segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Há um lugar no mundo onde o vinho é mais barato do que a água

Queda da procura internacional e excesso de produto no mercado interno são alguns dos motivos porque, na Austrália, o vinho é mais acessível do que a água. Quem diria?

Imagem: AFP/Getty Images


Ana Cristina Marques
É amante de vinho? Se sim, vai acrescentar o país australiano à lista de destinos a visitar em 2015. Isto porque na Austrália, imagine-se, alguns vinhos são mais baratos do que a água engarrafada. Numa ida ao supermercado local é provável que encontre uma garrafa de vinho tinto a menos de um dólar australiano (0,67 euros), enquanto uma garrafa de água engarrafada de 350 ml custa, em média 2,50 dólares (1,7 euros). É só fazer as contas (e as malas).

“Os vinhos estão mais baratos do que uma garrafa de água”, diz o professor Kym Anderson, do Centro de Pesquisa Económica de Vinho de Adelaide, à BBC. Esta não é a primeira vez que tal acontece, muito embora a situação comece a ser preocupante, segundo os especialistas consultados pela estação pública britânica. Regra geral, os preços estão a ser afetados por diferentes fatores interligados entre si, incluindo as taxas de câmbio recentes, a queda da procura internacional e o excesso de produto no mercado interno.

Por partes. O aumento da moeda australiana em relação ao dólar americano, entre 2011 e 2013, prejudicou a indústria do vinho. É Paul Evans, diretor executivo da Federação de Produtores de Vinho da Austrália, quem o diz. “Uma grande parte do volume que exportávamos regressou ao mercado interno quando a procura internacional pelo nosso vinho caiu.” Por essa razão, a concorrência entre os produtores locais está a crescer, levando à consequente baixa dos preços. “Isso também é um incentivo para as importações e, assim, vimos crescer substancialmente as vendas de vinhos importados no mercado interno”.

Outro fator a ter em conta é o imposto sobre o álcool, o qual varia de acordo com o produto e não com o teor alcoólico que cada unidade acarreta — o vinho e a cidra tem um imposto diferente, por exemplo. Quanto mais barato for o vinho, mais baixo será o imposto, o que pode suscitar uma divisão dentro da própria indústria, assegura Robin Room, investigador que dirige o Centro Turning Point de Álcool e Drogas, em Melbourne.

O duopólio de duas grandes cadeias de supermercados, Woolworths e Coles, também tem a sua quota-parte de responsabilidade. Ambas controlam mais de 70% de todas as vendas de vinho a retalho, situação que gera preocupação entre a Federação de Produtores de Vinho da Austrália: se por um lado esta entidade aplaude o investimento que tem sido feito na indústria pelas respetivas empresas, por outro, afirma que a situação precisa de ser revista.

“Há uma incompatibilidade considerável entre o poder dos retalhistas e os produtores de vinho que está a afetar negativamente a indústria do vinho como um todo”, explica Evans, o que implica que a margem de lucro dos produtores de uva esteja a cair significativamente. Ainda assim, nem todos contestam o poderio do duo de supermercados, os quais chegam a ser vistos como uma ajuda aos produtores de vinhos num período difícil.

De uma forma geral, escreve a BBC, o preço dos vinhos é aceite por alguns produtores e pelos consumidores, além de ser uma “vitória” para os grandes retalhistas. No entanto, a federação faz questão de salientar que a situação não é sustentável. Enquanto o cenário não muda, uma coisa é certa: além do sol, praias, paisagens naturais e qualidade de vida que caracterizam a Austrália, o destino fica agora conhecido por ser um oásis do vinho, pelo menos, no que a preços diz respeito. 
Título e Texto: Ana Cristina Marques, Observador, 5-1-2015

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