Jacinto Flecha
Chamou várias vezes a
minha atenção, em filmes americanos ou ingleses, a cena em que se reúnem muitas
pessoas em torno de dois que começam a brigar. Logo se dividem as manifestações
de apoio a cada contendor. Frequentemente se fazem apostas, e em alguns casos o
conflito se generaliza, com os espectadores participando numa luta de todos
contra todos.
No Brasil, terra das
revoluções pacíficas, a evolução de uma briga sempre foi diferente, qualquer
que seja a idade dos contendores. Logo aos primeiros gritos, desaforos e
sopapos, junta-se a turma do deixa disso. Geralmente a turma
consegue apartar os dois, e assim se extingue um espetáculo cujo prosseguimento
agradaria aos anglo-saxões. Patenteiam-se nisso duas mentalidades, dois modos
de resolver conflitos, duas condutas de países ao longo da História. Qual das
duas é melhor, mais sensata, mais útil? Não tenho a menor dúvida de que a
resposta desafiadora contra uma agressão injusta é a melhor, a única aceitável
e realmente eficiente.
Considero extremamente
prejudicial uma campanha mundial da mídia para abolir o bullying (ameaça,
intimidação) nas escolas. Antigamente o modo prático e eficiente de resolver o
assunto era: Eu te espero lá fora. O desafiante poderia levar uns
tabefes, mas o valentão não sairia inteiro. Será que o pacifismo choramingante
das escolas de hoje é capaz de formar corajosos, empreendedores, vencedores?
Duvido muito. Ou será isso mesmo o que desejam certos educadores e sociólogos
pacifistas do mundo ocidental, sempre prontos a ceder tudo aos valentões do
pedaço?
Lembro-me de um filme (não do
seu título) em que um garoto irlandês bem franzino foi provocado, desafiado e
até agredido na escola por um valentão. Chegou em casa chorando, decidido a não
voltar à escola. Ao invés de o consolar, passar a mão na cabeça, transferi-lo
para outra escola, envolver o diretor em alguma lei anti-bullying,
o pai levou-o naquele mesmo dia a um experiente professor de artes marciais.
Quando o garoto voltou à escola, encerrou o bullying de uma
vez por todas. Seria ele mais bem servido, se recebesse do pai um apoio pacifista?
Não tenho dúvida de que o melhor foi resolver o problema pelo modo anglo-saxão.
Campanhas mundiais pacifistas –
como essa contra o bullying nas escolas – geralmente são
promovidas por quem adotou uma visão unilateral do assunto. Se “o outro lado”
fosse consultado e ouvido com atenção, possivelmente as conclusões lhe seriam
favoráveis ou menos contrárias. Tente imaginar, por exemplo, o que pensa um
desses meninos agressivos que se dedica a molestar um colega molenga, fraco,
feio. Ele pode estar querendo ajudar esse colega a vencer sua moleza, timidez
ou feiura. Na cabeça dele talvez esteja a ideia de uma pressãozinha para fazer
o outro reagir e melhorar, como quem dissesse: Toma jeito, rapaz, ou então vai
se dar mal!
Se a criança não é estimulada
a reagir aos próprios defeitos – entre os quais a moleza e a timidez que o
menino agressivo notou e hostiliza – não saberá lidar futuramente com as
dificuldades que a vida sempre traz. Essa conduta leniente, permissivista, vai
gerar proprietários que não reagem ao invasor, professores que não combatem a
indisciplina, pastores que não defendem o rebanho, sacerdotes que não combatem
o mal e o pecado.
Quando conceitos negativistas
como esses ganham terreno na sociedade, prosperam polícias que não combatem o
crime, oposições políticas que não combatem os erros dos governantes,
judiciário que não pune os culpados, exército que não defende o país. É isso o
que queremos?
Tenho visto na internet outro
tipo de propaganda pacifista, onde dois animais de espécies diferentes, que
sempre procederam como inimigos, aparecem aos abraços e lambidas mútuas.
Antigamente se aplicava a expressão como cão e gato, para censurar
duas pessoas briguentas. A expressão está desatualizada, cães e gatos como
esses não brigam mais. Até a pancadaria do Tom & Jerry tem virado
confraternização.
A criança tem de ser instruída
para se defender do mal, personificado em quem é mau. Começa nas relações
pessoais, depois toma corpo dentro da sociedade. Você acha eficiente uma
educação que não leva isso em conta? Talvez valesse alguma coisa num mundo
hipotético onde ladrões fossem honestos, incompetência não gerasse desastres,
preguiça resultasse em progresso, e até bactérias não provocassem doenças.
Minhas considerações podem
levá-lo a pensar que sou belicista, mas seria esta uma impressão bem distante
da realidade. Sou apenas favorável a se obter a paz de acordo com o provérbio
romano si vis pacem para bellum. Para obter a paz, temos de nos
preparar para a guerra. E enfrentar o inimigo pra valer, se necessário,
inclusive entrando em guerra contra ele. Você acha que gente como Al-Qaeda,
Estado Islâmico e Putin entendem linguagem diferente desta?
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Parabéns, e concordo plenamente com tudo o que você escreveu
ResponderExcluirSou totalmente a favor da máxima de que a toda a ação corresponde uma reação de igual intensidade e sentido contrário. É o seu ponto de vista anglo-saxão em pleno funcionamento.
O que acontece atualmente no mundo em que vivemos, é a total ausência dos responsáveis, sejam eles os próprios pais, o governo e a sociedade como um todo.
José manuel