Cesar Maia
1. Na reunião com seus ministros, na semana passada, a presidenta
Dilma conclamou a todos dar a máxima atenção à comunicação. Seu alvo era a
imprensa, permanentemente acusada pelo PT e seu governo de discriminá-los. No
Brasil, a imprensa faz como o faz também nos países mais ricos. Aqui, até de forma mais suave. Quem
duvidar passe um período de férias em Londres.
2. A comunicação política mudou muito na era eletrônica. Ocorre em
tempo real e exige ao mesmo tempo velocidade e extremo cuidado para não expelir
bobagens pelo smartphone, que serão manchetes no dia seguinte. A importância da
comunicação cresceu de tal forma que todas as funções de governo estão
associadas. Ministro de Economia/Comunicação. Ministro de
Transportes/Comunicação. Presidente da República/Comunicação. Etc.
3. O ministro de comunicação propriamente tem hoje uma função
adicional: preparar os ministros e primeiro escalão do governo para saberem
agir como responsáveis simultâneos por suas funções e pela comunicação de suas
funções. O celular deve ser usado com extrema cautela, pois a conversa
discretamente gravada desmoraliza desmentidos. Palavra a palavra.
4. Lembrem sempre a primeira aula de jornalismo: Cachorro morder
uma mulher não é notícia. Notícia é a mulher morder o cachorro. Atrás disso
andam os repórteres com olhos e orelhas vivos, smartphones às vezes ocultos.
5. A comunicação eletrônica gera certo conforto para os políticos.
As respostas saem editadas e permitem pesquisa e avaliação antes de serem
digitadas. Mas, ao mesmo tempo, gera riscos: a resposta está registrada e a
exigência de rapidez própria da comunicação nos dias de hoje, muitas vezes não
permite a reflexão desejada. Lembrem um princípio da gestão do tempo. Sempre
que alguém lhe telefona ou envia um e-mail, quem está gerenciando o seu tempo
não é você. Cuidado com a vaidade por estar sendo contatado por um repórter.
Não se sinta importante.
6. O governo Dilma, em seu início, fez um treinamento do segundo
escalão em mídias sociais com empresas especializadas contratadas. Uma boa
medida sobre o aspecto técnico. Mas não resolve o problema básico: o conteúdo
reativo e rápido. O segundo e terceiro escalões envaidecem quando a informação
que prestaram saem como “fonte reservada ou oculta”.
7. Anos atrás isso exigia almoços e jantares discretos. Agora basta
um só contato físico e a partir daí eletrônico. É um jogo estratégico. Tudo
muito simples e muito complexo ao mesmo tempo.
8. Há um princípio básico dos comunicadores políticos clássicos do
século 20: “Não há um bom governo sem
uma boa propaganda. Mas não há uma boa propaganda sem um bom governo.” Esse
é o dilema de Dilma, agora que o “rei está nu”. E não só dela.
Título e Texto: Cesar Maia, 2-2-2015
Grifos: JP
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