sábado, 13 de dezembro de 2014

Enfim, o pragmatismo político

Luciano Henrique
Se há um tema que já citei várias vezes e para o qual não fiz ainda um texto detalhando-o é este: o pragmatismo político. Como consequência, já fui mal compreendido diversas vezes. Por isso é hora de tratar o pragmatismo político.


Aqui está uma boa definição, que não tem como pretensão encerrar a discussão: “a ação política orientada principalmente a resultados, ainda que orientada por princípios e valores sólidos”.  Isto é, não significa que o pragmático não tem valores, mas que busca “negociar” em prol de ações que gerem resultados contínuos que, pouco a pouco, vão se encaixando com nossos princípios e valores.

O pragmatismo político seria oposto ao purismo político. E, para esclarecer um ponto essencial  (antes que os mais puristas fiquem ofendidos), tanto pragmatismo como purismo são questões de grau. Ninguém é 100% pragmático e ninguém é 100% purista. Mas é muito fácil definir quem tende mais ao pragmatismo que ao purismo, e vice-versa, como diria o ex-atacante Jardel, do Grêmio.

Vejamos um exemplo óbvio. É fácil definir o PT como um partido essencialmente pragmático, especialmente pelas alianças que fez. E isso é respaldado por uma multidão de petistas militantes que também são pragmáticos.

Hoje temos muitos petistas reclamando a torto e a direito da indicação de Kátia Abreu ao Ministério da Agricultura. Mesmo reclamando, quase todos os petistas não abandonarão o partido. Longe disso, eles irão pressionar o PT como se estivessem em uma negociação. Quase que dizendo: “Ok, vocês querem nomear Kátia Abreu. Então queremos (x)”. Tal comportamento é pragmático até a medula.

À medida que víamos petistas reclamando do próprio PT enquanto faziam pressão positiva (e construtiva), era possível observar alguns leitores de direita reclamando de meu apoio ao PSDB, dizendo coisas como:

·         O PSDB não reclamou das urnas eletrônicas, então está mancomunado com o PT
·         O PSDB assinou o Pacto de Princeton, logo é “brother do PT”
·         O PSDB aprovou conselhos soviéticos recentemente em São Paulo
·      Aécio Neves e Aloysio Nunes não votaram contra a Lei do Calote (nota: é claro que não, pois eles estavam obstruindo a votação)
·         O PSDB não quis o apoio de Jair Bolsonaro
·         O PSDB votou pelo Marco Civil

E a lista pode seguir ad aeternum e sempre é preenchida por diversas fontes. As demandas são diversas e até díspares entre elas:

·         Pedidos de desistência dos políticos em geral para pedidos por intervenção militar
·         Pedidos de desistência da democracia por soluções diferentes e “inovadoras”
·         Pedido de desistência do PSDB para votar em Jair Bolsonaro para presidente em 2018
·         Pedido de desistência do PSDB para focar talvez no DEM mas preferencialmente no NOVO
·         Pedido de desistência do PSDB e do DEM para focar no NOVO
·         Pedido de que todos adotem o niilismo político
·         Pedido para que todos fujam do Brasil

Só que isso não é novidade e também existe do lado de lá. Veja o texto Política e Fé, de André Falcão, publicado no Pragmatismo Político (blog petista):

Tenham dó! Política não é profissão de fé, tampouco fé tem alguma coisa a ver com política ou o que mais da vida mundana. No exercício da minha fé em algo que acredito ser Maior — a que, particularmente, chamo Deus —, peço-Lhe, entre outras coisas (sou nada econômico nesse quesito, diga-se), para me dar compaixão, generosidade, saúde, luz, tolerância, humildade, coragem, força, fé. No exercício da luta política, que já é naturalmente outra coisa, esforço-me por um mundo melhor, com as armas que acredito sejam as possíveis e, dentre essas, as melhores. É simples assim.

Vez por outra sou abordado por gente dizendo-se decepcionada porque “acreditava” no PT, e em Lula, até em Dilma (apesar de muitos a terem considerado um poste; poste de muita luz, diria eu), mas que agora estaria estarrecida com a roubalheira que estaria sendo patrocinada por aquele partido, de que é exemplo mais recente a Lava-Jato e, mais famoso, o Mensalão. É, pois, o momento de pelo menos exercitar a tolerância, a compaixão e a humildade concedidas.

Política não é profissão de fé! Quando muito é mera fonte e arcabouço de expectativas. Expectativas não são pra quem quer ter, mas pra quem pode. Expectativas ajudam a viver, mas são terríveis quando frustradas. E elas não raro o são porque a gente não sabe lidar com elas, já que toda expectativa pode trazer em si mesma dolorosa frustração, mais culpa nossa do que dela.

