da ditadura cubana, que prende e mata pelo “crime” de opinião.
Alguma mentira?
O autor termina como se fosse
apenas uma simples questão de preferência subjetiva, como uma cor predileta,
optar entre um e outro. Não é: um lado quer aparelhar a máquina estatal toda,
manter uma quadrilha no poder, e lá se perpetuar, custe o que custar; o outro
joga o jogo democrático. Não enxergar isso é ser alienado. Enxergar e não
ligar, é ser patife.
E vejam que o PSDB nem é
“neoliberal” como alegam, muito menos um partido radical. É um partido de
centro-esquerda, social-democrata, nos moldes europeus. Essa tática, portanto,
de colocar o PT como esquerda e os tucanos como direita, já é parte de um
interesse pérfido, ou de alienação.
“De nada adiantará estarmos
certos nas nossas convicções se estivermos ilhados no campo das ideias”,
conclui o jornalista. Concordo. Mas discordo totalmente de que é possível tal diálogo
com o PT. Os petistas mostraram o que são faz tempo. Fazem “o diabo” pelo
poder. Encaram a democracia como uma farsa burguesa, que deve ser superada,
usada para destruí-la, como feito na Venezuela. Quem não enxerga é alienado.
Quem enxerga e não liga, é patife.
Diante de tudo isso, pergunto:
dá mesmo para ter um amigo petista? Antes que me acusem de radical e raivoso,
cito o próprio Francisco Bosco, ícone desse lado de lá, que escreveu
recentemente achar totalmente legítimo romper amizades se houver uma profunda
divergência na visão de mundo. Pois é: finalmente concordo com ele em alguma
coisa.
Não acho possível manter uma
amizade com um típico petista, alguém que ou é muito alienado, ou um patife,
alguém que acha José Dirceu um “herói”. E que ainda por cima quer destruir a
minha liberdade!
PS: Dito isso, nem todos que
votaram em Dilma são típicos petistas. Muitos podem ter sido enganados, após
tanta lavagem cerebral. São os alienados do bem. Com esses ainda dá para manter
diálogo e tentar persuadi-los de seu enorme equívoco. E dá até para manter a
amizade, desde que a inteligência não seja um critério muito elevado na sua
escolha…
PS2: Vários desses típicos
petistas foram até minha página no Facebook destilar seu ódio contra
mim, repetir como sou um idiota, um ser desprezível, infeliz e solitário.
Fizeram isso para provar como são compassivos e abnegados, claro, e acima de
tudo tolerantes, ao contrário de mim. Entenderam?
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, VEJA,
29-10-2014
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