Pedro Cosme Vieira
E não matei cinco peregrinos… que seria se o tivesse
feito?!
O Pedro Reininho fez-me uma
entrevista por e-mail com oito perguntas que, na compreensível necessidade de
vender papel, transformou numa capa sensacionalista.
A vida está difícil e eu, para
ter os meus quinze minutos e fama, já sabia que me teria que sujeitar a isto.
Publico agora o que eu lhe
disse para os estudiosos da comunicação social poderem comparar a fonte com a
peça jornalística (ver A história do professor mais odiado de Portugal).
(Só corrigi os erros
ortográficos que seriam uns dez, o que é pouco para o meu historial)
1. Esperava a reacção que
causou a mera menção ao seu nome, por parte do deputado Duarte Marques? Como
interpreta aquele artigo de Francisco Louçã, em que recupera algumas das
considerações que o senhor tem publicado no seu blogue?
Como nota prévia, não conheço
o deputado Duarte Marques nem ele me conhece e muito menos somos amigos.
O artigo do Louçã não me
surpreendeu em nada e já o esperava há muito porque cada vez mais as batalhas
políticas travam-se nos blogues. Mostrando eu no meu blogue, com números e factos,
que o denominado "outro caminho" anunciado pelos pensadores de
esquerda é um embuste, uma história para adormecer criancinhas, sem qualquer
viabilidade prática, não lhes sobraria mais do atacar o meu carácter. Pensaram
que a palavra "pretalhada" seria a sua oportunidade.
2. A verdade é que, nesses
artigos que tem vindo a publicar, emprega termos fortes
("pretalhada", "alienígenas", etc.) para referir-se às
pessoas que têm tentado atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa. Até que
ponto se trata de uma mera estratégia "comercial", um meio para
conseguir mais "público" para os seus artigos?
Não interessa chamar a um
pobre "Ex.mo Sr. Pobre e Desgraçado" para, depois, o mandar embora
sem esmola.
Essas minhas palavras são um
grito de indignação. Agora que foram notadas, queria que o Louçã apresentasse
uma solução minimamente credível para o problema das centenas de milhões de
pessoas que, desde Moçambique ao Bangladesh passando pela Guiné-Bissau, levam
vidas de extrema miséria. Não queria o discurso de que "a culpa é do
grande capital" mas antes que fossem aos calhamaços de Economia estudar
soluções práticas.
Em certa medida, as palavras
são uma estratégia comunicacional, uma forma de gritar no meio da multidão dos
blogs.
3. O mesmo se pode dizer das
teorias que apresenta para resolver o problema da SIDA, ou para o equilíbrio da
Segurança Social. É um inconformado? Um irreverente? Como se define?
Quando falei do abate
sanitário como política para acabar com a SIDA também referi que essa política
não só não resolveria o problema como ainda o agravaria. O seu uso pelo Louçã
só prova a minha tese de que o pretendido não era discutir o problema da SIDA
mas lançar uma cortina de fumo sobre as incoerências do actual discurso da
esquerda.
Eu sou, enquanto figura
pública, uma criação do espaço público, livre e não moderado que os blogs
materializam. É neste espaço que luto todos os dias para ser livre. Poderia
escrever sobe anonimato como fazem, por exemplo, no Irão mas isso seria
reconhecer de que não vivemos numa sociedade de livre pensamento. Seria
tornar-me prisioneiro das pessoas que se acham as únicas com direito a pensar
sobre a miséria que aflige o Mundo (mas que não pensam).
4. Essa forma discursiva
tem um preço: as adjectivações mais variadas de que é alvo. Incomodam-no?
Não me incomodam nada porque,
de facto, essas adjectivações não são sobre mim enquanto pessoa mas apenas
enquanto personagem de um mundo virtual. Quando eu vou à farmácia, ao
supermercado, ao café, ou caminhar à beira mar, nesses mundos não existe qualquer
ligação com a minha personagem enquanto bloggista.
Cada vez mais as pessoas são
multipolares, os momentos em que sou judoca, professor, bloggista, amante da
natureza, etc. não se interceptam. Por exemplo, na aldeia onde vivi desde que
me lembro até ir estudar para a universidade não sabem que eu sou professor
universitário, pensam que eu não tenho emprego e que vivo à custa da reforma da
minha mãe.
5. Licenciou-se em
Engenharia de Minas (em 1988, se não estou em erro). Porquê esta área?
Quando eu, em 1983, me
candidatei à Universidade escolhi Minas porque gostava das coisas da natureza e
não precisava pensar na sua aplicação profissional porque os meus pais, tendo 6
filhos, não tinham recursos mínimos para que eu pudesse frequentar a
universidade. Tive sorte de a minha mãe ter lutado para que eu tivesse uma
bolsa de estudo. Eu, enquanto licenciado, sou um filho do Estado Social.
6. É filiado nalgum
partido?
Não. Em termos políticos
defino-me como um liberal e já votei no CDS, no PSD e no PS.
7. É o mais velho de três
irmãos. Que importância tem a família? Tem filhos?
Pedro, eu talvez cortasse esta
pergunta porque não terá interesse.
Tenho cinco irmãos e não
tenho filhos porque os homens não podem ter filhos.
8. Porquê essa ausência de
relação com telemóveis?
Telefonar, receber telefonemas
ou cartas e falar com pessoas causa-me mal-estar.
Deve ser uma doença qualquer.
Um abraço,
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