Valdemar Habitzreuter
Nós, seres humanos racionais,
estamos, constantemente, à procura do nosso bem-estar físico e mental – a
felicidade. Sempre desejamos o que é bom. E isso é um desejo natural. Quem não
gosta de ter uma vida agradável, boa e feliz? Buscar o prazer e evitar a dor é
inerente a nós. Aliás, qualquer animal procura fugir de perigos que podem lhe
causar dor, sente que sua vida é melhor sem dor.
Resta saber se nós nos
aplicamos de modo correto na busca do bem-estar físico e mental. Não é intento
meu de apregoar aqui qualquer tipo de moralismo, apenas discorrer sobre as
nuances do prazer e da felicidade que devem estar na base do bem viver. E
pauto-me, embora superficialmente, na filosofia de Epicuro, um filósofo da
Antiguidade, alguns séculos A.C.
Prima facie, precisamos anuir que os prazeres usualmente são por
nós mal avaliados, não avaliamos os perigos que podem se esconder por detrás
deles. E por essas más avaliações, eles, ao invés de nos proporcionarem a
genuína satisfação e alegria da vida, podem ser causas de dor e sofrimento.
Isto é, um prazer pode estar disfarçado de dor; e tchau felicidade, então.
Quem não aprecia uma apetitosa
comida, um bom vinho, uma refrescante cerveja, uma deliciosa barra de chocolate
a derreter na boca, um sexo delirante, e outros incontáveis prazeres com os
quais o corpo se deleita? São prazeres bem-vindos, sem dúvida, mas sabemos
fazer o correto julgamento do que serve ao corpo como autêntico prazer, no
sentido de proporcionar-lhe o bem-estar e acima de tudo a saúde? Sabemos aplicar-lhe
a dosagem correta do que ele deseja desenfreadamente?
Muitas vezes, o prazer se
deleita (perdão pelo pleonasmo) no próprio desprazer. Isto é, quando
contrariamos um desejo premente com o qual o corpo gostaria de se satisfazer
por puro prazer em si mesmo sem avaliar e medir as consequências, sentimos
momentaneamente um desconforto. No entanto, passado esse momento, sentimos o
prazer de não ter cedido a um impulso que resultaria em dor ou sofrimento
futuro.
Secunda facie, temos o lado psíquico de nossas vidas, o lado
mental. Também ele necessita de prazeres. Mas estes são diferentes dos prazeres
do corpo. Os prazeres da psyche, ou
alma, poderíamos dizer, são as qualidades emocionais que deixamos impressa
nela. Há muitas emoções revestidas de prazer, mas que na verdade são venenos
para a alma. Nutrir o sentimento de ódio e vingança, por exemplo, é um pseudo prazer
que alguém sente ao querer a derrota de outro, são emoções patológicas e não
levam à felicidade.
Em contrapartida, as emoções
oriundas, por exemplo, do cultivo da amizade; a leitura de um bom livro;
assistir a um bom filme; escutar uma boa música; ter um hobie prazeroso;
filosofar; etc, e acrescente muitos mais et caeteras de emoções
prazerosas sem conta, são genuínos prazeres da alma que a enobrece.
Não há cabimento de
refugiar-nos em metafísicas e doutrinas abstratas, na busca do bem-físico e
mental, que comumente conduzem a superstições originando medos e incertezas de
como viver bem. O que nos faz feliz é usufruir dos prazeres do corpo e da alma
nesta vida com responsabilidade e discernimento, sabendo que a dor e o
sofrimento fazem parte da vida, mas que precisamos procurar evitar na medida do
possível.
A filosofia de Epicuro atravessa séculos e
conserva-se atual. Muitas vezes ele é mal interpretado e tachado de hedonista.
Mas não é o caso. Hedonismo é outra história, tem como objetivo de vida o
prazer por puro prazer, sem refreios aos instintos e sem responsabilidade com a
saúde física e mental.
Epicuro visa a felicidade
calcada em prazeres que proporcionam uma mente e um corpo sãos - o
bem-estar físico e mental; portanto, onde se dá a correlação da mens sana in corpore sano.
Epicuro é o cara - uma rocha
filosófica... (muito a ver com o Rochinha)
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 22-5-2015
BRAVO!
ResponderExcluirBRAVÍSSIMO!
VOU ESCREVER TUDO EM MAIÚSCULAS, GRITANDO, I LOUD OUT VOICE.
EPICURO O OBSCURANTISTA.
NADA MAIS OBSCURO DO QUE ESCONDER-SE DA FELCIDADE QUE NOS CERCA MESMO COM PARCOS RECURSOS.
ACORDAR PELA MANHÃ E DAR BOM DIA PARA SI MESMO.
DELEITAR-SE COM O PÃO DORMIDO, TORRADO NA MARGARINA.
SATISFAZER-SE COM O FEIJÃO ARROZ E OVO, A COMIDA DO POVO.
AGRACIAR-SE POR TER UM COPO DE ÁGUA TÉPIDA E LIMPA.
TER UM RECANTO PARA ESTICAR AS PERNAS E DESCANSAR NOS BRAÇOS DE MORFEU.
Me aposentei em 2000, de lá para cá nunca mais usei relógio, aqui o canto do bem-te-vi me anuncia o alvorecer.
Não uso celular.
O entardecer faz o sol avermelhado bater em minha porta da frente.
Sou privilegiado por essa recompensa do Valdemar, esses são hábitos de um bom cavalheiro, ou um grande cavaleiro.