Bernardo Ferrão
Lembram-se quando António
Costa dizia que António José Seguro só divergia do PSD e do Governo de Passos
Coelho na "dose e no ritmo" da austeridade?
Pois bem, o que percebemos
agora é que para António Costa a "dose" e o "ritmo"
impostos pelo Governo não só permitiram "enfrentar" como
"vencer" a crise. É essa a conclusão a que se chega depois de o ouvir
nas comemorações do ano novo chinês:
"Como nós dizemos em
Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil
para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições
para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses, os
investidores disseram presente, vieram e deram um grande contributo para que Portugal
pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que
estava há 4 anos. E queria agradecer à China todo o apoio que nos deu e que
certamente não esqueceremos e que é um sinal do muito que ainda temos para
desenvolver nas relações entre todos nós" (fim de citação).
O PS argumenta que há ocasiões
e ocasiões para fazer oposição. Que aquele não era o cenário, frente a uma
plateia de estrangeiros, para criticar.
Estranho, no fim de semana
passado, António Costa esteve em Espanha (também frente a estrangeiros) e não
poupou nos ataques. E dias antes tinha estado em Bruxelas onde fez o
mesmo.
No discurso do socialista
(cujo vídeo foi habilmente colocado nas redes pelo centrista Nuno Melo) os
chineses não só fizeram muito por nós, como até merecem um inesquecível
agradecimento. Quer isto dizer que com Costa em São Bento haverá mais chineses
em novas privatizações? A sua estratégia também será a de vender as empresas
nacionais?
Nas palavras de António Costa,
Portugal está melhor do que há quatro anos. Mas afinal em que ficamos? No país
que venceu a crise como agora declara, ou nas críticas à governação da troika
de Passos e Portas?
Naquele palco, frente aos
chineses, quem falava era António Costa, mas sentindo-se já primeiro-ministro.
Vestiu o fato para pedir aos homens do capital que não se esqueçam dele quando
chegar ao poder.
Só que o problema é mesmo
esse: a chegada ao poder. No PS já se fala em desilusão, e de facto o que Costa tem mostrado é que não
só não tem conseguido distanciar-se de Seguro, como a política que propõe não
será, nem pode ser, muito diferente da seguida pelo atual Governo. O caminho é
demasiado estreito. E há uma imensa dívida para pagar.
Se fecharem os olhos e ouvirem
a declaração, não encontrarão grandes diferenças em relação aos discursos que
Passos e Portas andam há meses a repetir. Só faltou mesmo dizer que Portugal
não é a Grécia. Mas Costa chegará lá.
Título e Texto: Bernardo Ferrão, Expresso,
26-2-2015
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