segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A diversidade no Uno... Greve de fome ou acampamento no congresso?

Valdemar Habitzreuter


Indago-me: o que realmente existe? Entendo por existir tudo aquilo que percebo como extensão (a matéria) e pensamento (nossas ideias). Portanto, percebo o mundo físico que me rodeia e os pensamentos que tenho. Isto é bem cartesiano (de Descartes), ou seja, um dualismo em que há de um lado coisas concretas, o mundo físico, e do outro lado uma realidade invisível, nossa consciência ou mente, donde se originam nossos pensamentos. Assim, meu corpo é uma substância ligada a uma outra: a alma (consciência). Nosso corpo físico podemos ver e tocar. A alma é intocável. Portanto, duas substâncias de naturezas diferentes. É interessante isso porque a ciência e a filosofia tentam dar uma explicação de como pode se dar essa união entre as duas, uma vez que um corpo físico ocupa algum espaço, ao passo que a alma (ou se quiserem, consciência ou mente) não ocupa espaço, não precisa de espaço.

Então, a polêmica toda se concentra se realmente nossa consciência, ou mente, não seria também matéria. Os cientistas e filósofos materialistas têm a propensão de reduzir a mente humana ao cérebro. O cérebro, que é matéria, produz a consciência. Portanto, esta nada mais seria que uma matéria sutil fazendo parte do cérebro. Alegam eles que se se abrir o crânio de uma pessoa não se encontraria aí alguma coisa chamada consciência ou pensamento. Mas, os filósofos espiritualistas não aceitam esta teoria. Eles apregoam os dois reinos: o físico e o espiritual. O físico é pervadido, inoculado por um élan vital (alma) que o existencializa numa determinada duração. No entanto, não conseguem dar uma explicação plausível de como estes dois reinos interagem em uníssono. Para as religiões, este dilema filosófico, não tem sentido, uma vez que Deus é o autor de tudo e predispôs tudo da forma mais perfeita; a nós cabe dizer amém e levar em conta como mistério aquilo que é inescrutável, inclusive Deus.

Mas, este mistério pode ser eliminado e explicado. Se admitirmos a pura imanência em que tudo se reduz a uma única SUBSTÂNCIA sem este dualismo radical: matéria e espírito, então não haveria mistério algum em relação à união corpo/alma, e nem Deus seria um mistério.

Esta é a proposta do filósofo Espinosa. Esta Substância Única teria muitos atributos, aliás, infinitos atributos desconhecidos por nós. Mas dois desses atributos todos nós conhecemos, porque somos constituídos por eles: a extensão (nosso corpo) e o pensamento (nossas ideias). Não há mais duas realidades separadas em nós. Estamos inseridos nesta única Substância que é a Natureza toda, que, inclusive, podemos chamar de Deus. Nossos corpos e ideias não são substâncias de naturezas diferentes como na teoria cartesiana, mas passam a ser modos dessa Substância única: Deus ou Natureza. Tudo o que existe são modos (e não substâncias) dessa Substância Única: a Natureza ou Deus.


Portanto, por imanência quer-se dizer que toda a realidade está englobada nesta Substância Única, desfazendo-se assim o reino espiritual transcendente. Poderíamos dizer que a realidade é uma moeda única com seus dois lados:  extensão e pensamento, o corpo como modo do atributo extensão e a ideia como modo do atributo pensamento. O que afeta o corpo afeta concomitantemente a alma. Isto é, corpo e alma são uma coisa só, embora modos de atributos diferentes da Substância Única. Nosso corpo é nossa alma, e a alma é nosso corpo, não há diferença.

Pois bem, tanta delonga filosófica (inútil?) para chegar a um assunto que foi objeto de embate neste blog entre José Manuel e Honorato. Não quero entrar no mérito da questão. Apenas isto: a greve de fome do José Manuel foi um dos fatores altamente expressivo para que as autoridades governamentais começassem a se conscientizar de que algo de injusto estava ocorrendo a uma classe de ex-trabalhadores aposentados, já idosos, além de despertar no grupo um engajamento mais concreto. E, também, a concentração de um grupo no Congresso Nacional foi altamente positivo para a obtenção da vitória pela volta do Aerus. Foram duas expressões diferentes para se dizer a mesma coisa: o AERUS é nosso e um só - o UNO que abarca todos os aposentados participantes. Se houve divergências no trato desse longo processo de luta para que estivéssemos novamente ao abrigo do Aerus, é porque houve modalidades diferentes de expressão: greve de fome, acampamento no Congresso, etc... Todas válidas para que obtivéssemos um final feliz.

Não houve encenação de parte a parte, e sim muita garra e determinação. Convém ao colega Honorato rever sua posição crítica.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 8-12-2014

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