domingo, 1 de março de 2015

Ceticismo político em uma casca de noz

Luciano Henrique
Todo questionamento humano é uma ação. Ainda que às vezes ocorra apenas no nível do pensamento (sem externalização), mesmo assim células cerebrais precisam se mover. Toda ação é limitada em questão de recursos. Logo, não podemos fazer todas as ações. Da mesma forma, não podemos fazer todos os questionamentos.

 Imagem daqui
O ceticismo tradicional fala do questionamento às nossas próprias ideias. Ok, muito bonito. Gosto disso. O ceticismo científico, especialmente nas versões mais populares (vide Carl Sagan e James Randi) diz que todas as nossas ideias devem ser questionadas pelo método científico. Aí a coisa já fica ridícula. Como já vimos, não dá para questionar tudo, pois o esforço humano é limitado em recursos.

Por esta lógica inquestionável, podemos questionar determinadas coisas, mas não todas. Porém, estes supostos aplicadores de ceticismo “científico” optaram por questionar coisas com leitura na borra do café e  homeopatia. Ótimo. Isso deve ser questionado também. Mas questionar só este tipo de eventos do mundo é um equívoco de priorização.

Uma era que difundiu este modelo de ceticismo não fez nada para nos livrar de crenças políticas que mataram 100 milhões de pessoas no século XX. Por quê? Confusos sobre o que devíamos questionar, criamos gerações de pessoas que sabem questionar sua tia que lê o terço, mas ficam prostradas diante de alguém prometendo “resolver as contingências humanas”, “criar a sociedade sem classes”, “representar os pobres”, “ter o fim da história em mãos” ou mesmo “falar em nome da ciência”.

Esta é a regra esquecida pelos autores céticos: o ceticismo, por ser uma ação humana, é um empreendimento que deve operar em termos de priorização. Logo, devemos priorizar determinados tipos de alegação para questionamento. Critérios para priorização incluem a presença de elementos como danos causados a nós, irracionalidade e vulnerabilidade das crenças alheias.

Se a política é a ação humana para resolução de conflitos de interesses pela via social, e se uma alegação política é toda aquela que, se aceita, gera benefícios a um indivíduo ou grupo em detrimento de outro indivíduo ou grupo, precisamos revisar a forma como vemos o ceticismo, e complementar tanto o ceticismo tradicional como o ceticismo científico com uma forma adicional de ceticismo: o ceticismo político.

O ceticismo político simplesmente é o questionamento prioritário às alegações política. Logo, ele deve ser executado a partir de um oponente de uma ideia, não por seu proponente. Por isto, este paradigma impõe a responsabilidade nos oponentes políticos de uma ideia por suas consequências.

O que isto significa na prática? Significa várias coisas, mas uma das mais gritantes é que temos que questionar, desmascarar e ridicularizar ideias políticas de nossos oponentes. Desde que sejam inválidas, evidentemente. Mas falo de todas as alegações políticas relevantes, inclusive no nível da mera rotulagem.

Na prática, isto nos faria agir como “Carl Sagans” ou “James Randis”, com  o mesmo nível de exigência e busca por detalhes, mas diante de esquerdistas. Não preciso de nem alguns minutos vendo esquerdistas falando para encontrar várias alegações políticas inválidas, como por exemplo:
·         “defendo os pobres, e você, os ricos”
·         “estou do lado dos oprimidos, e você, dos opressores”
·         “um dia a sociedade sem classes será possível”
·         “você é fascista”
·         “a culpa do atentado ao Charlie Hebdo é de reacionários”
·         “nazismo é de direita, ou melhor, de extrema direita”

E assim vai, interminavelmente, em uma sucessão inacreditável de embustes intelectuais. Eles surgem em tal quantidade que muitos esquecem-se de várias dessas alegações, que vão sendo implantadas no senso comum da patuleia. Ocorre que muitos são treinados para uma argumentação aristotélica. Aquela na qual se busca o foco no “argumento central”, e o resto dos componentes retóricos é ignorado. Na política, a tradução para isto tem um nome só: suicídio.

Mas se treinarmos nossa mente para nos acostumar com a ideia de que é nossa obrigação priorizarmos a destruição das falsas alegações políticas do nosso oponente, podemos ter sempre um sensor não nos deixando esquecer que sempre que uma alegação política (especialmente se for inválida) deve ser tratada e neutralizada. E é nossa responsabilidade fazer isso.

E o que tem os métodos da guerra política a ver com isso? Ora, se você está desmascarando as alegações políticas de seu oponente (e implantando nas pessoas as suas alegações que, espero, sejam mais próximas da verdade), um dos métodos mais eficientes para fazê-lo é por abraçar a guerra política, jogando sob suas regras.

Me perguntaram: “Luciano, muito bonito o ceticismo político, mas e se a esquerda usá-lo, especialmente junto com o método da guerra política?”. Isso não é nem um pouco preocupante. Primeiro porque eles já jogam a guerra política, e nós não. Ou seja, a difusão da guerra política só tem a nos ajudar. Segundo porque eles fazem muito mais alegações inválidas do que nós. Logo, o ceticismo político vai beneficiar os que menos fizerem alegações estapafúrdias. Mas questionar não adianta nada se você não estiver pronto para jogar de acordo com as regras da guerra política.
Eis aqui, em uma casca de noz, o que é o ceticismo político. 
Título e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 1-3-2015

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