segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A crise de Hollywood

Luís Naves

Foto: Christopher Polk/Getty Images
Não vi nenhum dos filmes candidatos aos óscares deste ano e a cerimónia interessa-me pouco, mas observando a lista de vencedores de melhor filme é de temer que este ano se verifique a continuidade de colheitas medíocres que contrastam violentamente com as prodigiosas décadas do cinema clássico. O prémio de melhor filme foi muitas vezes controverso e há casos de injustiças que ainda hoje nos deixam perplexos, sobretudo no final da década de 70. O exemplo mais gritante foi em 1979, quando Apocalipse Now perdeu para uma coisa chamada Kramer versus Kramer, mas também nos deixa KO o exemplo de Taxi Driver perder para Rocky, em 1976. De resto, será difícil repetir anos como 1941, em que Citizen Kane perdeu para O Vale era Verde, mas a escolha era impossível.

É interessante verificar que ao longo da história deste prémio houve um ritmo regular, com um terço de vencedores de grande qualidade e um terço de erros de casting. Em cada década surgia uma grande injustiça e pelo menos ganhava uma obra-prima indiscutível. A Oeste Nada de Novo (1930), o já referido O Vale Era Verde (1941),Casablanca (1943), Lawrence da Arábia (1962), O Padrinho (1972) são os cinco grandes. Depois disto, há vários filmes muito bons na lista, mas já não se encontram as grandes obras. Em 2001, ocorreu uma injustiça difícil de compreender, com a derrota de O Senhor dos Anéis. Já neste século, a lista dos óscares é um perfeito deserto.

Hollywood atravessa uma crise profunda, isso é evidente. Qualquer um dos três últimos vencedores de melhor filme estrangeiro (Uma Separação, de Ashgar Farhadi; Amour, de Michael Hanecke; A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino) mete num chinelo qualquer dos dez últimos vencedores de melhor filme. Tirando o sofrível Argo, precisamos de recuar a 2007 ou 2004 para encontrar um filme de certa qualidade. Na realidade, é preciso recuar a 1992 para um vencedor candidato a obra-prima,Imperdoável. Para mim, não conta a compensação tardia do terceiro Senhor dos Anéis, por isso são vinte anos sem um grande filme, sendo esta, de longe, a pior fase do cinema americano. A indústria, com a sua riqueza e aparato técnico, parece incapaz de imitar os anos gloriosos, como 1939 e 1940, quando O Grande Ditador perdeu para um dos filmes medianos de Hitchcock, Rebeca, e Tudo o Vento Levou bateu O Feiticeiro de Oz
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 22-2-2015

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