Luciano Henrique
O Sr. Marcello Reis, um dos
principais responsáveis pela comunidade de Facebook Revoltados On-line,
e organizador de uma das três frentes de manifestações que resultaram em
movimentos nos dias 1 e 15 de novembro, frente ao MASP, é bastante claro em
suas demandas. Elas são duas:
·
Impeachment de Dilma
·
Anulação das Eleições
A lógica é clara. Se as
demandas são duas não são três. Se são apenas duas, outras demandas estão
excluídas. Essa é uma conclusão óbvia. Sendo apenas duas demandas,
significa que tanto esforços como as expectativas deste “exército” então
direcionados a dois focos.
Até aqui tudo bem, certo? Nem
tanto, pois o diabo mora nos detalhes. Ambas as demandas de Marcello são
irrealizáveis a curto prazo.
Para existir um impeachment
são necessárias provas contundentes de corrupção, por exemplo. Não apenas
interpretações forçadas para levar a uma conclusão pré-estabelecida. É preciso
realmente de provas. Um exemplo seriam transações em contas correntes no
exterior atrelando recebimento de propinas diretamente a Dilma. Caso surja uma
evidência deste tipo, o tema do impeachment volta à tona. Outra questão
pode ser a comprovação definitiva de que o dinheiro da corrupção foi usado na
campanha de Dilma. Ainda falta algo para chegarmos a esse momento.
Para ocorrer anulação das
eleições, seriam necessárias evidências incontestáveis de fraude. Por exemplo,
o caso da tal urna eletrônica que deu 400 votos para Dilma tem total cara de“hoax”. E que eleições seriam anuladas? Todas elas? Incluindo aquelas para
governos de estados onde o PT sofreu várias derrotas acachapantes? Ou as
eleições para deputados, onde o PT simplesmente perdeu 18 cadeiras e ainda viu
crescer amplamente uma base de oposição? Portanto, devagar com o andor que o
santo é de barro.
Já demandas interessantes
poderiam incluir um pedido por maior agilidade nas investigações do
Petrolão, pois as delações não podem durar uma eternidade. Queremos prioridade
nessas investigações! Também poderíamos exigir um processo mais transparente de
votação, com a impressão de recibos a serem depositados em uma urna, para os
próximos pleitos. Isso ajudaria a retirar as dúvidas remanescentes e seria a
requisição de um direito do eleitor. Isso já poderia ser encampado no início de
2015, com vistas à eleição de 2016 já. A luta, neste caso, seria pelo direito
do eleitor ter um recibo de seu voto, a ser depositado em urna.
Mas temos outras demandas
importantes, por exemplo:
· Embargo à Venezuela, depois dos crimes de
violação de nossa soberania, e encerramento de qualquer acordo comercial com
eles
· Retorno imediato de Rachel Sheherazade ao SBT (e
o mesmo vale para Paulo Roberto Martins, mais uma vez impedido de falar)
· Desmascaramento público das intenções por trás
do Plebiscito Constituinte
· Agilidade nas investigações do Petrolão
· Estabelecimento de um limite para indicações de
juízes no STF para o partido no poder, de forma a evitar aparelhamento
· Transparência no uso de verbas públicas para
anúncios, em especial para blogs políticos de apoio ao governo
· Derrubada definitiva do decreto de conselhos
não-eleitos
· E daí por diante.
Todas essas demandas tem
vantagens poderosas em relação às demandas de impeachment e anulação de
eleições, pois:
1. São facilmente defensáveis
2. Não podem ser facilmente atacadas pelos
governistas
3. Podem se transformar em “caso” político com o
Congresso atual (e ainda mais com o Congresso futuro)
4. Se ocorrer esforço suficiente, podem ser
realizáveis
5. Prejudicariam seriamente o governo petista caso
fossem aceitas
Daí alguém diria: “Ah, mas
impeachment prejudicaria mais o governo do que todas essas demandas”. Sim, mas
não é facilmente defensável e, ao menos atualmente, dificilmente realizável.
Qualquer organizador de
movimentos deve saber de uma coisa importantíssima: aos poucos, as demandas
irrealizáveis desanimam o movimento, pois o ser humano investe esforços naquilo
que gera resultados.
E então o diabo, que mora nos
detalhes, pode se exibir com toda sua majestade: ao pedir demandas
irrealizáveis (e vulneráveis aos ataques governistas), pode ser criada uma
legião de pessoas cada vez mais desesperadas. Essas pessoas não irão questionar
as demandas escolhidas, para dizer que suas demandas não foram atendidas por
causa de um “estado falido”.
E aí vem o questionamento mais
incômodo de todos: não seria a priorização por demandas irrealizáveis uma forma
de se buscar validação moral para pedidos por intervenção militar? Pode até ser
que Marcello não tenha tido esta intenção, mas muitas outras pessoas podem querer
exatamente isso.
Vamos imaginar que o Sr.
Marcello Reis seja dotado de boas intenções. Mesmo assim é possível que exista
uma influência radical nesses grupos. De mais a mais, dos grupos de
manifestantes qual é aquele que se recusa a afirmar “sou contra a intervenção
militar” e, ao invés disso, diz apenas “não apoio intervenção militar”. Ora, se
alguém decide estuprar sua esposa você seria contra este ato ou apenas alguém
que “não é a favor” deste estupro? É claro que a expressão “não sou a favor” é
inconvincente para este momento. Me parece no mínimo uma concessão
aos radicais.
O que proponho aqui é que
devemos apoiar as manifestações, mas que passemos a questionar se as demandas
são realizáveis ou não, em curto prazo, e até os motivos para priorização de
demandas. Pessoas organizando manifestações devem estar abertas a este tipo de
questionamento, assim como à cobrança por resultados.
Preste atenção especial aos
grupos priorizando demandas irrealizáveis. É daí que pode surgir uma
radicalização que cairia como uma luva para os petistas. Seja essa uma intenção
dos organizadores ou não.
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