Cesar Maia
1. Esse Ex-Blog – por inúmeras vezes – e apoiado em diversos
autores e especialistas, tem repetido à exaustão, que as Redes Sociais são
horizontais, desverticalizadas, impessoais e impulsionadas pela decisão de
indivíduos. Mas a cada grande mobilização que alcança as ruas surgem siglas e
líderes que se atribuem o sucesso, a organização e a direção dos movimentos. E
setores da imprensa e vários políticos acreditam nisso e convidam para reuniões
e entrevistas.
2. Ilusão de todos. Isso não tira a importância daqueles que criam
siglas e através delas fazem a divulgação. Mas não são nem organizadores nem
líderes. São distribuidores de informação sobre eventos como divulgadores. Esse
Ex-Blog tem insistido que as manifestações de rua – real e física – por maiores
que sejam, são muito menores que as redes – ruas virtuais – onde todos os dias
há manifestações, opiniões, multiplicação de textos e vídeos, com ou sem efeito
virótico.
3. Hoje há institutos e empresas especializadas em identificar a
temperatura das redes sociais. Na semana anterior à última manifestação de 12
de abril, estas afirmaram que a temperatura das redes virtuais estava bem menos
aquecida e que provavelmente as ruas virtuais iriam para as ruas reais, em
menor proporção, como, aliás, ocorreu.
4. Em 2013 as siglas e líderes tinham outros nomes, agora em 2015,
surgem outras, todas na verdade tiveram o mérito de sentir a pulsação das redes
virtuais – horizontais, desverticalizadas, individuais, impessoais, anônimas – e
impulsionar nas redes a informação sobre uma concentração nas ruas e sentir o
retorno, para em seguida divulgar. São efeito, e não causa. São as folhas
caindo e não a ventania.
5. Mas mesmo essa divulgação primária é mínima. São as redes
virtuais que vão multiplicando ou não a agenda. De junho de 2013 para 2015,
algumas pegaram e tiveram um efeito virótico. Outras ficaram nas ruas virtuais
e não saíram às ruas reais.
6. Se os institutos e empresas especializadas em medir a
temperatura das redes sociais, em vez de prestadores de serviço, se sentissem
como estimuladores de manifestações teriam muito maior impacto que movimentos e
líderes eventuais.
7. Como as redes sociais – horizontais – são heterogêneas em seus
perfis, a imprensa, os analistas e os políticos, não conseguem identificar qual
a reivindicação principal dos protestos. Pesquisas realizadas com os
manifestantes mostram isso. Nenhum tema alcança sequer 30% das respostas e em
geral esses 30% repetem o que o noticiário concentra. Mas na verdade é muito
mais uma reação – de Indignação – difusa ampliada num momento de crise. Ou
seja, as reivindicações são pulverizadas, individuais e agregadas.
8. Que os líderes e siglas entendam a sua verdadeira importância e
dimensão, e não se pensem responsáveis além de noticiadores, divulgadores, o
que, aliás, não tira importância dos que conseguem maior luminosidade pela
imprensa. Mas devem entender que são milhões de “siglas e líderes” individuais.
Entendendo isso, e baixando a bola, produzirão maior sustentabilidade ao que se
propõe. E maior reconhecimento das redes.
Título e Texto: Cesar Maia, 24-4-2015
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