segunda-feira, 18 de maio de 2015

As palavras contam

Helena Matos
[…]
“António Arnaut afirmou, este sábado, que há “uma direita reacionária” no poder em Portugal, “presidida por um neoliberal assanhado”, que não tem sensibilidade e “está contra o Serviço Nacional de Saúde”.

Primeiro eram os fascistas, mais os reaccionários e os contra-revolucionários que invarivelmente sofriam de marialvismo e colonialismo. Estas criaturas faziam intentonas patrocinadas pelos capitalistas, os lacaios do imperialismo e os cães de fila dos americanos. Os burgueses, os parasitas e os salazaristas também financiavam os fascistas e os reaccionários nos seus obscuros propósitos.

Desaparecidos estes nefandos seres (ou parte deles) não ficámos muito mais aliviados pois passámos a estar rodeados por novos espectros: os provincianos, os atávicos, os saudosistas, os defensores do lobby disto e daquilo, os feitos com o capital, com o grande capital e com o capital internacional. Os amigos dos privados, os dependentes dos mercados… A este grupo juntaram-se depois os parolos, os pirosos, os atrasados, os sexistas, os racistas, os homofóbicos, os machistas, os xenófobos, os intolerantes e os ultramontanos.

Depois vieram os liberais, os neo-liberais, os servidores dos alemães, os conservadores e os ultra-conservadores. Os salazaristas tornaram-se salazarentos. E agora estamos nos liberais assanhados. Para a semana há mais.

Todas estas entidades, que em boa verdade são sempre uma variação sobre o mesmo aleijão básico – não ser de esquerda – querem sempre o mesmo: fazer negócios ou negociatas, vender o país umas vezes ao desbarato outras por melhor preço, dar cabo da vida dos pobres, favorecer os ricos, ajudar o capital (agora va versão angolana e chinesa) e privatizar as empresas que são nossas.

Atacar as minorias, asfixiar o Estado Social, destruir o SNS e matar os portugueses à fome são os objectivos mais recentes deste grupo que começou por querer destruir a revolução à força de intentonas, golpes e movimentações e agora, simplesmente para agradar aos alemães, resolve governar com austeridade. É certo e sabido que a austeridade é a consequência da teimosia e da subserviência que estas pessoas sem sensibilidade social manifestam perante a Alemanha. Quisessem elas e não havia austeridade. Éramos todos ricos e pronto.
 
Com variantes esta é a história das ideias da nossa democracia contada ao povo, às crianças e aos adultos e repetida pelos jornalistas. Pode parecer uma patetice – e é – mas é a nossa patetice. Todos os dias este patetismo é repetido à exaustão. E funciona.
[…] 
Título e Texto: Helena Matos, Observador, 18-5-2015

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