quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Tordesilhas et le Roi Soleil

José Manuel


Ora vejam só, 520 anos após Portugal e a Espanha terem assinado o tratado de Tordesilhas, em que uma linha imaginária e vertical dividia as terras da Espanha a oeste e de Portugal a leste, também dividia o Brasil praticamente em dois, no sentido oeste/leste, acabamos de reinventar esse tratado inclinando a linha para a esquerda, quase na horizontal e dividindo o país novamente ao meio, mas desta vez no sentido Norte e Sul, e em pleno século 21. 

Como dezesseis estados que não são autossuficientes ao norte, elegem um governo em que os outros dez que os sustentam ao sul desaprovam, ninguém consegue entender, porém, a  relação causa e efeito tem lá as suas verdades.

Nessa nova e promissora divisão, Caetés, que até então era uma cidade perdida no sertão pernambucano e de banda, ou melhor, a leste da linha de Tordesilhas, passa a ter uma importância fundamental, porque além de ser a terra natal do novo descobridor de um  pseudo mundo novo, fica em uma  posição  privilegiada  ou  seja totalmente na direção "acima", como convém ao novo poder.

Pelo continuar da inclinação da linha, tem tudo para ser a nova capital destepaíz no novo eldorado real ensolarado, digna representante da nova classe média bolsista que habita  por toda aquela enorme região.

Como em 1972, em que Jean-Bédel Bokassa se proclamou imperador do Império Centro Africano, como Bokassa l, inspirado em Napoleão Bonaparte, de  quem era admirador fervoroso, poderíamos também fazer uma coroação do novo rei norte-americano do sul.

Os dados estão todos aí, e como copiamos tudo, é só seguir a lista, que facilitaria muito a todos.

A cerimônia custou, naquela época, trinta milhões de dólares, quantia irrelevante para os tempos atuais, com três mil autoridades convidadas, com todas as despesas pagas. Bokassa I chegou para a coroação numa carruagem de oito toneladas, toda enfeitada a ouro, usando um manto de nove metros em veludo púrpuro que pesava cerca de trinta quilos e sapatos de pérolas.

O trono tinha a forma de uma águia com três metros de altura e quatro de largura. A coroa trazia uma águia em ouro.


Para não ficar muito repetitivo e sermos originais, uma vez que somos "penta", agora poderíamos substituí-los por uma taça como trono e por uma bola como coroa, por exemplo. A taça e a bola, de ouro, é claro.

Para receber seus convidados, entre outros o presidente da França à época, Valéry Giscard D'Estaing, que colocou o anel real no dedo do monarca, o Príncipe Charles mais comitiva real e também representantes do Vaticano, mandou construir modernas casas pré-fabricadas só para alojá-los e refrigerá-los sob aquele calor infernal.

Hoje, certamente, como fazemos parte dos BRICS, e do G-20, o número de convidados poderia ser pentaplicado, uma vez que somos bilionários, e com um gasto semelhante ao que os brasileiros gastaram este ano de 2014 no exterior, ou dezoito bilhões de dólares, segundo o Banco Central.

Seria uma festa de fazer inveja a reinos e califados, com uma apoteose que o mundo tão cedo não iria esquecer. Nem nós!

Aos povos do sul, restaria mais uma vez pagar a conta, mas a monarquia estaria restabelecida, nem que fosse somente ao norte, que é o lugar em que a realeza tem o maior número de súditos que estepaíz, já conheceu ao longo de sua história.

Depois, certamente com decretos daqui e dali, consultas a concelhos populares e etc, o sul acabaria também fazendo parte dessa nova monarquia tropical, “comme il faut” e seríamos todos súditos do novo Rei Sol.


O novo château real teria, por exemplo, ao invés da galeria dos espelhos, um salão selfie, mais moderno e sofisticado. Também a adega teria que ser muito bem climatizada, para proteger o famoso e mais caro vinho do mundo, Romanée-Conti, preferido do novo Rei Sol.

Lamentavelmente  Bokassa I não está mais entre nós, pois ele entendia tudo de refrigeração, e poderia ajudar bastante nesse quesito.

Apenas tenho dúvida se na caatinga iria ser possível a recriação dos jardins de Versailles, orgulho da realeza original.

Se não fosse possível, o pessoal do sul importaria um jardim inteiro, com chafarizes e tudo, para deleite da nova família real.

Afinal, para que servimos nós, do sul maravilha, senão atender fielmente aos caprichos daqueles que tão bem nos governam. 
Título e Texto: José Manuel, 12-11-2014

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