quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Passado com orgulho e presente com vergonha

José Manuel
Quanto vale um dólar hoje e quanto valia há sessenta e sete anos? A resposta é: a mesma coisa, pois a referência unitária é e sempre será a mesma.
UM (1).

O que irá variar é o poder de compra que essa unidade tem ou tinha, dependendo de, por exemplo, flutuação cambial, inflação, valorização da moeda e outros aspectos econômicos inerentes à moeda e à economia do país dessa moeda.
Principalmente, de como se faz uso desses valores, podendo agregar riqueza a muitos ou gerando desperdício, prejuízo sem volta, a todos.
Pode ocorrer, por exemplo, que essa unidade tenha tido mais valor agregado naquela época do que hoje em dia. É perfeitamente possível. É a economia.

Em 1947, portanto, há sesssenta e sete anos, a Europa estava arrasada por uma guerra contínua de seis anos, que ceifou milhares de vidas com incontáveis prejuízos e a economia, não só dos países envolvidos mas também as dos periféricos à luta armada, encontrava-se totalmente estagnada, pois apenas se produzia o rescaldo do espólio da guerra, com a contabilidade dos prejuízos.

Nessa época, os Estados Unidos estavam em pleno desenvolvimento de sua riqueza interna, pois através da Lei de empréstimo e arrendamento estimularam o investimento de capital e a capacidade industrial do país. No final da segunda guerra a maior parte dos países europeus estava em saldo negativo com os Estados Unidos, ou seja, juros sobre juros, gerando dessa forma uma conta tão alta que contribuiu para o crescimento financeiro dos EUA.

Eles estavam errados? Não, apenas não começaram uma guerra.
Simples assim, ou seja, entre os combatentes, os Estados Unidos foram o único país a se tornar muito mais rico, ao contrário dos restantes aliados, que empobreceram por causa da guerra.

Filosofias ou teorias à parte sobre como esses recursos foram amealhados, o que importou, mesmo com qualquer hipótese de lucro ou não, foi a ajuda humanitária e tecnológica em recursos protagonizada por esse país aos países economicamente destroçados da Europa.

O célebre plano Marshall de recuperação econômica da Europa aportou à região afetada ao longo de quatro anos a quantia de treze bilhões de dólares em assistência técnica e econômica.
Esses recursos foram distribuídos de acordo com as necessidades mais prementes dos envolvidos e, de uma forma geral, utilizados na compra de combustíveis, máquinas, veículos, matérias-primas, alimentos, rações e fertilizantes.

Sem essa ajuda, que poderia não ter ocorrido, a Europa ainda estaria hoje se ressentindo dos horrores da guerra.
Entre os maiores credores dessa ação estavam a Inglaterra (3,2 bilhões), França (2,7 bilhões), Itália (1,5 bilhão) e Alemanha (1,4 bilhão). O total do empréstimo, na época: treze bilhões de dólares.


Graças a esse esforço e, inegavelmente humanitário também, quatro anos após a Europa já apresentava um quadro em desenvolvimento, em especial o país que tinha sido o precursor do conflito armado.

Mas, isso é apenas passado, e já se encontra nos anais da história, servindo apenas para exemplificar como se pode ou não gerenciar quantias imensas como a citada.
Em um pulo de teclado, chegamos ao presente, mais precisamente ao Brasil, país riquíssimo em recursos naturais, mas, ao que tudo indica, perdido completamente no emaranhado dessa mesma história, sem saber se fica, vai para a frente ou retrocede no tempo.

Enquanto o plano Marshall, aportou  treze bilhões de dólares, para reerguer a economia de um continente e em quatro anos, aqui no Brasil e apenas no ano de 2014,  segundo o Banco Central, os brasileiros gastarão no exterior em compras supérfluas, hospedagem, alimentação, passeios, aluguel de carros e outros mimos, uma quantia que irá superar o plano Marshall, em quase seis bilhões de dólares.

Dezoito bilhões e quinhentos milhões de dólares vão ser deixados de graça pelos nossos turistas, diferentemente do plano de ajuda, sem que isso reverta um centavo sequer à economia do nosso país.
Ou seja, para ser mais claro, estamos trabalhando para deixar mais ricos vários países, enquanto o nosso cada vez mais se afunda. Completamente ao contrário do que ocorreu com os EUA.

É por isso que somos pobres, em sendo ricos, e apenas para constar, em  2012 foram vinte e dois bilhões; em 2013, vinte e cinco bilhões, e para 2014 estima-se, após a alta do dólar, um gasto de dezoito bilhões e quinhentos milhões. Tudo em dólares, é claro.
Total em três anos: quase SETENTA bilhões de dólares saíram para sempre do nosso país.

Não está aqui sendo contabilizado o que foi remetido para o exterior em paraísos fiscais pela corrupção, cujos valores estarão com certeza muito acima dos cem bilhões de dólares.

Ora, os valores aportados à Europa há sessenta e sete anos e corrigidos pela inflação chegam a cento e trinta e cinco bilhões de dólares, o que ainda assim está muito abaixo do total sangrado ao Brasil nos últimos três anos.

Essas lições de passado e presente, nos mostram o porquê por exemplo de estarmos fechando o ano de 2014 com uma perda de trinta mil postos de trabalho.

Nos mostram o porquê de não conseguirmos fechar as contas do ano de 2014, ferindo inclusive a lei de responsabilidade fiscal. 

Nos mostram a inadimplência cada vez maior das médias e pequenas empresas, que não têm como fazer frente à concorrência desleal dos importados e contrabandeados.

Nos mostram o porquê do pibinho brasileiro estar fechando o ano de 2014 em 0,9%.
E também nos mostram a completa incompetência intelectual e política  para gerenciar um país rico, multirracial, multirreligioso e continental como o Brasil.

Será que vamos ter que chegar ao ponto de implorar em orações ao espírito do secretário americano e nobel da paz, George Catlett Marshall, Jr., que venha com urgência nos socorrer de uma irremediável catástrofe, já de há tempos anunciada? 
Título e Texto: José Manuel, 19-11-2014

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