segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Colchões merecidos, livros apropriados

José Manuel

Estava lendo uma das dezenas de reportagens diárias sobre esses ladrões contumazes do dinheiro público, que estão presos neste momento na Polícia Federal, no Paraná, para lá passar uma boa temporada, inclusive as festas de fim de ano, e li também que estavam revoltadíssimos por estar dormindo em colchões no chão frio, mas, ao mesmo tempo, com a soberba em alta, bebendo água mineral Evian  e chocolates, ambos importados, comprados certamente com o seu, o meu, o nosso dinheiro.

Também li que alguns haviam feito reservas para passar esta época em hotéis da Europa e dos EUA, gastando à vontade divisas made in Brazil, mas estavam começando a ficar depressivos e já pensavam em entrar para o rol dos delatores a fim de abreviar as sua penas, porque quem tem, tem medo, e mexer no bolso deles é uma das melhores formas corretivas que existem, além da cana, é claro.

Aí, eu tive a atenção chamada para detalhes que parecem não ter valor, para eles, é óbvio, mas que são de uma importância única, pois nos mostram claramente onde, como e quando um ser humano se coloca perante a sua situação temporal e moral, ao longo da vida.

Os colchões, por exemplo, colocados  em um chão frio, não são iguais para todos, e a cada exemplo de bom ou mau uso deles podem se transformar em atos de heroísmo altruísta ou  resultados de atos de bandidagem explícita.

Para exemplificar melhor, os colchões lá na Polícia Federal em Curitiba, não têm o mesmo valor moral daqueles do Santos Dumont e de Brasília, se me entendem bem.

Em Curitiba, eles se prestam somente para sonos nada reparadores, na maioria noites insones e tragédias pessoais auto impostas.

Certamente o desespero frente a uma situação até então insólita e descabida para a quadrilha, pois as suas atitudes nunca são erradas, eles jamais se consideram contraventores, os deve estar levando a uma situação talvez irreversível com resultados muito próximos de um grave surto psíquico ou mesmo de um acidente de percurso prematuro, pelos resultados que poderão advir dos desdobramentos futuros.

Já os colchões do aeroporto ou os do Congresso, apesar de terem estado no mesmo chão frio, nunca provocariam semelhante situação escabrosa a ponto de chegar a tragédias pessoais.

Os nossos colchões do Aerus eram extremamente confortáveis, apesar de todo o cansaço pela excitação positiva durante o dia e nos proporcionavam um sono reparador durante a noite, sem culpas, muito pelo contrário, com a certeza de um dever a ser cumprido.

A alimentação, tanto dos que puderam como a dos que não puderam, nunca teve nem água, tampouco chocolates importados, mas ninguém teve surtos disso ou daquilo, sendo, apesar de tudo, uma estada leve e inesquecível pelos fatos e acontecimentos inerentes aos atos.

Os livros, são outro aspecto importante a ser comentado, pois a escolha de suas leituras determina o estado de leveza espiritual em que as pessoas se encontram.

A minha leitura à época por exemplo, foi a suave Rosamunde Pilcher, fenomenal escritora britânica que nos leva a viajar pelas paisagens da Escócia, em romances leves e agradáveis.


Uma típica leitura aconselhável para um ato desta magnitude, sem obrigações, sem horários, apenas uma forma de passar o tempo com a tranquilidade espiritual necessária ao momento.

Já em  Curitiba, são oferecidos livros para remissão de pena segundo uma lei estadual em que a cada livro lido em trinta dias, dá direito a quatro dias de remissão.

Os livros mais lidos, por incrível que pareça, mas que têm tudo a ver são Crime e Castigo, de Dostoievski, seguido de Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, Sagarana, Grande Sertão Veredas, ambos de Guimarães Rosa e Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Como se pode perceber, leituras pesadas, mas intrinsecamente ligadas aos problemas pessoais a que cada um dos que lá estão, está exposto.

Então, fazendo uma reflexão sobre as leituras cotidianas, a vida aqui nos brinda novamente com as leis de causa e efeito a que cada ser humano está ou sujeita-se ao longo de suas vidas.

Esta lei procura explicar os acontecimentos da vida atribuindo um "motivo justo", e uma finalidade proveitosa ou não para todos os acontecimentos com que se depara o homem, inclusive o sofrimento.

Resumindo, cada um sempre terá em suas vidas, o colchão e o livro que merece. 
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 22-12-2014

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