segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

360º – segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

David Dinis

Bom dia!

Enquanto dormia
Começou a roleta grega: o Syriza venceu com larga margem as eleições na Grécia, mas ficou a escassos lugares das maioria absoluta. No seu discurso de vitória, Alexis Tsipras foi direto ao assunto: “A era da troika acabou”, disse, antecipando um braço de ferro com a UE sobre a renegociação da dívida e o programa de assistência grego.

Para já, Tsipras vai agora ter que escolher se quer fazer uma coligação mais à esquerda ou ao centro (com o Potami), escolha que não será indiferente para a implementação do programa que levou às legislativas - e que aqui sintetizámos em pontos, para que tenha presente o que está em cima da mesa. Até quarta-feira haverá uma decisão.

Na Europa faz-se um compasso de espera, como anota o El Pais. Mas em Portugal os partidos posicionaram-se rapidamente: à esquerda, até António Costa tentou capitalizar uma nova onda europeia; ao passo que à direita, por exemplo o CDS quis distanciar-se - até dos cenários de renegociação coletiva das dívidas da periferia.

Neste dia 1 após o terramoto, as capas dos jornais destacam com a leitura de que vem aí um conflito com a Europa. E a bolsa grega abriu a cair 7%.
Neste contexto, valerá a pena ler esta entrevista que fizemos ao vice-presidente do Parlamento Europeu, membro do Syriza; mas também esta reportagem que o Tiago Carrasco escreveu em Perama, onde o Syriza venceu, mas a Aurora Dourada espreita a oportunidade de uma nova desilusão.
Talvez as perguntas chave do momento sejam a que Tony Barber faz no Financial Times - "Will Tsipras be a Lula or a Chávez?" - ou a de George Magnus, no mesmo jornal: "Who will blink now?" - a Europa ou a Grécia?

Além da Grécia, o fim de semana foi agitado também na Ucrânia, com os confrontos com os separatistas pró-russos a levar à morte de 30 civis em Mariupol. Os MNE europeus convocaram já uma reunião de emergência, com Obama e a Europa a avisar esta noite que podem estar a caminho novas sanções a Moscovo, segundo conta o Wall Street Journal. Daquela cidade veio também um vídeo registado por um condutor que por sorte, muita sorte, conseguiu escapar a uma explosão.

Nota obrigatória para o futebol nacional, devido ao erro que levou à derrota do Porto ontem na Madeira, deixando o Sporting apenas a um ponto de distância depois da vitóriac ontra o autocarro da Académica. Hoje o Benfica tem nas mãos a hipótese de ficar a 9 pontos do 2º lugar.

Informação relevante
Passos Coelho e António Costa aproveitaram o fim de semana para marcar terreno para a campanha do ano - e muito na onda do que se passa na Europa agora. O primeiro-ministro fez um discurso contra os que pensam só no presente; Costa outro, acusando o Governo de "marcar passo": "Todos sabíamos que muito do que é necessário mudar em Portugal depende também da mudança na Europa”.

Da semana passada sobrou uma discussão interessante sobre o que resulta das novas decisões do BCE: Passos disse que a bazuca de Draghi é "bem-vinda", Costa atacou-o por ter defendido o contrário, Portas saiu em defesa de Passos e Costa aconselhou Portas a ler melhor a decisão do BCE. Confuso? O Observador fez o fact-check, concluindo que Passos não quis mais BCE - mas que este plano também não é o que o PS pedia.
Esta manhã, o Económico adianta que o IGC Pquer aproveitar o momento para fazer novas emissões a mais de dez anos.

Do fim de semana sobra ainda uma excursão de apoiantes de José Sócrates à prisão de Évora, onde mais de uma centena de apoiantes gritou “Presos políticos nunca mais” e “Sócrates amigo, o povo está contigo”, apenas umas horas depois de José Miguel Júdice ter dito ser "um absurdo" o ex-primeiro-ministro estar preso.

