sábado, 31 de janeiro de 2015

Sair do euro

Luís Naves
Não é preciso muito esforço para compreender que o novo governo de Alexis Tsipras pretende levar a Grécia a abandonar a zona euro, não hesitando em fazer exigências que os europeus não podem cumprir. Esqueçam as declarações piedosas, em política o que interessa é o que se faz.

Na primeira semana de actividade foram tomadas decisões que já impossibilitam o cumprimento das metas acordadas com os credores. A Grécia recusa-se a negociar com a troika, ameaça torpedear as sanções europeias à Rússia e, cereja em cima do bolo, aprovou um salário mínimo que torna impossível a assinatura de empréstimos europeus por vários países onde os salários médios são muito inferiores. As pessoas já se esqueceram, mas um governo eslovaco foi derrubado num resgate anterior à Grécia.

O problema do Syriza é que três em cada quatro eleitores dizem estar contra a saída da zona euro. A culpa tem de ser atribuída com clareza aos europeus, incluindo os do Sul, que recusam a ideia peregrina de serem arrastados para uma renegociação quimérica da dívida, algo que nem os gregos querem fazer. Do ponto de vista de Atenas, o novo dracma sofreria uma brutal desvalorização e a Grécia iria nacionalizar a banca ou, no mínimo, controlar a saída de capitais.

Convém não esquecer que este governo é liderado por um partido radical de esquerda, que assim poderia aplicar um programa de nacionalizações e de expansão da despesa. O parceiro de coligação não foi escolhido ao acaso, mas por ser o único que poderia concordar com uma estratégia anti-euro. Em relação aos europeus, a situação não é tão clara, mas há vários países que provavelmente não se importam com a saída, haverá até quem deseje esse resultado, de preferência depressa.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 30-1-2015


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