Ou: As paredes do Palácio do Planalto têm bocas e ouvidos
Reinaldo Azevedo
O ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, concedeu nesta quinta uma entrevista em que se mostrou
indignado. Ele respondia à acusação do senador Aécio Neves (MG), presidente do
PSDB, segundo quem o governo havia se mobilizado para incluir da “Lista de Janot”
nomes de figurões da oposição. De acordo com apuração da VEJA, o ministro disse
a Sérgio Renault, advogado da UTC, que a oposição também seria engolfada pelo
escândalo. Mas volto.
Cardozo estava, escrevi,
indignado. Ele é bom nisso, admito. Ao ouvi-lo falar, somos um tantinho — só um
pouquinho — tentados a esquecer o que sabemos. Mas aí as coisas começam a
se enfileirar na memória: a carga contra a Polícia de São Paulo quando houve um
recrudescimento da violência no Estado; a sua atuação espantosa nos protestos
de junho de 2013; seu protagonismo não menos estupefaciente no caso do cartel
de trens e do Cade; a atuação desabrida durante a campanha eleitoral de 2014 e,
por esses dias, a sua saliência na reta final do petrolão… A vontade de
acreditar só um pouquinho em Cardozo passa logo.
Não com estas palavras, mas
com este sentido, o ministro negou que tenha tido alguma influência na lista
elaborada por Rodrigo Janot — aquela que só tem pedidos de abertura de
inquérito e nenhuma denúncia. Os dois vinham se falando com frequência,
conforme revelei neste blog no dia 22. Aí ficamos sabendo
que mantiveram um encontro fora da agenda. Teria servido para o ministro da
Justiça alertar o procurador-geral para a elevação dos riscos à sua segurança.
A PF não fez tal alerta. Quem terá sido?
Bem, Cardozo nega
interferência na lista. Janot não se pronunciou especificamente sobre o
assunto, mas, em nota, sugere que coisas assim não passam de uma espécie de
conspiração contra o Ministério Público. Se só os dois participaram das
conversas e se ambos negam que a lista tenha sido o tema do bate-papo, a gente
não tem como provar o contrário, não é mesmo?
Mas a gente pode informar o
que apura. Lá vai uma: parlamentares da situação que transitaram pelo Palácio
do Planalto e cercanias políticas receberam a garantia de que a oposição iria
mesmo se entubar. E, no caso, “oposição” tinha nome e sobrenome: Aécio Neves. A
inclusão do presidente do PSDB na tal lista passou a ser considerada
“essencial” pelos poderosos de turno. Aécio reagiu com dureza e indignação
porque sabia disso, daí ter acusado a interferência do Planalto, o que levou
Cardozo a conceder a entrevista desta quinta.
E não! Não é o senador mineiro
a minha fonte. Não falo com ele desde a entrevista que concedeu à Jovem Pan quando
ainda candidato. Quem é? Não digo! Leiam o que andei afirmando até agora e
cotejem com os fatos. Se o saldo for bom… Aécio sabe que seu nome estava na tal
lista até terça-feira à tarde. Só então passou para o grupo dos que não têm de
ser investigados. Por que a mudança?
Eis uma parte da história que
ainda tem de ser apurada no detalhe. Mas há ao menos uma razão óbvia: o que
havia “contra” o senador era de tal sorte inconsistente que a inclusão acabaria
desmoralizando o conjunto. A reputação do próprio Ministério Público ameaçava
ser engolida pelo escândalo que este investigava. E, sim!, houve falas muito
duras entre os que… falaram duro nesse caso. O nome de Aécio mudou de grupo,
mas a indignação do seandor permaneceu.
Ele emitiu uma nota com uma
tréplica a Cardozo. Lá se pode ler: “(…) a imprensa tem noticiado as
controversas e questionáveis movimentações do ministro da Justiça nos últimos
meses. Elas mostram que o senhor Cardozo tem se comportado cada vez mais como
militante partidário e como advogado de defesa do PT do que como ministro da
Justiça”.
Vou um pouco mais longe.
Cardozo se comporta como chefe de facção.
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