A Presidenta, o Veneziano e o Macarrão

José Manuel

LEINº 13.050, DE 8 DE DEZEMBRO DE 2014.

Institui o dia 25 de outubro como Dia Nacional do Macarrão.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA 

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 

Art. 1^o  Fica instituído o Dia Nacional do Macarrão, a ser celebrado em todo território nacional, anualmente, no dia 25 de outubro. 

Art. 2^o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

Brasília, 8 de dezembro de 2014; 193^o da Independência e 126^o da República.  

DILMA ROUSSEFF

No século XIII, mais precisamente em 1271, o mercador veneziano Marco Polo, então com dezessete anos, deixava o porto de Veneza e partia para a Ásia acompanhado de seu pai e seu tio numa viagem que duraria vinte e quatro anos, só retornando à pátria em 1295, carregado de riquezas e tesouros, depois de 24.140 Km percorridos.

 

Chegada da família Polo a uma cidade da China

Na bagagem, o então anônimo veneziano trazia uma receita culinária da China, onde estivera, cujos ingredientes eram farinha de trigo, ovos frescos e água pura e que iriam revolucionar o mundo culinário de então, fazendo com que o "macaroni" se transformasse no prato principal Italiano, apesar de sua origem chinesa.

Os italianos por sua vez, repelem a origem chinesa do macarrão, mas hoje, há provas fundamentadas na arqueologia de que foi mesmo o mercador veneziano que o introduziu na Europa.

Sete séculos depois disso tudo, e de todas as variações sobre o mesmo tema em cima do macarrão, no ano de 1995, foi criado durante o 1º Congresso Mundial da Pasta que reuniu os principais fabricantes de macarrão do mundo em Roma, na Itália, em 25 de outubro, o dia oficial do macarrão.

Portanto, a nossa mandatária enviou um projeto de lei ao congresso, para oficializar uma data que já existe oficialmente no mundo há mais de dezenove anos, e a sua praticidade, utilidade pública, é absolutamente nula.

Marco Pólo certamente não deve ter gostado nada disso, tampouco os italianos, que acabam de levar mais uma rasteira brasileira, depois dos casos Cesare Battisti e do Pizzolato.

Mais do que isso, perde-se tempo em redigir um projeto de lei e se aciona um Congresso Nacional, com todo o custo que isso pode ter gerado, para semelhante irracionalidade.

Para nós, o que poderia ter sido simplificado através de uma medida provisória alocando recursos ao fundo de pensão Aerus, evitando o prolongamento de uma tragédia social, também foi feito por projeto de lei que tramitou no congresso através de uma comissão de orçamento e sabe-se lá a que custo deve ter sido, além da multa diária à justiça no valor de R$ 100.000,00, desde o dia 19 de setembro quando foi sentenciada.

Esses eternos gastos supérfluos, irresponsáveis, já fazem parte da nossa cultura, que não é voltada para o racional, para o planejado, nem muito menos para uma prevenção social eficaz.

O fato é que lidar com o dinheiro em abundância, mas dos outros, sem a rigidez fiscalizatória que isso demanda, proporciona absurdos como o que foi relatado acima.

Enquanto isso, uma parcela enorme da população, inclusive nós do Aerus, há quase nove anos se alimenta mal e porcamente do mesmo macarrão que a mandatária e talvez por isso em homenagem à nossa desgraça, tenha feito esse projeto de lei absurdo.

Gozação tem hora, Presidenta, não faça isso com os estômagos e a saúde dos cidadãos brasileiros, pois amido apenas gera uma saciedade momentânea, obesidade em excesso e as fontes das proteínas necessárias ao ser humano e mais caras não conseguem chegar à mesa dos mais pobres ou dos prejudicados.

Caso não saiba senhora Presidenta, ninguém consegue viver só de macarrão, nem mesmo os animais. 

Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 15-12-2014