terça-feira, 25 de novembro de 2014

Com “Petrolão”, provavelmente surgirão novas forças políticas no Brasil, como ocorreu em outros países

Cesar Maia       
1. As crises morais, políticas e econômicas têm aberto espaço para o surgimento de forças políticas alternativas. Os desdobramentos, ou seja, a sustentabilidade dessas forças políticas depende das circunstâncias e de cada caso. Na América Central isso ocorreu na Guatemala recentemente, como resposta a crise da segurança pública, no Panamá com a ascensão de novos partidos à presidência e até na Costa Rica com eleição de um outsider para a presidência.
       
2. Na América do Sul essas rupturas têm tradição. Na Venezuela o debacle moral e político abriu espaço para o chavismo e, na sua esteira, o Equador e a Bolívia. No Peru, abriu caminho para o fujimorismo, que permanece no partido dos filhos como primeira ou segunda força política e para uma vertente chavista moderada.
       
3. Na Argentina, a legislação eleitoral, pragmaticamente, autorizou a fragmentação partidária a qualquer momento, com legendas paralelas de um mesmo partido, com fusões partidárias provisórias, apenas para uma eleição, com candidatos a deputado autodeclarados testemunhais que puxam legenda e depois renunciam antes da posse, etc.
       
4. A Europa não ficou de fora. Ao contrário. As crises na África do Norte e suas migrações, a crise econômica desde 2008, e as crises morais específicas, abriram espaço para um novo nacionalismo, para a antipolítica, e para o desmonte de alguns partidos tradicionais. Aí estão os exemplos. O mais gritante é o da Grécia. A Espanha não ficou fora disso com o “Podemos” que lidera as pesquisas. Os nacionalismos e partidos representativos aí estão no Reino Unido, na França, nos países do norte da Europa, na Áustria...
       
5. O ressurgimento de movimentos separatistas é outro vetor desse processo. Vide o recente plebiscito na Escócia, o plebiscito informal na Catalunha, um processo análogo que começa em Veneza, e a guerra civil na Ucrânia, como desdobramento da crise econômica e moral.

6. O “mensalão” teve um impacto inicial nesse sentido ao expandir a abstenção e os votos brancos e nulos. Em 2010 e 2014 a candidatura de Marina mostrou as fissuras no quadro tradicional. Foram criados partidos, mas nos dois casos são novas legendas para teses tradicionais. Agora vêm a criação de outros dois – a Rede de Marina e o Partido Novo, esse com teses liberais radicais, mas que afirmam uma postura de antipolítica na crítica ao Estado.
       
7. Os partidos com expressão no Congresso – com a experiência que têm e preocupados com esse processo – criaram uma rede de proteção com uma legislação impeditiva de que os deputados tivessem portabilidade de fundo partidário e tempo de TV ao entrarem em um novo partido. A eleição parlamentar de 2014 mostrou a força que tem o voto conservador de um lado e a força que tem o voto antipolítica de outro. No conjunto são roupagens de direita, de esquerda e de antipolítica que mostram que esse processo avança no Brasil.
       
8. Em 2015, com o desdobramento do “mensalão” para o “petrolão”, este processo provavelmente culminará, atingindo os maiores partidos na câmara de deputados. Que, aliás, minguaram em 2014 para 13% e 10% dos deputados. Que forças políticas entrarão por este enorme vácuo criado? Os espaços estão abertos para a antipolítica, para o populismo, para outra direita e para outra esquerda. As eleições municipais em 2016 ajudarão as análises. 
Título e Texto: Cesar Maia, 25-11-2014

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