José Manuel
Ora vejam só, 520 anos após
Portugal e a Espanha terem assinado o tratado de Tordesilhas, em que uma linha imaginária e vertical dividia as terras da
Espanha a oeste e de Portugal a leste, também dividia o Brasil
praticamente em dois, no sentido oeste/leste, acabamos de reinventar esse
tratado inclinando a linha para a esquerda, quase na horizontal e dividindo o
país novamente ao meio, mas desta vez no sentido Norte e Sul, e em pleno século
21.
Como dezesseis estados que não
são autossuficientes ao norte, elegem um governo em que os outros dez que os
sustentam ao sul desaprovam, ninguém consegue entender, porém, a relação
causa e efeito tem lá as suas verdades.
Nessa nova e promissora
divisão, Caetés, que até então era uma cidade perdida
no sertão pernambucano e de banda, ou melhor, a leste da linha de
Tordesilhas, passa a ter uma importância fundamental, porque além de ser a
terra natal do novo descobridor de um pseudo mundo novo, fica em uma posição
privilegiada ou seja totalmente na direção "acima", como
convém ao novo poder.
Pelo continuar da inclinação
da linha, tem tudo para ser a nova capital destepaíz no
novo eldorado real ensolarado, digna representante da nova classe média
bolsista que habita por toda aquela enorme região.
Como em 1972, em que Jean-Bédel Bokassa se
proclamou imperador do Império Centro Africano, como Bokassa l,
inspirado em Napoleão Bonaparte, de quem era admirador fervoroso,
poderíamos também fazer uma coroação do novo rei norte-americano do sul.
Os dados estão todos aí, e
como copiamos tudo, é só seguir a lista, que facilitaria muito a todos.
A cerimônia custou, naquela
época, trinta milhões de dólares, quantia irrelevante para os tempos atuais,
com três mil autoridades convidadas, com todas as despesas pagas. Bokassa I
chegou para a coroação numa carruagem de oito toneladas, toda enfeitada a ouro,
usando um manto de nove metros em veludo púrpuro que pesava cerca de trinta
quilos e sapatos de pérolas.
O trono tinha a forma de uma
águia com três metros de altura e quatro de largura. A coroa trazia uma águia
em ouro.
Para não ficar muito
repetitivo e sermos originais, uma vez que somos "penta", agora
poderíamos substituí-los por uma taça como trono e por uma bola como coroa, por
exemplo. A taça e a bola, de ouro, é claro.
Para receber seus convidados,
entre outros o presidente da França à época, Valéry Giscard D'Estaing,
que colocou o anel real no dedo do monarca, o Príncipe Charles mais comitiva
real e também representantes do Vaticano, mandou construir modernas casas pré-fabricadas
só para alojá-los e refrigerá-los sob aquele calor infernal.
Hoje, certamente, como fazemos
parte dos BRICS, e do G-20, o
número de convidados poderia ser pentaplicado, uma vez que
somos bilionários, e com um gasto semelhante ao que os brasileiros gastaram este
ano de 2014 no exterior, ou dezoito bilhões de dólares, segundo o Banco
Central.
Seria uma festa de fazer
inveja a reinos e califados, com uma apoteose que o mundo tão cedo não iria
esquecer. Nem nós!
Aos povos do sul, restaria
mais uma vez pagar a conta, mas a monarquia estaria restabelecida, nem que
fosse somente ao norte, que é o lugar em que a realeza tem o maior número de
súditos que estepaíz, já conheceu ao longo de sua
história.
Depois, certamente com
decretos daqui e dali, consultas a concelhos populares e etc, o sul acabaria
também fazendo parte dessa nova monarquia tropical, “comme il faut” e
seríamos todos súditos do novo Rei Sol.
O novo château real teria, por exemplo, ao
invés da galeria dos espelhos, um salão selfie, mais moderno
e sofisticado. Também a adega teria que ser muito bem climatizada, para
proteger o famoso e mais caro vinho do mundo, Romanée-Conti, preferido do
novo Rei Sol.
Lamentavelmente
Bokassa I não está mais entre nós, pois ele entendia tudo
de refrigeração, e poderia ajudar bastante nesse quesito.
Apenas tenho dúvida se na
caatinga iria ser possível a recriação dos jardins de Versailles, orgulho
da realeza original.
Se não fosse possível, o
pessoal do sul importaria um jardim inteiro, com chafarizes e tudo, para
deleite da nova família real.
Afinal, para que servimos nós,
do sul maravilha, senão atender fielmente aos caprichos daqueles que tão bem
nos governam.
Título e Texto: José Manuel, 12-11-2014
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