segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A volta – em 2015 – das manifestações de rua impulsionadas pela crise e pelas redes sociais

Cesar Maia               
1. A crise econômica é um processo cumulativo. As empresas e pessoas primeiro tomam decisões defensivas, reduzindo gastos, antecipando férias, aumentando a rotatividade ao trocar - para a mesma função - um salário maior por outro menor... Esse é um processo que vai se esgotando. A campanha eleitoral criou um colchão em 2014. Entre despesas registradas e não registradas (cabos eleitorais, etc.), estima-se um gasto em todo o país de uns R$ 5 bilhões.
               
2. Em 2015, tanto pela cumulatividade como pelo colchão de 2014, esse processo estará esgotado. Então começarão as reações que as pesquisas poderão medir em tempo real, por vários indicadores, a começar pela avaliação dos governantes. E dependendo do fôlego de cada governo, atingirão as eleições municipais de 2016 nos grandes centros.
               
3. Sobre isso vêm os chamados fundamentos macroeconômicos, que serão os alvos da política econômica do “novo” governo Dilma em 2015. Os alvos – claro – serão o déficit fiscal, o déficit externo e a inflação/juros. As medidas tradicionais nesses casos são bem conhecidas. Manter a inflação no topo da meta ajuda o governo, ao manter as receitas automaticamente corrigidas, como o caso dos tributos. E – como se faz sempre para evitar medidas drásticas – se mantém as despesas nominalmente, reduzindo o déficit. Exceção do serviço da dívida.
              
4. O déficit externo estimulará o câmbio alto, afetando o consumo da classe média e o IGP (aluguéis). A inflação se manterá no nível atual em grande parte do ano, para ajudar a redução do déficit fiscal. E a taxa básica de juros não deverá cair, para continuar atraindo capitais externos e não deixar a inflação passar dos limites da meta. Os governos anteciparão para janeiro o aumento das tarifas de transportes públicos.
              
5. Em resumo, o desconforto das pessoas será crescente com preços crescendo mais que os salários, com a inadimplência aumentando, com o desemprego avançando, com a aceitação de novos empregos com salários menores... O derrame do Petrolão excitará os protestos antipolíticos, na medida em que os nomes de políticos forem sendo divulgados. Os milhões da corrupção inevitavelmente levarão a uma dedução, exagerada, mas inevitável: o sofrimento que as pessoas passam é produto da corrupção.

6. As redes sociais se agitarão, e o multiplicador delas será explosivo. Estará criado o clima – objetivo (a crise) e subjetivo (a reação das pessoas). A sinergia alcançará temperatura elevada. As manifestações pontuais voltarão e se multiplicarão e terão efeito cumulativo e sinérgico. O ano calendário político começa em março. Com isso, provavelmente, as grandes manifestações estarão nas ruas no final do semestre. 
Título e Texto: Cesar Maia, 1-12-2014

2 comentários:

  1. São palavras bonitas , técnicas e experientes eu diria. Porém existem fatos bem mais simplificados e que são inerentes à sociedade brasileira.
    O povo não é politizado e já está acostumado com a impunidade aos políticos e não liga mais. Não há sentimentos nacionalista de pátria a moverem esse povo às ruas. Não vão e ficou bem explicitado nas duas últimas chamadas em que foi pífio comparecimento, principalmente se for em um fim de semana com sol.
    Agora, o povo também quer só levar vantagem, e não gosta que mexam no seu bolso
    Ai sim o seu raciocínio está certo, e assim que começarem a pipocar os aumentos em transportes, eletricidade, gasolina, inflação alta, ai os 30 milhões que se esqueceram de ir votar para melhorar o país, ficarão furiosos e acontecerá o que todo mundo já sabe.
    Mexeu no bolso, mexeu nas viagens, nos cruzeiros, nos veículos, aí sim nos quebramos tudo
    Quanto ao país ? Sem essa, deixa que a China resolve
    José Manuel

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    Respostas
    1. Muito bem!
      Sim, "o povo não é politizado". Penso que essa sentença é o começo de tudo. Porque não politizado, não se interessa, não percebe, não capta...
      Já na convocação para as manifestações no passado dia 23 de outubro, por exemplo, no que concerne o Rio de Janeiro, tinha neguinho informando que o local da manifestação era a Assembleia Legislativa...
      Escrevi 'neguinho', com toda a propriedade, pois estava claro que neguinho se limitou a 'inventar' e outros, muitos, a repassar... E pronto, ficaram todos felizes, com a sensação de serem os últimos revolucionários do Brasil!

      O mesmo aconteceu nesta última do dia 29 de novembro.

      Na primeira, fizemos o que pudemos para avisar (e insistir) que o local da manif seria em frente ao Copacabana Palace...

      De qualquer maneira e apesar dos pesares, ainda sou mais favorável à espontaneidade do que à artificialidade construída por políticos e partidos ou, pior, por carreiristas sindicais que se disfarçam em madres terezas...

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