Como viver até lá se acá estou
a viver?
Que bem além da lenda me
espanta,
Me encantam tantos mitos,
Após crenças, deveres e
andanças,
Rito maior não pode ser depois
de tudo,
Mundo desnudo, a doce escuta,
Garganta muda, sem reação alguma,
Nenhum gemido acontece,
Que se foi, perdido no ar, no
mar, sem lugar,
Estranhamente escura vinda,
sem terminar ainda,
Que um esgar se espanta e se
alevanta,
Olhar aberto, betuminoso lugar
além,
Que implora e suplica, se
esconde, se engana,
Dia de ira, aquele dia, sem
grito nenhum a gritar,
Mesa posta, sem resposta, eis
as coisas do viver:
Medos e fantasmas, traumas e
miasmas,
Tudo às sombras, luz do dia
distanciado, meio do dia,
Meia-noite sem noite, tempo
passa, repassa e outra vez passa...
Noite mal dormida, sem água
nem comida, manhã raiada,
Dia santo, santo dia,
intermináveis cordões,
Sem ambições, espalham-se
objetos,
Dividem-se os dejetos, mais
adiante se juntam,
Fatiados, tornam-se inteiros,
verdadeiros.
Mudo mundo que tudo muda: vida
urdida,
Prisca era da primavera,
enredo, rota, rotina, roteiro,
Fases da lua, maré vazante,
Sempre elegante em cada
estação do ano,
Hora do apronto, vida no
avesso, imagem distorcida,
Provoca espanto, miragem,
tremor e temor ao mesmo tempo,
A nudez do vento, os Silfos ou
o que seja? Silêncio, arrepio final...
Nenhum sinal é permitido, é
chegada a hora fatal:
Por que subjugou todas as
consciências,
Denegriu todo saber e toda
ciência?
Destruiu rosas e roseiras,
espalhou frio e terror,
Deixou ventar um vento que levantou
poeira,
Que te deixou incrédula, com
olhar inquiridor,
E sua alma enrugada, impingida
em proclamas, fim da vida...
Título e Texto: Carlos Lira, 27-12-2014
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