Porém, até pra tolice há limite. Sabe-se que os desvios de dinheiro público — notadamente aqueles para proveito particular — não são privilégio dos governos do PT ou de seus aliados. E você sabe que por mais que existam padres pedófilos, tarados ou predadores da fortuna do Vaticano; empresários corruptores, sonegadores, escravagistas e exploradores da mão-de-obra; milicos assassinos, covardes, torturadores, ladrões; juízes vendedores de sentença e da própria alma, não se pode confundi-los com a Igreja Católica, com o empresariado inteiro, com nossas Forças Armadas, tampouco com o Poder Judiciário. E ao que se saiba, você continua catolicozinho-da-silva…

Você sabe. Então, se por tolice você se diz decepcionado e desacreditado, receba essas palavras e minha compaixão. Depois analise, leia, investigue, acresça outras leituras às suas já costumeiras (e parcialíssimas) fontes de manipulação. Mas se o que você quer mesmo é arranjar um pretexto pra estar do lado do que de pior existe na política, faça “bom” proveito.

Eu não concordo com a ética petista, e sei que as argumentações de defesa do PT, usadas por Falcão, estão mais furadas que tábua de pirulito. Mas a argumentação dele em prol do pragmatismo político está correta. De acordo com o sistema moral dele, é razoável que ele apoie o PT.

Ele definiu suas prioridades, e sabe que há “titãs” na política, que hoje são o PT e o PSDB. De acordo com suas prioridades e objetivos, ele sabe que tratar PT e PSDB “como se fossem farinha do mesmo saco” prejudicaria os seus interesses. Ele é bem claro e até agressivo ao tratar os mais puristas como pessoas querendo “arranjar um pretexto pra estar do lado do que de pior existe na política”.

Para o purista, é muito fácil sentenciar que “não há diferenças entre opções (x) e (y) ”, mesmo quando essas duas opções não são viáveis. Porém, quando olhamos planos, consequências, habilidade, alinhamento com coletivos não-eleitos, etc… sempre vemos que não dá para supor essa similaridade de opções.
Ainda que eu não tenha o PSDB como o partido preferido, vejo que a mente purista tende a descartá-los de uma vez por todas. A partir daí, quando perguntarmos quais os próximos passos para as próximas votações, quais as ações de pressões a serem exercidas e qual a carga de esforço na comunicação com os partidos, sempre em direção de irmos obtendo resultados, não vejo respostas concretas, apenas manifestações vagas sem conexão com resultados.

No fim das contas, aquele mais focado no purismo sempre irá arrumar algum motivo para não tomarmos nenhuma opção dentre aquelas mais próximas a nós. Os mais pragmáticos serão muito mais críticos nas alegações tentando igualar duas opções.

Eu, como pragmático, defendo que devemos ter objetivos, e entendo que os próximos objetivos devem ser derrubar os projetos totalitários do PT. Voto pela criação de uma completa rejeição social a esses projetos, conversando com as pessoas a respeito dos danos que isso pode causar. Assim, a derrubada do Decreto 8243, se ocorrer, será uma conquista em relação a esse objetivo maior (salvar a democracia brasileira). O pronunciamento de um deputado do PSDB, do DEM ou mesmo do PMDB ou do PP, contra um projeto de censura de mídia é também um resultado. Ou seja, existem sempre possíveis resultados em direção a objetivos. E adianto para dizer que isso não exclui o fato de que eu acho a possível aprovação do NOVO uma das ideias mais interessantes da política nacional.

Alguém defende outro objetivo? Ok, que o faça. Mas que o apresente à mesa para discussão, sempre pautada em resultados, de preferência que sejam factíveis e rápidos de serem conseguidos. Isso é pensar pragmaticamente. Dessa forma, eu não quero reduzir o pragmatismo às minhas demandas, mas até mesmo abrir a discussão para outras solicitações, diante de outros objetivos (desde que distantes dos objetivos do PT, evidentemente), mas sempre com o foco em resultados.

Foi com esse tipo de foco que, mesmo tendo sido um crítico forte das alternativas escolhidas pelo Revoltados On-line, os elogiei pelos resultados (materializados na pressão lançada sobre o PT e seus aliados, mesmo com a aprovação da Lei do Calote) das manifestações diante do Congresso.

Hoje em dia os petistas são muito mais seletivos no momento de afirmar “tanto faz um quanto faz outro”. Eles sabem que, independente de alguma insatisfação com o PT, eles tem um objetivo, um caminho, e precisam escolher dentre as opções.

O pragmatismo entre os petistas é muito maior do que em qualquer outro partido. Entre os adeptos da social-democracia, também há algum pragmatismo. Entre os direitistas, no entanto, é possível notar o ainda emergente interesse por posições mais pragmáticas. Um exemplo foi a manifestação do dia 06/12, com uma agenda muito mais inclusiva do que seria de se esperar de uma direita mais tradicional.

A demanda por um pragmatismo na direita existe. É um fato. Os puristas devem aprender a conviver com isso, pois, dialeticamente, a visão pragmática não exclui os puristas, mas dialoga com eles.

Em tempo: qual o meu partido? Eu não tenho nenhum, mas tenho gostado muito das posturas mais incisivas de Aécio, Aloysio e outros do PSDB, embora esteja muito decepcionado com Alckmin. O pessoal do DEM tem me surpreendido ainda mais. E estou empolgado para ver o surgimento do NOVO, pois é dali que parecem surgir novidades.
Se alguém não concordar, dizendo que o PSDB deve ser “abandonado” em prol de alguma outra coisa, eu, como pragmático, ficarei muito feliz em ouvir alternativas. Pragmaticamente, é claro. 
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 13-12-2014

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