segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Comunicação política na era eletrônica

Cesar Maia
               
1. Na reunião com seus ministros, na semana passada, a presidenta Dilma conclamou a todos dar a máxima atenção à comunicação. Seu alvo era a imprensa, permanentemente acusada pelo PT e seu governo de discriminá-los. No Brasil, a imprensa faz como o faz também nos países mais ricos. Aqui, até de forma mais suave. Quem duvidar passe um período de férias em Londres.

2. A comunicação política mudou muito na era eletrônica. Ocorre em tempo real e exige ao mesmo tempo velocidade e extremo cuidado para não expelir bobagens pelo smartphone, que serão manchetes no dia seguinte. A importância da comunicação cresceu de tal forma que todas as funções de governo estão associadas. Ministro de Economia/Comunicação. Ministro de Transportes/Comunicação. Presidente da República/Comunicação. Etc.
               
3. O ministro de comunicação propriamente tem hoje uma função adicional: preparar os ministros e primeiro escalão do governo para saberem agir como responsáveis simultâneos por suas funções e pela comunicação de suas funções. O celular deve ser usado com extrema cautela, pois a conversa discretamente gravada desmoraliza desmentidos. Palavra a palavra.
               
4. Lembrem sempre a primeira aula de jornalismo: Cachorro morder uma mulher não é notícia. Notícia é a mulher morder o cachorro. Atrás disso andam os repórteres com olhos e orelhas vivos, smartphones às vezes ocultos.
               
5. A comunicação eletrônica gera certo conforto para os políticos. As respostas saem editadas e permitem pesquisa e avaliação antes de serem digitadas. Mas, ao mesmo tempo, gera riscos: a resposta está registrada e a exigência de rapidez própria da comunicação nos dias de hoje, muitas vezes não permite a reflexão desejada. Lembrem um princípio da gestão do tempo. Sempre que alguém lhe telefona ou envia um e-mail, quem está gerenciando o seu tempo não é você. Cuidado com a vaidade por estar sendo contatado por um repórter. Não se sinta importante.

6. O governo Dilma, em seu início, fez um treinamento do segundo escalão em mídias sociais com empresas especializadas contratadas. Uma boa medida sobre o aspecto técnico. Mas não resolve o problema básico: o conteúdo reativo e rápido. O segundo e terceiro escalões envaidecem quando a informação que prestaram saem como “fonte reservada ou oculta”.
              
7. Anos atrás isso exigia almoços e jantares discretos. Agora basta um só contato físico e a partir daí eletrônico. É um jogo estratégico. Tudo muito simples e muito complexo ao mesmo tempo.
              
8. Há um princípio básico dos comunicadores políticos clássicos do século 20: “Não há um bom governo sem uma boa propaganda. Mas não há uma boa propaganda sem um bom governo.” Esse é o dilema de Dilma, agora que o “rei está nu”. E não só dela.
Título e Texto: Cesar Maia, 2-2-2015 
Grifos: JP

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