No plano das políticas públicas, sobressai a Educação: depois de uma investigação ter mostrado que há muitas escolas - sobretudo privadas e a Norte - que têm inflacionado as notas, beneficiando os alunos no acesso ao Superior, o DN cita hoje a Confederação das Associações de Pais a dar apoio à mudança de regras para aceder à universidade - diminuindo o peso das notas internas.

Para recuperar portugueses que emigraram, o Governo decidiu lançar ainda esta legislatura "vistos-talento", associados a um programa de empreendedorismo para emigrantes. O Público diz que se trata de um apoio à criação de empresas por cidadãos não residentes e explica como vai funcionar.

Pelo meio há uma boa notícia: o Lisbon MBA, promovido pela Universidade Nova e pela Católica, subiu 16 posições no prestigiado ranking do Financial Times, sendo já o 13º melhor da Europa.

E há uma outra menos boa, nas páginas do Público: as perdas das empresas públicas subiram 130%, para mais de 800 milhões de euros, de acordo com o Público. O impacto das privatizações na Parpública e algumas derrapagens explicam os números.

Deixo-lhe, por fim, este Explicador que preparámos sobre o Day After da PT, descodificando passo a passo o que vai acontecer à empresa (e os riscos ainda existentes) depois da decisão de venda à Altice. A empresa francesa tem um objetivo claro: mais fibra, menos custos, segundo o Económico.

Os nossos especiais
Um Leopardo - é como Paulo Portas olha para Winston Churchill, num texto que escreveu para o Observador este sábado, a propósito dos 50 anos que passaram sobre a sua morte. Um político "que talvez não sobrevivesse aos tempos e aos modos da política contemporânea”, argumenta o vice-primeiro-ministro e líder do CDS.

Falando na direita portuguesa, o Rui Ramos escreveu aqui um ensaio sobre "A direita e a democracia”, passados 50 anos sobre o cerco ao congresso do CDS no Palácio de Cristal. A tese? Que “em 1974, as correntes políticas tinham de se democratizar. Como agentes de socialização democrática, os partidos da direita foram mais eficazes do que os da esquerda, isto é, o PS”.

Num registo jornalístico e não ensaístico, a Catarina Falcão recorda-nos aqui precisamente aquelas 12 horas longas do cerco ao Palácio de Cristal que, no CDS, nunca mais foram esquecidas.

Last but not the least, tem ainda disponível este novo capítulo de Fernando Martins sobre a Descolonização - que considera ter sido “voluntarista”
E entrevistas que a Ana Pimentel e a Catarina Falcão fizeram, respetivamente, a Daniel Bessa e Nuno Melo. Fique com os títulos, para aperitivo:“Não consigo olhar para a PT sem ver Sócrates”; e “Falar de presidenciais só no fim do ano”.

Notícias surpreendentes
É o último conselho do Papa Francisco: larguem os iPhones, as redes sociais e os sites e falem uns com os outros. O Papa está preocupado com a falta de diálogo e de ensinamento dessa arte aos mais novos e disse-o contando que a mensagem se difundisse… nas redes sociais e nos sites de informação. Aqui também cumprimos esse nosso dever.

A propósito de causas, houve uma em Madrid que nos chamou a atenção: um grupo de vizinhos decidiu posar nu para um calendário, lutando por ficar com as casas que lhes foram prometidas antes de a autarquia decidir vender tudo a um fundo de investimento. Há casais com bebés, mulheres grávidas ou solteiras e, sobretudo, bom gosto.

E depois há outras causas. Digamos assim: Se e é homem, gosta de sair à noite com amigos e precisa de inventar pretextos para a sua mulher ou namorada não ficar aborrecida, saiba que já há uma “desculpa científica” que pode usar. Se é mulher, já sabe: quando vier o argumento, a culpa é destes senhores.

Aqui termina, por hoje, o 360º, à espera de um dia que nos dê sinais sobre o que resulta deste novo turbilhão grego. Ficaremos atentos a isso e a outras notícias, para lhe dar conta de tudo o que se passar.

Um dia feliz, de sorriso aberto.
Até já! 
Título e Texto: David Dinis, Diretor, Observador, 26-1-2015

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