Valdemar Habitzreuter
Indago-me: o que realmente
existe? Entendo por existir tudo aquilo que percebo como extensão (a matéria) e
pensamento (nossas ideias). Portanto, percebo o mundo físico que me rodeia e os
pensamentos que tenho. Isto é bem cartesiano (de Descartes), ou seja, um
dualismo em que há de um lado coisas concretas, o mundo físico, e do outro lado
uma realidade invisível, nossa consciência ou mente, donde se originam nossos
pensamentos. Assim, meu corpo é uma substância ligada a uma outra: a alma
(consciência). Nosso corpo físico podemos ver e tocar. A alma é intocável.
Portanto, duas substâncias de naturezas diferentes. É interessante isso porque
a ciência e a filosofia tentam dar uma explicação de como pode se dar essa
união entre as duas, uma vez que um corpo físico ocupa algum espaço, ao passo
que a alma (ou se quiserem, consciência ou mente) não ocupa espaço, não precisa
de espaço.
Então, a polêmica toda se
concentra se realmente nossa consciência, ou mente, não seria também matéria.
Os cientistas e filósofos materialistas têm a propensão de reduzir a mente
humana ao cérebro. O cérebro, que é matéria, produz a consciência. Portanto,
esta nada mais seria que uma matéria sutil fazendo parte do cérebro. Alegam
eles que se se abrir o crânio de uma pessoa não se encontraria aí alguma coisa
chamada consciência ou pensamento. Mas, os filósofos espiritualistas não
aceitam esta teoria. Eles apregoam os dois reinos: o físico e o espiritual. O
físico é pervadido, inoculado por um élan vital (alma) que o existencializa numa
determinada duração. No entanto, não conseguem dar uma explicação plausível de
como estes dois reinos interagem em uníssono. Para as religiões, este dilema
filosófico, não tem sentido, uma vez que Deus é o autor de tudo e predispôs
tudo da forma mais perfeita; a nós cabe dizer amém e levar em conta como
mistério aquilo que é inescrutável, inclusive Deus.
Mas, este mistério pode ser
eliminado e explicado. Se admitirmos a pura imanência em que tudo se reduz a
uma única SUBSTÂNCIA sem este dualismo radical: matéria e espírito, então não
haveria mistério algum em relação à união corpo/alma, e nem Deus seria um
mistério.
Esta é a proposta do filósofo Espinosa. Esta
Substância Única teria muitos atributos, aliás, infinitos atributos
desconhecidos por nós. Mas dois desses atributos todos nós conhecemos, porque
somos constituídos por eles: a extensão (nosso corpo) e o pensamento (nossas
ideias). Não há mais duas realidades separadas em nós. Estamos inseridos nesta
única Substância que é a Natureza toda, que, inclusive, podemos chamar de Deus.
Nossos corpos e ideias não são substâncias de naturezas diferentes como na
teoria cartesiana, mas passam a ser modos dessa Substância única: Deus ou
Natureza. Tudo o que existe são modos (e não substâncias) dessa Substância
Única: a Natureza ou Deus.
Portanto, por imanência
quer-se dizer que toda a realidade está englobada nesta Substância Única,
desfazendo-se assim o reino espiritual transcendente. Poderíamos dizer que a
realidade é uma moeda única com seus dois lados: extensão e pensamento, o corpo como modo do
atributo extensão e a ideia como modo do atributo pensamento. O que afeta o
corpo afeta concomitantemente a alma. Isto é, corpo e alma são uma coisa só,
embora modos de atributos diferentes da Substância Única. Nosso corpo é nossa alma,
e a alma é nosso corpo, não há diferença.
Pois bem, tanta delonga
filosófica (inútil?) para chegar a um assunto que foi objeto de embate neste blog entre José Manuel e Honorato. Não quero entrar no mérito da questão.
Apenas isto: a greve de fome do José Manuel foi um dos fatores altamente
expressivo para que as autoridades governamentais começassem a se conscientizar
de que algo de injusto estava ocorrendo a uma classe de ex-trabalhadores
aposentados, já idosos, além de despertar no grupo um engajamento mais
concreto. E, também, a concentração de um grupo no Congresso Nacional foi
altamente positivo para a obtenção da vitória pela volta do Aerus. Foram duas
expressões diferentes para se dizer a mesma coisa: o AERUS é nosso e um só - o
UNO que abarca todos os aposentados participantes. Se houve divergências no
trato desse longo processo de luta para que estivéssemos novamente ao abrigo do
Aerus, é porque houve modalidades diferentes de expressão: greve de fome,
acampamento no Congresso, etc... Todas válidas para que obtivéssemos um final
feliz.
Não houve encenação de parte a
parte, e sim muita garra e determinação. Convém ao colega Honorato rever sua
posição crítica.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 8-12-2014
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