Sem dúvida. O pensador
certamente emitiu uma frase com muita fé, tanto é que se repete como “dogma”:
“Religião é coisa para
pessoas sem inteligência e sem cultura”.
Rivadávia Rosa
Diante de tamanho absurdo que
está sendo propalado, acho oportuno algumas breves considerações (sem nenhuma
intenção de sermão domingueiro) dirigida sobretudo aos “ateosófogos”, com
muita fé para na expectativa de que sirva para renovação das almas
e purificação dos corações presos à angústia terrena.
FÉ - fides quaerens intellectum - a fé em busca do entendimento.
SANTO ANSELMO DE CANTERBURY.
O argumento reiterativo contra
as religiões é afirmar que ela é irracional. Autores como RICHARD DAWKINS
(A ilusão de Deus), SAM HARRIS (O final da fé) e CRISTOPHER
HITCHENS (Deus não é grande) afirmam que a essência irracional da
religião leva as pessoas a realizar coisas estúpidas, perigosas e até
violentas.
A partir dessas críticas –
pode se pensar tudo o que a religião faz e que crer em Deus necessariamente
significa ser estúpido, ignorante, irracional e violento.
Porém, nessas condições ignora-se
o simples fato de que a religião é uma das bases do conhecimento moderno
ocidental o que paradoxalmente também seria estúpido, ignorante, irracional
e violento.
O CRISTIANISMO e o
ISLAMISMO contribuíram em grande parte pela tradição erudita do mundo
ocidental. Mesmo na chamada Idade das Trevas com todas suas
aberrações (des) humanas, nos mosteiros - os monges foram dedicados ‘guardiães’
que mantiveram viva a tradição da cultura greco-romana sem a qual o Renascimento
não teria sido possível. A Igreja é também responsável por
muitas das mais antigas e importantes universidades da Europa. O conhecimento
e, mesma a lógica que os monges medievais compilaram e acumularam não
estaria sendo utilizada hoje inclusive pelos ateístas. Portanto – não
houve só trevas...
Não obstante, o núcleo do
argumento ateu sobre a irracionalidade da religião é que é idiotice crer em
algo que não pode ser demonstrado, posto que por hipótese – não há uma “prova”
racional e satisfatória da existência de Deus. SANTO TOMÁS DE AQUINO
proclamou ao mundo cinco razões diferentes, porém o fato de haver tantos ateus
denota-se que não foi convincente.
Todavia, o problema com
o argumento ateu está em sua premissa. porque deveríamos crer que o que
nossa razão não pode compreender, não existe? Com o apoio em ARISTÓTELES,
se não há uma explicação racional para o sofrimento, não significa que não
exista. Ademais – na experiência pessoal, não racional, quer dizer, nas
emoções, intuições, desejos, anseios e paz interior, pode haver muitas ‘provas’
de Deus; da mesma forma tampouco se pode demonstrar materialmente a existência
do amor. E como se pode afirmar que a mente não pode ‘compreender’ Deus?
Quem o afirma seria irracional. Muitas grandes mentes o afirmaram e não estavam
destituídas da razão.
Mas a grande questão é
entre FÉ e RAZÃO (fides e ratio), que no raciocínio
dos ateístas se contrapõem.
Todavia, para Boécio
entre fides e ratio, há uma relação análoga à
relação existente entre intellegentia e ratio, com uma só diferença: intellegentia exprime a forma
superior de conhecimento de Deus, ex parte Dei, enquanto fides exprime o auto transcender-se da razão, da parte do homem, ex
parte hominis. Os elementos da analogia parecem
apresentar-se como segue: tanto a fides como a intellegentia têm uma superioridade com respeito
a ratio, enquanto põem
o homem em contato com um nível mais alto de conhecimento, dando, no entanto, a
essa superioridade, não um caráter exclusivo, mas inclusivo do nível ‘‘inferior’’,
que é o da ratio,
permitindo dizer que, para Boécio, a fides, assim
como a intellegentia não
são contra a razão, mas uma forma de conhecimento “superior” a ela, porque a
transcendem.
Nessa linha de raciocínio
- não há ruptura entre inteligência (razão) e fé, pois a fé
será um ato da própria inteligência quando esta adere a um novo horizonte.
Porém, diante da onda
da nova patologia linguística (novilinguística) - é conveniente socorrer-se do AURÉLIO:
RAZÃO – do latim ratione – faculdade que tem o
ser humano de avaliar, julgar, ponderar idéias universais; raciocínio, juízo.
INTELIGÊNCIA – do latim
intelligentia –
faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção, apreensão,
intelecto, intelectualidade.
CRENÇA – do latim
medieval – credentia.
Ato ou efeito de crer; fé religiosa; aquilo que se crê, que é objeto de crença;
convicção íntima; opinião adotada com fé e convicção: crenças políticas.
Filos. Forma de assentimento que é objetivamente insuficiente, embora
subjetivamente se imponha com grande evidência. (AURÉLIO).
- CRENÇA - é algo que
se acredita, mas não sabe se realmente é o que constatou, não viu, não
experimentou. Por exemplo: o plano espiritual, o Cósmico, Deus... As crenças
são dirigidas pelo medo. Muitos gostariam de acreditar que são imortais, mas uma
crença é apenas uma crença, algo que a experiência pessoal não comprovou,
ou seja, não sabe. Aquele que apenas ‘acredita’, que deseja
ser libertado, ser salvo, precisa de um salvador; está
sempre a procura de um messias. Mas ninguém pode salvá-lo a não ser ele
mesmo. O Salvador está dentro dele, e é preciso apenas descobri-lo. Os
ateístas por acaso não crêem também? Nem em suas próprias visões?
FÉ – do latim fide – crença religiosa;
conjunto de dogmas e doutrinas que constituem um culto: a fé muçulmana,
a fé católica. Rel. a primeira virtude teologal: adesão e anuência
pessoal a Deus, seus desígnios e manifestações.
O fato é que a verdade está
dentro da própria pessoa; a fé vem de fora. Os que têm fé são
os seguidores. Ela é dirigida para a ideologia de outra pessoa. Antes de sair à
procura de algo, já terá recebido uma fé ‘terceirizada’, e dirão
que isso já é o bastante. É preciso confiança em nós mesmos. Qualquer coisa que
venha de fora não ajudará. Não se preocupe em que você acredita, com suas
crenças, busque sua própria verdade e ela lhe dará uma profunda
confiança. E aí – qual é a fé dos ateístas?
Título e Texto (e Grifos): Rivadávia Rosa, 12-1-2015
Minha fé fede...
ResponderExcluirVeja como é fácil errar no tempo.
São Tomás de Aquino disse, em sua época que nem Deus poderia fazer um triângulo, cuja soma dos ângulos fossem menor que 180 graus.
"Bolyai e Lobachevsky foram capazes de conseguir esta tarefa (numa superfície curva) no século X e IX, e não eram nem deuses aproximados.”
Ideologias são absurdas metástases das mente idiotas.
Nessas condições a religião procurou através dos tempos esconder todas as descobertas científicas que ela pode.
Emoções, desejos, intuições e sentimentos são relativos aos 5 sentidos humanos.
Quem não possui 3 sentidos orgânicos, não ama, não tem desejos, não tem fé, nem amor, ele vegeta.
O tal de AQUINO jamais poderá contradizer Karl Sagan.